Figurinhas da Copa levam água a moçambicanos

Com a venda de figurinhas "alternativas" dos jogadores da Copa, uma revista e uma organização não governamental suíças apoiam um projeto de abastecimento de água potável no norte de Moçambique.
A revista quadrimestral “tschutti heftli” há quatro anos une cultura com futebol e tenta “conter um pouco a comercialização do nosso esporte preferido”, como escreve.
Por isso, como fez na Eurocopa 2008, ela lançou também para o Mundial na África do Sul um álbum alternativo de figurinhas (veja galeria na coluna à direita).
Cada um dos 37 cartunistas e ilustradores da Suíça e da Alemanha desenharam 13 retratos de uma seleção participante. São ao todo 445 figurinhas dos jogadores de 32 países e de 18 ídolos do futebol mundial.
Além do traço artístico, elas têm um outro diferencial em relação aos “Panini” convencionais: de cada pacotinho vendido, pelo menos 10 centavos de franco vão para um projeto da ONG “Viva con Agua”.
A jovem organização não governamental sediada em Lucerna arrecada fundos e doações para a construção e o reparo de poços artesianos no norte de Moçambique.
Água potável para 1 milhão de pessoas
“As vendas superam nossas expectativas. A primeira edição esgotou e já estamos vendendo a segunda, com mais 20 mil pacotinhos”, diz Silvan Glanzmann, diretor do projeto na tschutti heftli.
A área do projeto fica 2500 quilômetros ao norte da capital Maputo, no distrito de Macomia, na província de Cabo Delgado, onde a maioria da população não têm acesso à água potável.
Segundo a Viva con Agua, nos povoados de Milamba, Pequeue, Nova Zambézia, Manica e Rueia, por exemplo, há poços que não funcionam.
“Quando esses poços voltarem a funcionar, mais de 4500 pessoas terão água potável próxima de sua casa. Para isso, queremos arrecadar, no mínimo, 38.800 francos”, informa a ONG, que realiza o projeto em parceria com a Helvetas.
A Helvetas (Associação Suíça para a Cooperação Internacional) atua em Moçambique 1979. Junto com a população local, desde então já construiu 2 mil novos poços nas proviíncias de Maputo e Cabo Delgado.
Com isso, deu acesso seguro à água para mais de 1 milhão de pessoas, segundo dados fornecidos pelo porta-voz e coordenador de campanhas da entidade, Matthias Herfeldt.
“A construção das instalações de água potável é feita por empresas de construção locais. Com isso, a Helvetas presta uma contribuição importante ao desenvolvimento do setor privado.”
O futebol, a arte e o projeto
“Participei do álbum porque acho o projeto excelente e original”, diz a ilustradora teuto-brasileira Xenia Fink, que desenhou os retratos dos jogadores da seleção brasileira para a tschutti heftli.
Fink conta que sua família por parte da mãe é aficionada por futebol. “Nasci em São Paulo e, quando era menina, meu pai me levou várias vezes para o estádio do Palmeiras. Mas comicamente não me tornei uma grande fã do futebol.”
No entanto, ela diz que futebol e arte têm algo em comum. “Ambos têm a ver com muito exercício, força de vontade e uma porção de autoconfiança.”
Já o suíço Benedikt Notter, que fez as ilustrações da seleção de seu país, diz que quis encorajar a equipe, eliminada na primeira fase do Mundial. Seu avô era jogador do FC Lucerna, mas Benedikt só o viu uma vez em campo.
“Acho que o futebol é um esporte excitante, poderoso e impressionante, embora eu sempre fique perplexo com a seriedade com que se encara tudo isso”, diz.
Notter considera a tschutti heftli uma “maravilhosa plataforma para ilustradores. Em tom descontraído, coloca as pessoas em contato com o futebol.” E, no caso da edição especial para a Copa, ainda serve a um fim nobre: ajudar a levar água aos moçambicanos.
Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch
A Helvetas atua em Moçambique desde 1979.
Desde janeiro de 2009, ela executa um projeto de governança e abastecimento de água financiado pela Agência de Cooperação de Desenvolvimento Suíça para o período 2009-2011.
O projeto apoia a população lucal e as autoridades em povoados das províncias de Cabo Delgado e Nampula.
Setenta por cento dos beneficiados vivem abaixo da linha da pobreza.
Em 2009, cerca de 20 mil pessoas obtiveram acesso à água potável em mais de um dezena de povoados.

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.