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O segredo de Leonardo da Vinci

O historiador Marino Vigano mostra o que ele considera como uma obra de Leonardo da Vinci. swissinfo.ch

O castelo Visconteo, no centro de Locarno, protegeu um segredo durante cinco séculos.

A destruição quase total da construção, em 1532, por parte dos suíços, não atingiu o “rivellino”, uma espécie de posto avançado, uma fortificação externa capaz de fazer frente ao ataque de inimigos.

Os principais deles, o tempo e o degrado, não derrotaram a obra atribuída a Leonardo da Vinci. A descoberta foi anunciada pelo histórico italiano Marino Vigano e apresentada no livro “Leonardo em Locarno”.

“Foi uma surpresa para mim. Quem passa por fora não consegue ver a muralha. Eu passei por aqui centenas de vezes e nunca me dei conta. Somente quando fui chamado para avaliar a obra é que desconfiei de ter me deparado com algo fora do comum”, conta ele para a swissinfo. Das calçadas que o circundam não é possível ver nada. Do alto, o planalto do “rivellino” é apenas um terreno baldio.

A muralha de proteção acabou sendo cercada pela especulação imobiliária e pelas reformas do castelo. Ao final, ela está localizada num dos pátios internos da nobre residência, adjacente a outros prédios ao redor. Para entrar é preciso abrir um portão com cadeado e passar por baixo do que restou da antiga abertura de um dos canhões.

Especialistas

O professor Marino Vigano, com acesso livre, tinha sido procurado pelo município de Locarno para dar um parecer sobre o local e o pedido do proprietário de transformá-lo numa cantina. Sete anos atrás ele não sabia que a consulta o levaria a pesquisar a presença de Leonardo na Suíça. A pista era a datação errada da muralha feita pelos historiadores da época, segundo os quais ela teria sido erguida no começo do século XV. “Tive duas surpresas: ela estava inteira e a segunda é que este tipo de fortificação apareceria de forma comum apenas cem anos depois e na Itália central”, explica o professor.

O mergulho nos arquivos das bibliotecas européias, a busca por manuscritos o levaram a seguir a sombra do engenheiro Leonardo da Vinci, deixando de lado a sua fama de pintor. O primeiro a puxar o fio da meada foi um pesquisador norueguês, especialista no cantão do Tessin. Em 1894 ele encontrou nos cadernos de anotações de Leonardo da Vinci desenhos de um “rivellino”. Durante mais de cem anos eles tinham sumido da biblioteca Ambrosiana, de Milão, depois de terem sido transportados para Paris, por ordem do imperador Napoleão.

Rivellino

Na época de Leonardo da Vinci, o “rivellino” tinha a forma de uma ferradura. A inovação, com o traçado de pontas, foi realizada por ele no castelo Sforzesco, em Milão, durante a sua longa permanência no ducado milanês, desde o fim do século XV e o começo do XVI. Ele construiu dois “rivellini”, entre o inverno de 1499 e o verão de 1500. Eram tempos difíceis e os ventos de guerra entre os franceses e o império austríaco sopravam em todas as direções.

Já sob o domínio francês, Milão tem em Locarno uma fortaleza importante para impedir o assédio dos mercenários suíços, a serviço dos austríacos. “Notamos que o rivellino de Locarno foi construído às pressas, com a população apavorada pelos inimigos que se aproximavam”. Nesta época o rei Luis XII, da França escreve “que Leonardo da Vinci, nosso engenheiro”. E isto é mais um indício que se une a uma série de coincidências que, juntas, não podem ser obras do acaso. Por exemplo: este tipo de de rivellino apareceu apenas naquele momento, 1507, em Locarno e pouco antes em Milão. Momentos nos quais Leonardo da Vinci estava presente. Depois que ele abandonou a região, as fortificações voltaram a ser como antes, de forma arredondada”, explica o professor Vigano.

