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Os ingleses que descobriram a Suíça

Ernest e Jean Agard Evans (sentado à esquerda) eram apaixonados pelo país dos Alpes. Archives Agard Evans

Jean e Ernest Agard Evans chegaram na Suíça durante a época de ouro do turismo. Assim como outros estrangeiros, eles também havian sido enfeitiçados pela magia dos Alpes.

A paixão foi tanta, que o casal de ingleses decidiu dedicar a sua vida a escrever guias turísticos. Graças aos dois, a Suíça virou atração mundial.

A exposição, aberta recentemente no vilarejo de Bulle, cantão de Friburgo, mostrar detalhes até então esquecidos da vida de Jean e Ernest Agard Evans.

No final do século XIX, o turismo em massa na Suíça ainda era um fenômeno desconhecido. O casal de ingleses chegou em Lausanne em 1899 e foi logo enfeitiçado pela beleza dos Alpes e dos vilarejos helvéticos.

“Muitos ingleses chegaram à Suíça nessa época, sendo que nem todos pertenciam à aristocracia ou à rica burguesia britânica”, explica Christophe Mauron, curador da exposição em Bulle. “Os Evans eram alpinistas, mas em 1899 a maioria das montanhas dos Alpes já havia sido conquistadas. Por isso eles não chegaram a ser pioneiros”.

Mesmo se Jean e Ernest não fossem ricos, eles também estavam longe de ser pobres, como conta a neta do casal, Stella Bonnet-Evans. Ela vive até hoje nas proximidades de Gruyère.

“Eles eram gente bem-nascida do meio rural e tinham uma certa fortuna, que vinha dos rendimentos obtidos pelas extensas propriedades que os dois possuíam no norte da Inglaterra e na Escócia. Isso permitia o casal de viver na Suíça muito mais confortavelmente do que na Inglaterra, sobretudo devido ao câmbio favorável”, conta a neta.

Plano

Ernest também trabalhava. Ele chegou à Suíça com a seguinte idéia: escrever guias turísticos para viajantes de língua inglesa.

Antes ela havia sido empregado de uma empresa britânica especializada em guias para firmas e hotéis de negócios. A experiência terminou lhe inspirando para lançar dois novos tipos de guias turísticos.

“Estações de cura e veraneio do século XX na Europa” foi uma compilação de descrição de hotéis, que incluía também comentários sobre transporte, acomodação e dicas práticas.

O outro empreendimento foi um guia comercial para homens de negócio. Os grossos tomos de couro vermelho foram inspirados nos pioneiros Murray Guides, a primeira série de guias turísticos modernos. Posteriormente foram incluídos à série os guias de bolso.

Por mais de 40 anos, os guias foram publicados em intervalos mais ou menos regulares. Financiados por propaganda, eles eram distribuídos gratuitamente na Inglaterra, Estados Unidos e na Nova Zelândia.

“Para ser mencionado nos guias, os hotéis tinham que atender critérios exatos de higiene, atividades oferecidas e lazer. Meus avós faziam pessoalmente estadias nesses locais. Eles costumavam dizer que era mais fácil de ter uma impressão do estabelecimento se o autor também tivesse dormido por lá”, afirma Bonnet-Evans.

“Lá estão os comentários sobre um hotel de Locarno e, na aquarela, a Jean pintou a vista que ela tinha de uma das janelas do estabelecimento com vista para o lago”.

Realmente um número considerável de aquarelas de Jean Evans faz parte da exposição. Elas formam um diário ilustrado da sua vida na Suíça. Tanto o curador como a neta concordam, porém, que as pinturas têm muito mais um caráter “fotográfico” do que mostrar um grande talento artístico da inglesa.

Reconstrução

A reconstrução do apartamento habitado pelos dois autores mostra que eles levavam uma vida muito charmosa entre a comunidade de expatriados ingleses em Lausanne.

“A intenção é mostrar como era agradável (no início) e agitada a vida social que o casal levada e como se encontravam regularmente com amigos para jogar bridge ou tomar chá”, revela Mauron.

Quase todos os móveis são originais e foram guardados pelos descendentes do casal com cuidado, assim como outras lembranças do passado. Também exposto está um par de esquis do Museu Alpino em Zermatt. A lenda diz que Jean e Ernest introduziram os esquis na Suíça depois de ter descoberto esses estranhos e úteis objetos durante uma viagem à Noruega. O casal inglês teria dado os esquis de presente para Alexander Seiler, um hoteleiro famoso de Zermatt.

Porém a vida dos dois não era apenas um mar-de-rosas. O setor editorial seria gravemente afetado pela Primeira Guerra Mundial. Esta faria também com que os ingleses deixassem de viajar para a Suíça.

O filho do casal Evans foi enviado para a linha de batalha com o exército britânico e terminou morrendo no Iraque. A bandeira que ele carregava está cheia de buracos de balas. Agora ela também está numa das vitrines da exposição.

swissinfo, Faryal Mirza

A exposição está aberta até outubro de 2006 no Museu Regional de Gruyère, em Bulle.
Dentre os objetos expostos estão várias curiosidades da vida do casal Evans, incluindo também fotografias, aquarelas de Jean Evans, diários e uma reconstrução do seu apartamento em Lausanne.
Outras aquarelas de Jean Evans estão sendo exibidas na galeria Trace Ecart, em Bulle.

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