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Síria está na lógica de manifestações e repressão

Tanques patrulham na cidade costeira síria de Banias Reuters

Quase um mês depois das primeiras manifestações em Daraa, na região sul, os protestos contra o regime do presidente Bachar el-Assad se estendem.

A repressão sangrenta e dos riscos de conflitos comunitários aparentemente não bastam para acalmar a cólera da população.

Segundo a Declaração de Damasco – um comitê pró-democrático de personalidades que vão da esquerda aos islâmicos passando pelos curdos – o balanço da repressão é de pelo menos 200 mortos desde o início do movimento de contestação contra o poder encarnado pelo presidente Bachar el-Assad, que sucedeu em 2000 ao seu pai Hafez, artesão do regime que um número crescente de sírios rejeita atualmente.

Em carta endereçada segunda-feira (12/4) ao Secretário-Geral da Liga Árabe, a Declaração de Damasco pede a imposição de “sanções políticas, diplomáticas e econômicos ao regime sírio”.

Muitas críticas

Isso não aconteceu, pelo menos por enquanto, mas várias capitais denunciam as exações continuadas das forças de segurança. “A escalada da repressão pelo governo sírio e revoltante e os Estados Unidos condenam firmemente as tentativas de reprimir manifestantes pacíficos.”, declarou o presidente Obama, através de seu porta-voz. Londres e Roma também condenaram a repressão.

Por sua vez, o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos denunciou terça-feira (12): “Estamos muito inquietos com as informações do aumento do número de manifestantes mortos pelas forças de segurança na Síria e com as prisões em massa de defensores dos direitos humanos e a perseguição de jornalistas”, afirma Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado.

Quanto à Alta Comissária Navi Pillay, ela advertiu as autoridades sírias que o uso da força contra manifestantes pacíficos não conseguiu eliminar o descontentamento na região.

Repressão aumenta insatisfação

Um cidadão sírio que vive em Genebra tem a mesma opinião, mas requer o anonimato para proteger sua família do poderoso aparelho de segurança sírio: “A contestação está se espalhando por todo o pais, inclusive à zona rural”.

Nossa fonte sublinha inclusive o papel motor da repressão: “as primeiras manifestações em Daraa protestavam contra a prisão e a tortura de 15 crianças por grafites considerados sediciosos. Com a repressão sangrenta que ocorreu nessa cidade do sul do país, os sírios começaram a sentir o dever de manifestar e são cada vez mais numerosos a fazê-lo, mesmo com risco dos golpes do regime. Como em outros países do mundo árabe, os sírios estão fartos de ver sua dignidade maltratada”.

Terrorizar e dividir

Muitos sírios esperavam ainda uma abertura do regime no primeiro discuros de

Bachar el-Assad desde o início das manifestações, diante da Assembleia do Povo, dia 30 de março. No entanto, ele falou do risco de guerra civil e confessional provocado pelos manifestantes e, inclusive de complô do estrangeiro. O presidente sequer mencionou a suspensão do estado de urgência (em vigor desde 1963), medida que havia sido anunciada dias antes.

Para tentar dividir os sírios, o regime também faz concessões pontuais a certas comunidades confessionais ou étnicas, numerosas na Síria como em outros países da região (ler coluna à direita)

“É por isso que ele deu recentemente a nacionalidade síria aos curdos da Síria, privados até agora desse documento”, afirma o cidadão sírio de Genebra. “O regime força as numerosas comunidades e minorias do país a cuidar de seus próprios interesses”.

O problema “é que não funciona. Os curdos, por exemplo, responderam à atribuição da nacionalidade saindo às ruas para exigir liberdade e democracia e homenagear os mortos de Daraa”.

Resta que o enfrentamento entre comunidades é a principal ameaça para o futuro do país, de acordo com o pesquisador suíço Yves Besson, membro da Associação Suíça pelo Diálogo Euro-Árabe-Muçulmano (ASDEAM).

“Dada a extensão do território, o risco de enfrentamento comunitário é maior do que no Iraque. A modernidade vivida pelos jovens nas cidades, o nacionalismo sírio – se é que ele existe – não elimina traços mais antigos. Esses diferentes componentes da identidade dos sírios se superpõem e ressurgem conforme as circunstâncias e necessidades. Essa é uma realidade que os regimes no poder sabem instrumentalizar muito bem em seus países e nos vizinhos”, explica Besson, que também foi embaixador da Suíça no Líbano, de 1971 a 1975.

Superfície de 185.180 km2 (Suíça : 41 290 km2  ) para 21 milhões de habitantes, 50% urbana e 52% com menos de 25 anos (taxa de alfabetização de 75%).

População  composta de árabes (89%), curdos (6%), Armênios (2%) tcherkesses e assírios (3%).

Diversidade confessional :  muçulmanos sunitas (72 %), alauitas (seita de origem islâmica, mas considera herética pelos sunitas e pelos xiitas (12%), católicos e protestantes (6%), cristãos ortodoxos (4%), druzos (seita de origem islâmica, mas considerada herética por sunitas e xiitas), muçulmanos xiitas (3%).

Fontes : Courrier International e Le Temps

Alta. Anteriormente modestas, as trocas comerciais entre a Suíça e a Síria tiveram um ligeiro crescimento no início do século 21.

Números. Em 2009, as exportações suíças totalizaram 209,4 milhões de francos (produtos agrícolas, farmacêuticos, químicos e relojoeiros. As importações suíças somaram 5,2 milhões (peças para relojoaria, joias e têxteis).


Cooperação. O escritório da agência suíça de cooperação (DDC) em Damasco coordena projetos de desenvolvimento na Jordânia, Síria e Líbano. Atualmente a DDC  financia programas regionais nas áreas de justiça social, proteção ambiental, boa governança e direitos humanos.


Projetos. A DDC apóia projetos de pequenas ONGs que têm um impacto social direto, que promovem a cultura local ou que facilitam a troca de experiências regionais.

Paz. Em 2011, a Suíça lançou um projeto de paz regional baseado na gestão da água, projeto que inclui a Síria.

Expatriados. Os suíços residentes na Síria eram dez em 1947, 60 em 1981 e 196 em 2009 (148 com dupla nacionalidade).

Na Suíça. Em 2009, 1023 sírios viviam na Suíça.

 Fonte : DFAE, Dicionário Histórico da Suíça

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