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Móveis surreais dos Campana encantam europeus

Estrelas do design brasileiro: Fernando (à esq.) e Humberto Campana. Keystone

Os paulistas Humberto e Fernando Campana são festejados na Europa como as maiores estrelas do design contemporâneo da América Latina.

Com a exposição “Anticorpos”, o Vitra Design Museum de Weil am Rhein, no triângulo Suíça-Alemanha-França, faz uma retrospectiva de 20 anos de trabalho artístico dos brasileiros.

Além de mesas, cadeiras e luminárias para fabricantes internacionais de móveis, a dupla Fernando e Humberto Campana cria sobretudo objetos domésticos individuais de materiais reciclados, “que se caracterizam por sua inusitada combinação e expressão surrealista”.

Assim o trabalho dos “principais designers da América Latina” é apresentado pelo Vitra Museum, que expõe de maio de 2009 a fevereiro de 2010 protótipos, experimentos e peças únicas, desde as primeiras esculturas até as obras interdisciplinares de hoje.

O curador da mostra, Mathias Schwartz-Clauss, conheceu os Campana em oficinas estudantis que eles realizaram na França. “Interessou-me sua forma obstinada de trabalho, e isso eu quis documentar”, explica sobre a origem da exposição.

Fernando e Humberto contam que encontram suas inspirações e seus materiais na natureza brasileira, nas ruas de São Paulo, em lojas de ferragens, prateleiras de farmácias ou de supermercados. “Como ninguém eles sabem descobrir o belo e o especial nas coisas mais simples”, afirma Schwartz-Clauss.

“O especial na arte dos Campanas é a dissolução das fronteiras entre arte, artesanato e design e a resultante fusão dos gêneros”, diz o diretor da Fundação Brasileia, Daniel Faust, que fez uma palestra sobre cultura popular brasileira como parte do programa da mostra.

Obras no MoMA

“Criatividade torna-se uma estratégia de sobrevivência. A pobreza da maioria dos brasileiros os obriga a improvisar e a usar materiais usados e baratos, presentes no cotidiano nas ruas. As ideias para os objetos dos Campana surgem da identidade cultural do Brasil e são traduzidas para a linguagem global do design”, diz Faust.

As peças criadas pelos Campana são produzidas pela fabricante italiana de móveis de luxo Edra Mazzei, em Perignano, perto de Pisa. Algumas chegam a custar R$ 3 mil e estão à venda nas lojas mais badaladas de Nova York e Milão.

No final de 1998, o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) abrigou uma exposição individual da dupla. Foi a primeira vez que o design brasileiro ocupou um espaço tão grande no MoMA. Três objetos ficaram no acervo do museu, e os Campana conquistaram o mundo.

“Antenas da sabedoria criativa”

O Vitra Design Museum encontra-se em Weil am Rhein, cidade de 28 mil habitantes perto de Basileia, no triângulo Suíça-Alemanha-França, e recebe cerca de 90 mil visitantes por ano.

A maioria dos visitantes da mostra “Anticorpos” vem da Alemanha, o segundo maior grupo é de suíços, seguidos pelos franceses. “Mas vêm também visitantes de países distantes, como Itália, Holanda ou Japão”, conta Schwartz-Clauss.

“Quem tem olhos verá que da miséria e da carência da vida da maioria dos brasileiros surgem soluções geniais, que são a expressão inequívoca de sabedoria criativa. Os irmãos Campana são as verdadeiras antenas que captam essas mensagens e aprendem a partir delas”, escreve a crítica de design Adélia Borges no catálogo da exposição.

Sucesso inesperado

Como mostra o Vitra Museum, o trabalho dos dois nada tem a ver com o design tradicional. Para muitas de suas peças não há nem desenhos técnicos. Eles são autodidatas na área. Humberto estudou Direito, Fernando é formado em Arquitetura.

Por isso, durante muito tempo, os Campana eram considerados exóticos na Europa. Mas, depois que as séries limitadas de objetos entraram mundialmente em moda, eles passaram a ser reconhecidos.

Segundo Mathias Schwartz-Clauss, quem não conhece Fernando e Humberto não tem idéia do design contemporâneo brasileiro. “Mas o estilo Campana não é típico do design brasileiro. Alguns talvez pensem na estética do estilo Oscar Niemeyer, com o qual, no máximo, se pode caracterizar uma espécie de mainstream do modernismo brasileiro”, diz à swissinfo.ch.

Mesmo depois de tantos anos no cenário mundial do design, a dupla ainda se surpreende com o sucesso. “Queríamos ser escultores. Desse ponto de vista, contaminamos o design”, diz Humberto ao jornal alemão Welt.de. “Nosso forte não é a tecnologia de ponta e sim o trabalho artesanal”, acrescenta Fernando.

Na opinião de Angeli Sachs, diretora de exposições do Museu do Design de Zurique, a mostra dos Campana dá uma visão de um “inusitado universo do design, mais próximo da confluência entre arte e design do que do design-objeto produzido em série”.

Segundo Sachs, “alguns objetos, no entanto, poderiam ser lidos em outro contexto. No todo, trata-se de uma exposição muito instigante, que abre novos mundos justamente aos visitantes europeus”, diz após uma visita à mostra.

Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch

A retrospectiva “Anticorpos” acontece de 16 de maio de 2009 a 28 de fevereiro de 2010, no Vitra Design Museum, de Weil am Rhein (Alemanha).

Estão expostas cerca de 140 peças produzidas pelos Campana de 1989 a 2009.

O ingresso para o museu: 8 euros (ou 6,50 para quem direito a desconto); crianças menores de 12 anos não pagam. O catálogo da exposição – 43,90 euros.

O Vitra Design Museum recebe cerca de 90 mil visitantes por ano, a maioria da Alemanha, Suíça e França.

• Humberto nasceu em Rio Claro (SP), em 17 de março de 1953. Fernando nasceu em Brotas, no interior de São Paulo, 19 de maio de 1961.

• Humberto estudou Direito e Fernando fez Arquitetura.

• Eles realizaram sua primeira exposição em 1989 com uma série de cadeiras de ferro e cobre, batizadas de “Desconfortáveis”.

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