Assinatura de Leonardo

Por exclusão e farta documentação, interpretada, reescrita, manuseada, confrontada e contextualizada com o período, Marino Vigano acredita ter encontrado no gênio italiano a paternidade do recinto militar. A prova definitiva talvez nunca venha à tona. Mas o percurso realizado pelo pesquisador deixa poucas margens para dúvidas.

Pelo sim pelo não, um hotel vizinho mudou o nome e passou a se chamar Leonardo da Vinci. O bar que faz divisa com o as ruínas da muralha batizou-se de “rivellino”. “Eu jogava bola naquela muralha quando eu era menino. Nunca poderia imaginar que ela tivesse sido construída por Leonardo da Vinci. Nem na escola ouvimos falar disso. Acho que vai ser uma coisa boa para a cidade de Locarno.

Mas a muralha está isolada do público. Ela tem galerias internas pelas quais, através de um engenhoso sistema militar a munição chegava aos canhoneiros em tempo recorde. São visíveis ainda os resquícios de uma das comportas usadas para nivelar a água do fosso com a do lago.

Apenas 1/5 da construção está à vista e pouco menos da metade continua enterrada. Calcula-se que o “rivellino” de Leonardo da Vinci tenha 18 metros de altura. Mas para mexer nele, Locarno tem que comprá-lo do proprietário. A negociação já foi aberta. Os arqueólogos de plantão estão avisados.

Guilherme Aquino, swissinfo.ch

Em 30 de maio de 1506, Milão ganha um novo engenheiro. E em seguida, Leonardo da Vinci, recebe um chamado em Florença.

O homem Leonardo não vive o mundo de forma abstrata. A sua biografia deve ser sempre contextualizada na política e nas guerras do seu tempo. Ele foi engenheiro militar de Cesare Borgia e de Ludovico, Il Moro.

Naqueles anos a sua atividade de pintor prevalece muito pouco. A sua preocupação era a engenharia aplicada no campo. Os poucos documentos salvos afirmam que ele participou do assédio de Pisa, tentado isolar a cidade e cortar o curso do rio Rno. Foi inspecionar fortalezas recuperadas pelos florentinos.

Naquele período Leonardo não estudava apenas na teoria as melhores fortalezas, mas as expeimenta em campo e vê como se faz.

Locarno tinha sofrido um cerco militar, que durou entre 18/03 a 11/04 de 1503

Em 1507 o imperador Maximiliano de Hasburgo e Luís XII da França disputam os mercenários suíços .

Em 17 de julho de 1507, comecam os trabalhos de construção do rivellino de Leonardo. O engenheiro deve ter vindo antes para estudar o terreno, a obra previa a base em madeira, a exemplo de como se fazia em Veneza, por causa da água.

A campanha de fortificação da Lombardia começou, oficialmente, em 18 de junho de 1507, mas desde abril os trabalhos já tinham sido iniciados em toda a região.

Em 20 de abril de 1507, Charles D’Amboise, grande mestre do rei Luis XII, remunera Leonardo da Vinci com um grande vinhedo na entrada de Milão.

Milao é estratégica porque era o trampolim para Nápoles. Locarno era uma barreira defensiva.

2/3 da produção de Leonardo foi perdida ou extraviada, alguns especialistas calculam em até mais, 3/5, 4/5.

Os leonardistas concordam que a probabilidade do toque pessoal de Leonardo nesta obra é grande.

O Rivellino de Locarno seria a única obra de arquitetura de Leonardo da Vinci em todo o mundo.

A pesquisa sobre o Rivellino contou com documentos espanhóis, alemães, suíços, franceses, jornais da época e, sobretudo, os despachos dos embaixadores, que eram , na verdade, espiões e contavam os segredos decifrados.

Os franceses quando se retiraram, em 1512, devem ter queimado documentos importantes.

As obras de Leonardo estão divididas em três seções diferentes e complementares entre si: obras certas, obras atribuídas por todos os críticos de arte, obras ainda sem unanimidade. O Rivellino está na terceira categoria, apesar de discutir-se se será colocado na segunda categoria. Até hoje não houve nenhuma pesquisa com rigor científico que rebatesse a tese do professor Marino Vigano.

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