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Pianista suíço tocou pela terceira vez em Montreux

Moncef Genoud alia elegância musical e franqueza do verbo. J.C. Hernandez.

Vinte anos depois da morte de Pannonica, o pianista suíço Moncef Genou e Abdullah Ibrahim homenagearam a mecenas dos músicos de jazz de Nova York no último dia do Montreux Jazz Festival 2008. Entrevista.

A baronesa Pannonica de Koenigswarter, da família Rothschild, (1913-1988) foi amiga e benfeitora de muitos músicos de jazz em Nova York. Charlie Parker morreu no apartamento dela, mas ela costumava receber seus protegidos em sua casa em New Jersey onde, dizem, ela tinha 122 gatos.

Pannonica fotografava os músicos e pedia que fizessem três desejos que gostariam de realizar. “Ser branco”, respondeu Miles Davis e um livro foi escrito sobre isso.

Em agradecimento, os músicos escreveram cerca de vinte composições para a baronesa. Foi o pretexto para Abdullah Ibrahin, em Montreux, fazer uma viagem espiritual. Durante uma hora, ele expressou sua visão holística, uma visão em que os temas surgem de um desvio, onde a serenidade passa pela remanescência.

O pianista suíço Moncef Genoud exprimiu três frases sutis delicadas em 50 minutos. Seu “Pannonica” é onírico e cheio de notas poéticas, como uma dança à maneira de Chagall.

Tocou também alguns temas dele, inventando correspondências entre seu impressionismo pessoal e o expressionismo de Monk, com uma certa tensão, terminando com um piano mais na forma de percussão, feliz como o público. Antes de se apresentar ele falou à swissinfo:

swissinfo: Quem era Pannonica, segundo você?

Moncef Genoud: Para mim, é uma grande senhora um pouco original. Uma senhora rica que acolheu em sua casa músicos em fim de vida, em mutação ou deprimidos. Esses músicos, personalidades do jazz como Monk, Charlie Parker, Coltrane – compuseram músicas para ela.

swissinfo: Sem ela, Monk ou Parker justemente talvez não tivessem sido o que foram …

M.G.: É difícil dizer. Acho que devemos vê-la como uma senhora original, que amava a vida. Alguns músicos devem ter namorado com ela e tudo isso acaba dando em jazz! (risos)

swissinfo: Como você abordou essa homenagem?

M.G.: Telefonei a um amigo que me gravou uma série de temas. Escolhi os que mais gostei. Tem um que eu gosto especialmente: “Pannonica”, justamente de Monk, do qual existem várias versões. A de Chick Corea é genial!

swissinfo: Qual é o interesse desse projeto para você?

M.G.: O interesse, primeiro, é que adoro Monk. Foi por isso que aceitei. Monk, a gente reconhece na primeira nota. Ele é um compositor ímpar. E como ele compôs muito em proximidade de Pannonica …

Mas não fiquei só nisso. A idéia era também improvisar em cima desses temas e no estilo Monk. Fazer apenas uma releitura desses temas que já foram tocados por monstros do jazz não teria serviço para nada. Bordar em volta deles e tocar outros temas abre mais o espírito.

swissinfo: No ano passado você esteve em Montreux com Youssou N’Dour, desta vez em solo. O que é o jazz hoje?

M.G.: É uma maneira de se exprimir sobre diferentes assuntos, diferentes músicas. É um modo de expressão amplo, tão africano quanto americano ou genebrino. O jazz é emoção e sentimento que exprimo no piano.

swissinfo: E qual é o estado de saúde do jazz na Suíça?

M.G.: Muito bom. Para um pequeno país, a Suíça tem muitos criadores, muito bons músicos, escolas que abrem o espírito dos jovens e lhes dão a possibilidade de aprender a tocar bem. Não é mais necessário ir aos Estados Unidos para aprender.

swissinfo: Ser músico de jazz na Suíça é fácil?

M.G.: Não. Conheço muitos poucos músicos que vivem do jazz. Eles lecionam ou têm outro trabalho ao lado. Na Suíça, o jazz faz parte das músicas ditas leves. O ofício não é reconhecido como tal, contrariamente ao que ocorre na França, por exemplo.

Na Suíça, o músico clássico é reconhecido, é um ofício bem estabelecido, com sindicatos poderosos e reconhecido pela população, ao contrário dos músicos de jazz.

swissinfo: Mas o jazz também tornou-se uma música séria e bem estabelecida. Você se sente mais próximo de Hélène Grimaud ou de Radiohead?

M.G.: Radiohead é um super grupo. Suas composições são excelentes. Aliás, Brad Mehldau explorou muito bem isso, retomando os temas para interpretá-los em jazz. Brad me abriu a cabeça para esta possibilidade. Realmente me sinto mais próximo de Radiohead do eu de Hélène Grimaud.

swissinfo: De manhã, o que o incita a sair da cama para tocar piano?

M.G.: Não tem receita. Se tenho vontade toco, se não tenho não toco. Se tenho uma idéia na cabeça, sento ao piano. Se tenho apresentações agendadas, trabalho. Se estou em férias, às vezes não toco. Tem certos períodos que a gente fica virando em volta, sem inspiração e com a impressão de se repetir. Aí é melhor fazer outra coisa – ouvir música, caminhar nas montanhas, sonhar. Acontece de não tocar durante uma semana ou dez dias. Depois o espírito fica limpo.

Entrevista swissinfo, Pierre-François Besson, Montreux

“Edição magnífica” e “qualidade excepcional”, são os termos dos organizadorees para qualificar esta 42a edição do Montreux Jazz Festival na hora do balanço. 87 mil ingressos foram vendidos.

Pelo segundo ano consecutivo, o festival não deu prejuízo, depois de quatros de perdas (orçamento de 18 milhões de francos suíços). Os organizadores acham que isso confirma as opções estratégicas feitas em 2007 (especialmente a redução das salas pagantes a duas).

Ao lado de grandes nomes como Leonard Cohen, Joan Baez, Paul Simon, Alicia Keys ou o 75° aniversário de Quincy Jones, artistas “emergentes” marcaram esta edição como Adele, Sohie Hunger e Concha Buika.

Fundador do festival em 1967, Claude Nobs acha que o modelo de Montreux (duas salas pagas e uma grande quantidade de concertos gratuitos) deve possibilitar resistir à grande quantidade de festivais na Europa.

A edição 2009 será de 3 a 18 de julho. Já está prevista uma noite especial pelos 50 anos da gravadora Island Records, criada por Chris Blackwell.

Nascido em 1961 em Tunis, Moncef Genoud é cego de nascença. Ele foi enviado à Suíça quando tinha dois anos para tratamento. Aos seis anos começou a estudar piano, estimulado por seu pai adotivo que gostava de jazz.

É profissional desde 1983 e se impôs rapidamente como uma das figuras suíças marcantes do jazz. Tocou em vários continentes e especialmente com Jack DeJohnett, Bob Berg, Michael Brecker, Larry Grenadier, Reggie Johnson, Dee Dee Bridgwater e Youssou N’dour.
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Moncef Genoud leciona improvisação do jazz no Conservatório de Genebra. Seu segundo disco – Aqua – gravado em Nova York, saiu há dois anos.

Abdullah Ibrahim é um dos grandes nomes do jazz africano. Compositor, pianista, flautista, cantor, ele nasceu em 1934 em um gueto na cidade do Cabo, na África do Sul.

Protegido de Duke Ellington, ele trabalhou com John Coltrane e Don Cherry. Sua música é muito livre e inspirada por suas raízes africanas.

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