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Museu em Genebra apresenta movimento punk

Sandro Sursock, sólido como pedra. Frédéric Burnand/swissinfo.ch

Le temple de l’art contemporain à Genève expose jusqu’en septembre les reliques visuelles du mouvement punk. Visite de l’expo avec Sandro Sursock, un riche aristocrate qui a imposé le punk sur la scène genevoise en 1977.

O templo de arte contemporânea em Genebra exibe até setembro relíquias visuais do movimento punk. swissinfo.ch a visita em companhia de Sandro Sursock, um rico aristocrata que impôs o punk na cena genebrina em 1977.

Estamos com sorte. Sandro Sursock não viu a Europunk, a exposição co-organizada pela Vila Médicis e o Museu de Arte Moderna e Contemporânea (MAMCO) de Genebra. Nosso encontro ocorre na “Sounds”, uma histórica loja de discos usados da cidade, antes de vivenciar o conjunto dessa apresentação visual da efêmera rebelião punk, apoteose de um “rock and roll” nascido trinta anos antes.

“É muito mais do que eu imaginava”, declara Alexandre Sursock ao ver as centenas de cartazes, folhetos, desenhos, camisetas, fanzines, colagens e capas de discos colecionadas por Eric de Chassey, diretor da Vila Médicis (Academia de França em Roma) e o genebrino Fabrice Stroun, curador do MAMCO.

Durante a exposição italiana no início do ano, Eric de Chassey declarava ao jornal francês “Le Monde”: “Hoje em dia, a verdadeira provocação não é de colocar essas obras em uma instituição, um espaço não comercial?”

Uma sugestão que não chega a convencer aquele que “impôs” com outras pessoas o movimento punk na cena musical genebrina com o grupo “The Bastards” e depois o “Zero Heroes”. “Essa exposição é uma recuperação absoluta e total. Mas é bastante emocionante de poder também mergulhar mais uma vez nessa época”, lança o sessentão.

Assim descobrimos os cartazes e folhetos da banda inglesa “Sex Pistols” (Never mind the Bollocks, Anarchy in the UK, God Save The Queen, Holidays in the Sun) concebidas pelo britânico Jamie Reid, um grafista anarquista que fixou a estética punk juntamente com as camisetas elaboradas pela estilista Vivienne Westwood e Malcom McLaren, o empresário dos Sex Pistols.

Outra sala apresenta os trabalhos do coletivo francês “Bazooka” (1974-1978), uma expressão gráfica do punk que se destacou na revista “Actuel” e no jornal francês “Libération”.

Arte revolucionária 

De fato, o interesse dessa evocação visual e silenciosa do punk é de mostrar algumas afiliações com as vanguardas artísticas do século 20 e sua vontade de acabar com as tradições estéticas e culturais das épocas precedentes.

No entanto, essas referências cultivadas não atraíam obrigatoriamente a atenção dos múltiplos grupos e fãs dessa música executada como um atentado à bomba.

“Em Genebra, por exemplo, os punks eram jovens de 15 a 18 anos, para quem a cultura não tinha um sentido além das três primeiras letras da palavra. Para esses adolescentes que se faziam chamar de Lixo, Vomitado ou Sujeita, o punk era o início de tudo. Hoje em dia, inúmeros deles morreram ou estão nos manicômios devido à sua queda nas drogas”, lembra-se Sandro Sursock, que na adolescência ainda era um apaixonado pelos sons originais do rockabilly.

“No início os punks rejeitavam o universo das drogas, que eram associadas aos hippies, ao Rolling Stones, ao Led Zeppelin, ao qual cuspíamos em cima. A cerveja, que não era cara e abundante, era o combustível dessa corrente musical antes do seu declínio ao pó”, conta aquele que encontrou energia como músico punk de abandonar o vício na cocaína.

Face ao rock inchado e pretencioso da época – o grupo “Deep Purple” acabava de dar uma perfeita ilustração no último dia do Festival de Jazz de Montreux neste ano – os grupos punks traziam um frescor e uma espontaneidade que rapidamente conquistou o planeta. 

“O punk traz de volta a formidável energia do rock and roll ao multiplicá-la e marca o fim do rock. É o último suspiro, em parte musical e estético, dessa revolta”, reforça Sandro Sursock, para quem as correntes nascidas dos escombros do punk não merecem nem ser citadas.

Política ou estética 

O movimento punk também envolve política, como testemunha o grupo inglês “The Clash”, um dos ícones da época e também exposto em alguns objetos na exposição?

“Para mim não se trata da expressão de uma revolta social, mas sim espiritual. Existia uma rejeição maciça não apenas das barreiras sociais, mas de tudo que representava a moral”, reflete nosso acompanhante, antes de ser mais preciso: “Desde os seus primórdios, o rock and roll sempre foi associado a uma forma de revolta urbana.”

De fato, o punk foi a trilha sonora das revoltas urbanas que ocorreram no Reino Unido, na Alemanha e na Suíça no fim dos anos 1970 e no início dos anos 1980. Surgido no início dos anos 1950, enquanto a sociedade de consumo se impunha no conjunto do mundo ocidental, o rock dá seu último riso devastador com o punk, enquanto que os chamados “trinta anos gloriosos”, o período de forte crescimento econômico entre 1945 e 1975 dava seus últimos suspiros e o mundo operário começa a desaparecer.

Do it yourself 

A exposição Europunk lembra uma dimensão do movimento mais atual do que nunca com a arte numérica: o espírito do “do it yourself” (faça você mesmo). A prova são os fanzines xerocados como o “Sniffin glue”, “um dos mais famosos na época e que nós podíamos encontrar em Genebra na loja do artista John Armleder”, conta Sandro Sursock antes de descobrir o fanzine “Les lolos de Lola”, da genebrina Raymonde Carlier.

Como ele se lembra, o espírito punk era de tocar sem ser músico, de produzir cartazes sem ser gráfico, de se vestir sem passar pelas butiques da moda e de produzir os discos fora das grandes gravadoras.

E isso mesmo se o movimento rapidamente caiu em um novo conformismo visual e musical.

“Europunk – a cultura visual do punk na Europa, 1976-1980” pode ser visitada até 18 de setembro de 2011.

O Museu de Arte Moderna e Contemporânea de Genebra (MAMCO) está aberto de quarta-feira à sexta-feira, de 12 às 18 horas, e sábado a domingo de 11 às 18 horas.

Endereço: 10, rue des Vieux-Grenadiers, 1205 Genebra

1. Blank Generation / Richard Hell (1977)

2. You make me cream in my jeans / Wayne County (1978)

3. Anarchy in the UK / Sex Pistols (1976)

4. Commando / The Ramones (1977)

5. Looking for a kiss / The New York Dolls (1973)

6. Born to loose / Johnny Thunders (1977)

7. Human fly / The Cramps (1978)

8. I wanna be your dog / Iggy Pop and the Stooges (1969)

9. Automobile / The Rings (1977)

10. Peaches / The Stranglers (1978)

Adaptação: Alexander Thoele

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