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Padres estrangeiros suprem falta de vocação

Varghese acredita que não vai ser difícil se adaptar aos suíços. swissinfo.ch

O Vaticano pode ter encontrado um novo chefe espiritual da Igreja católica. Porém na Suíça, as dioceses lutam para ocupar os postos vagos nas paróquias espalhadas pelo país.

Devido à falta crônica de vocações helvéticas, elas são obrigadas a importar padres de outros países.

“Nós somos missionários no sentido em que temos uma missão especial”, afirma o novo padre no vilarejo alpino de Disentis. Seu nome é Benny Varghese e é originário do estado de Kerala, no sul da Índia.

“Há alguns séculos, muitos missionários europeus chegaram na Índia e em Kerala”, ele explica. “Eles deram duro e agora eu penso que é a obrigação de cada cristão de trabalhar em qualquer parte do mundo pela Igreja de Cristo” (escute no áudio em inglês a entrevista).

Varghese é apenas um das centenas de padres estrangeiros que estão vivendo e pregando na Suíça. Sabe-se que apenas um terço das paróquias na diocese de Chur – a segunda maior do país – dispõe de um sacerdote trabalhando em período integral. Um quarto deles vêm de outros países.

A situação não é melhor na maior diocese suíça, Basiléia, onde quase a metade das paróquias está desocupada. A metade dos seus padres não têm o passaporte da cruz branca sobre o fundo vermelho.

Os estrangeiros vieram para a Suíça num momento em que as igrejas se esvaziam numa velocidade impressionante. Em 1970, 90% da população suíça pertencia a Igreja católica ou protestante. Atualmente, apenas 75% ainda está inscrita numa das duas igrejas do país. Nas áreas urbanas esse número pode ser ainda menor.

Índia ou África

Os clérigos da Índia, África, América do Sul e Europa do leste são encarregados da dura tarefa de recuperar o terreno perdido.

Isso está longe de ser fácil, sobretudo para os indianos e africanos trabalhando em vilarejos e povoados nas regiões mais distantes do país, onde quase não vivem pessoas de outras raças em posições de autoridade. Eles são obrigados a sobrepujar diferenças culturais e barreiras lingüísticas.

Varghese chegou há apenas quatro meses e ainda não consegue falar o idioma local, o reto-romano. Porém ele celebra as missas nessa língua lendo textos que outras pessoas prepararam para ele.

“A língua é um problema, porém eu tenho que aprende-la. Não há outra solução”, afirma o padre indiano.

“Eu acredito que as pessoas que vêm da Índia, sobretudo de Kerala, não têm dificuldade de se adaptar a novos hábitos e práticas, sobretudo por que nós também temos uma diversidade cultural muito grande nessa região. Do ponto de vista teológico ou espiritual, não existe diferenças. A mensagem é a mesma”.

Mistura bem-vinda

Porém se adaptar à nova cultura não é a única mudança: a chegada de padres estrangeiros também se mostrou uma dura prova para muitos fiéis suíços.

“O ceticismo é normalmente grande quando um novo clérigo chega no vilarejo, porém nosso padre africano ou o Benny são muito carismáticos”, afirma um homem, que conversa com o repórter após a missa celebrada por Varghese. “Eles são plenamente aceitos aqui”.

Porém outro cidadão nativo revela que também existe uma oposição em relação aos estrangeiros.

“Não necessariamente dos fiéis mais idosos, porém tem um grupo de pessoas de meia-idade que é completamente contrário aos padres que foram enviados para cá, achando que eles têm de retornar aos seus países”, explica essa pessoa que prefere ficar anônima.


Uma senhora idosa, que está a caminho da igreja, chama Varghese de “fantástico”, mas adiciona: – “nós não rezamos o suficiente e essa é a razão pelo fato de termos tão poucos padres suíços”.

“Eu não entendo por que a Igreja aumenta ela própria o problema”, pergunta-se outro senhora. “Talvez os laicos deveriam ser autorizados a celebrar uma missa ou por que não aceitar o casamento de padres?”.

“É estranho que antes a Europa enviava missionários ao mundo inteiro e agora o movimento vai em direção contrária”.

Padres estrangeiros

Para a diocese de Chur as vocações estrangeiras são absolutamente necessárias para ocupar suas paróquias. Ela chegou mesmo a criar um curso preparatório para ajuda os novos padres a se integrar na sociedade suíça e na Igreja católica do país.

Como explica o diácono Franz-Xaver Herger, que coordena os cursos, a língua é apenas uma das barreiras.
Eles também precisam entender os diferentes aspectos estruturais da Igreja católica na Suíça e o sistema democrático helvético e suas instituições, algo de único no mundo.

“Para muitos padres, nosso senso democrático e maneira de pensa são muito estranhas”, afirma Herger. Ele revela que padres estrangeiros estão acostumados a receber ordens diretas dos bispos. Na Suíça, o clérigo precisa consular os membros da paróquia para tomar decisões.

“Esse é um dos exemplos de diferenças culturais, pois muitos não compreende as bases legais da nossa Igreja”.

Tempos difíceis

Não importa a escolaridade dos novos padres. A sociedade não pode esperar que eles resolvam os problemas vividos atualmente pela Igreja católica.

“A vida da Igreja na sua forma atual está à beira de um colapso desde que não existem mais fiéis nas novas gerações ou faltam pessoas que querem abraçar uma carreira religiosa ou o trabalho voluntário”, analisa Markus Ries, professor de história da Igreja na Universidade de Lucerna.

Porém as perdas de vocação sofridas pela Igreja católica são supridas por pessoas como o padre indiano Benny Varghese.

“Eu gostaria de trabalhar em mais países”, ele afirma. “Para mim essa é uma experiência que me dá a possibilidade de conhecer mais pessoas e outros costumes. Isso é algo de maravilhoso”.

swissinfo, Dale Bechtel
traduzido por Alexander Thoele

Composição religiosa da Suíça segundo o censo o último censo (2000) no total da população:
Católicos romanos: 41.8%
Protestantes: 35.3%
Muçulmanos: 4.3%
Outros (ortodoxos cristãos, hindus, budistas e judeus): 2.8%
Sem religião: 11.1%

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