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Pelé acha que seleções européias estão muito equilibradas

Keystone

Em entrevista a swissinfo, Pelé fala do Euro 08, da formação dos jovens, da Copa de 2014 e de uma proposta do suíço Adolf Ogi de indicá-lo para cargo na ONU.

Pelé passou três dias em Lausanne, oeste da Suíça, na promoção do Campus Pelé, um centro destinado a formar cidadãos e jogadores, nas palavras do Rei do futebol. O Campus, um projeto do Grupo Fator, tem um acordo com o Lausanne-Sport.

Também na Europa, Pelé continua a suscitar grande interesse e admiração por onde passa. Foi o caso no último final de semana em Lausanne, para promover o Campus Pelé e o acordo que tem com o Lausanne-Sport, clube mais que centenário e que servirá de porta de entrada dos futuros craques no futebol europeu. Atualmente, três jogadores brasileiros e um preparador físico já estão integrados ao clube suíço.

Na entrevista a seguir Pelé afirma que estudaria com carinho uma proposta da ONU para o cargo de Secretário do Esporte para a Paz e o Desenvolvimento. O cargo, agora definitivo, foi ocupado provisoriamente pelo ex-ministro suíço Adolf Ogi. Na semana passada, Ogi confidenciou a swissinfo que pretende indicar Pelé para o cargo. Diz também que não tem divergências com o presidente da CBF, Ricardo Teixeira e fala do Euro 08 a ser disputado, em junho, na Suíça e na Áustria.

swissinfo: O suíço Adolf Ogi disse que indicá-lo para a Secretaria da ONU para a paz e o desenvolvimento. Você aceitaria?

Pelé: Eu já faço isso naturalmente há bastante tempo em missões da ONU e da UNESCO. Por enquanto ainda não tive qualquer contato mas, se for convidado, estudarei a proposta com muito carinho porque eu sempre trabalhei pela paz e pelo bem.

Veja você, uma das honras que eu tenho é que em 1958, na minha primeira Copa do Mundo, na Suécia, só havia jogadores negros no Brasil. Hoje, quando todo mundo fala em racismo, se esquece da grande abertura que ajudamos a conquistar.

Hoje tem negro em todos os times e praticamente em todas as seleções do mundo, inclusive na Suíça. São colaborações como esta que já demos naturalmente. Eu sou muito orgulhoso disso. Então, se tiver que aceitar um cargo para continuar esse trabalho, eu farei com prazer.

swissinfo: Na cerimônia da Fifa, no final de outubro, em que foi confirmada a Copa de 2014 no Brasil, sua ausência foi notada por membros do Comitê Executivo como Franz Beckenbauer e Michel Platini. Você ainda vai entrar na Copa de 2014.

Pelé: Eles estranharam porque são amigos que adoram o Pelé e sempre estamos juntos em comissões da Fifa. Acontece que o trabalho que tinha de ser feito nós já fizemos antes, que era conseguir a Copa.

O evento em Zurique era apenas um anúncio! Eu estive reunido com o Ricardo Teixeira lá no Rio e tinha dito que talvez não pudesse ir porque no mesmo dia eu tinha um outro evento na Alemanha: a Fifa estava aprovando o uso de grama sintética para os campeonatos de base e eu estava lá.

É só isso. Você vê que até agora o Ricardo Teixeira estuda o caderno de encargos da Fifa e ainda não tem equipe de trabalho formada. Então não tem nada a ver com o que as pessoas estão pensando ao tentar fazer mais um fuxico, mais uma briga. Vende jornal e dá audiência mas não tem nada a ver. O Ricardo Teixeira não tem culpa nenhuma. Ele e o presidente Blatter sabiam que eu estaria na Alemanha.

swissinfo: Quer dizer que você estará na Copa de 2014?

Pelé: Eu já estou na Copa de 2014! Já trabalhei para ela e, até para que os brasileiros entendam, nós trabalhamos para a África do Sul em 2010. Todo mundo sabe que foi uma troca de gentilezas entre a África em 2010 e a América do Sul em 2014.

Você está em Lausanne para promover o Campus Pelé e o acordo com o Lausanne-Sport. Que importância tem esse projeto para você?

Pelé: É uma oportunidade para devolver um pouco do que o futebol me deu. Continuam me convidando para ser treinador e eu nunca aceitei porque queria trabalhar com os jovens, passar a minha experiência para as novas gerações. Meu pai me dizia que Deus tinha me dado talento para o futebol mas que eu deveria me cuidar e trabalhar muito para ser um grande jogador. Que só o talento não bastava.

Hoje vemos centenas de jovens que saem do Brasil pela mão dos empresários. Infelizmente nem todos têm sorte e, quando não dá certo, os empresários os abandonam. Eu mesmo encontrei no aeroporto de Moscou jovens jogadores brasileiros que não tinham dinheiro nem para voltar para o Brasil! Também já enconttrei africanos na mesma situação.

O problema é que eles estão preparados apenas para jogar. O Campus Pelé é uma escola que visa preparar o homem antes de preparar o jogador para que isso não aconteça. Alguns deverão chegar aqui em Lausanne, como já é o caso atualmente.

Você acompanha o futebol e sabe que o Euro 08 será na Suíça e na Áustria. Já dá para fazer um prognóstico?

Pelé: O Euro é quase uma Copa do Mundo. Certa vez, conversando com Michel Platini, dissemos que se colocasse Brasil e Argentina o Euro viraria uma Copa do Mundo.

Falávamos disso para destacar a importância desse torneio. Eu acho que as seleções estão muito equilibradas, tanto que certas chaves de classificação ficaram para as duas últimas rodadas, inclusive com dificuldades para Inglaterra e Itália, grandes nações de futebol. Por enquanto, fica difícil fazer um prognóstico.

Entrevista swissinfo, Claudinê Gonçalves

Nome Édson Arantes do Nascimento
Posição: Meia-atacante
Nascimento: 23/10/1940
Nacionalidade: Brasileira
Local de nascimento: Três Corações – MG
Altura: 1,725
Peso: 75
Chuteira: 39
Estréia Santos: 7 x 1 Corinthians de Santo André, em 07/07/1956
Carreira: Santos: 1956 – 1974
Cosmos: 1975 – 1977
Títulos: 59, dentre eles três Copas do Mundo (58, 62 e 70)
Maior artilheiro do Brasil em Copas do Mundo (12 gols)
Maior artilheiro da história da Seleção Brasileira com (95 gols)
Maior artilheiro do futebol profissional com (1.281 gols)
Ministro dos Esportes no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, de 1995 a 1998.

As declarações de Pelé nesta entrevista afirmando que não tem qualquer problema com o presidente da CBF foram confirmadas recentemente por Ricardo Teixeira.

Em entrevista à revista Veja (14 de novembro), o presidente da CBF declara: “Não existe essa conversa de problema com o Pelé. Há três meses, ele esteve comigo na CFB e falamos sobre o projeto Copa. O Pelé vai se integrar, sim, ao grupo que organizará o Mundial, não ficará de fora”.

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