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O centenário da “Princesinha da Serra”

Collegio Anchieta em Nova Friburgo, ilustração de época. Fribourg, Arquivos do Estado

Salva e fecundada pela rota do café, Nova Friburgo continua a prosperar. Em 1873, o trem substitui as caravanas de mulas.

O Rio de Janeiro não fica mais a quatro dias de viagens, mas a quatro horas.

Dinamizada, Nova Friburgo desenvolve-se e melhora seus produtos e serviços. Continua a cultivar e a exportar milho, batatas e toucinho, mas agora vende frutas, como maçãs e peras, e flores, como cravos e rosas. O turismo e os hotéis prosperam. A escola também. Os jesuítas fundam o famoso Colégio Anchieta, que no início do século, conta com mais de 600 alunos e domina a cidade. Simbolicamente, o ensino prevalece sobre a economia, a política e o social.

Nova Friburgo pratica uma política urbana que a distingue, optando pelos valores da montanha. O paisagista francês, Glaziou, planta verdejantes eucaliptos na praça principal. A Fonte do Suspiro convida tanto ao amor quanto a beber em taça de água pura, fonte de vida, milagre da natureza.

Nova Friburgo lança-se na cultura. Publica jornais, constrói um teatro (o famoso Dona Eugênia) e conhece rapidamente as alegrias do cinema e do fonógrafo. Orgulhosos, os friburguenses mostram o chalé do poeta, Júlio Salusse, que compôs Cisnes, um dos sonetos mais populares do Brasil. Evocam também estadas em Nova Friburgo do Barão do Rio Branco, do grande ministro republicano, Rui Barbosa, e do escritor, Machado de Assis. A crise do café coloca Nova Friburgo em posição de liderança econômica. Graças a alemães empreendedores (os Arp, Falk e outros), ela entra na era industrial. Descendentes de suíços fornecem a mão-de-obra. Nos subúrbios surgem bairros operários como Olaria e Perissê. Amparo, o distrito místico do café Java, acaba de entrar no município fundador.

Em 1918, Nova Friburgo vive uma fase feliz. Confiante no futuro, sente-se finalmente “cidade” e se denomina “Princesinha da Serra”. À vontade, desenvolve-se pensando na sua história.

Nova Friburgo comemora o seu centenário, telegrafando a Portugal, que cumpriu a missão, designada por Dom João VI. Mas celebra também suas primeiras raízes. Compõe hino à glória dos fundadores, que ousaram o impossível: desmatar as florestas de Morro-queimado, com as próprias rrÚosenão.com os braços dos escravos. Em maio de 1918, Nova Friburgo está contente, na jovem república do Brasil, que combate ao lado das democracias no cenário mundial. Essa Suíça brasileira se sente brasileira, mas se considera também filha de Friburgo porque seu nome significa liberdade.

Significado nacional do centenário

Agenor de Roure, filho de um francês de Lumiar, orador do centenário, destaca o significado da fundação de Nova Friburgo: “Esses poderes já compreenderam, certamente, que a data da fundação da Colônia Suíça do Morro-queimado é mais uma data nacional do que municipal, pelos fins que essa fundação teve em vista, pelo programa que ela representa e cuja execução, as lutas da Independência e as preocupações políticas impediram. Registremos nós, os filhos de Friburgo, que a 16 de março de 1818, o Rei D. João VI havia lançado a primeira pedra para os alicerces de uma Pátria nova, feita de liberdade e constituída moralmente sobre as bases da doutrina cristã e dos princípios de humanidade, então abolidos do resto do Brasil!”

O ministro suíço, Albert Gertsch, traz a saudação da cidade de Friburgo a sua filha mais velha: “A paisagem alpestre, esses rochedos altaneiros, o riacho sulcando o pacífico vale, devem ter lembrado aos filhos de Plaffeien e do Moléson a pátria longínqua e aliviado a saudade que por vezes invadia esses bravos corações suíços. A Nova Friburgo, mais feliz que sua mãe, nunca teve inimigos a recear. Nascida livre nesse belo país hospitaleiro, nada veio entravar sua franca expansão e toda a energia de seus filhos pode convergir para o desenvolvimento material.”

150 anos depois

Muito embora seu clima, seus ares e a beleza de suas montanhas continuassem a atrair forasteiros, Nova Friburgo cresceu, sobretudo em decorrência da pujança que adquirira pelo valor de seu povo. A população alcançara 90 mil habitantes, com indiscutível maioria residindo na área urbana. As indústrias cresceram e multiplicaram-se. Ocupados todos os terrenos da extensa várzea, sua gente, em constante crescimento, passou a escalar os morros, onde formaram novos e populosos bairros.

A velha ferrovia tornara-se obsoleta e foi desativada. Substituiu-a uma rede rodoviária que ligou a cidade ao restante do país. A região ao Norte deixara de produzir café, suas terras haviam se exaurido. Muitos dos que lá moravam, inclusive descendentes dos suíços, que a haviam procurado no início da colonização, voltaram seus olhares para Nova Friburgo, que se tornara pólo incontestado de uma grande área do Estado, com cerca de 320.000 habitantes. O crescimento da população incentivou a construção de grandes edifícios que mudaram, por completo, a fisionomia da cidade.

E hoje

Cidade grande. Grande em importância, em beleza e em problemas. Abriga cerca de 180 mil habitantes. Cresce sempre, sobretudo, porque continua a ser procurada por aqueles que apreciam seu clima ameno e seu povo cortês. O crescimento contínuo faz com que os projetos de ontem se tornem logo ultrapassados. É impossível fazer previsões. Sua formosa topografia é ingrata, acarretando constantes e graves problemas de trânsito. A atual crise mundial não esqueceu Nova Friburgo. Diversas indústrias dispensaram empregados e algumas delas fecharam suas portas. Grande parte dos que ficaram sem trabalho passaram a criar microempresas que, hoje, se contam aos milhares e que são uma resposta valente desse povo, descendente de bravos colonizadores.

Julho de 1866, morte do Pe. Joye.

8 de dezembro de 1869 : inauguração da igreja paroquial.

09 de junho de 1873 : o trem chega a Nova Friburgo.

1890: o município conta 18.287 e a cidade 9.857 habitantes .

1911 : instala-se a eletricidade em Nova Friburgo.

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