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Cogumelos, uma paixão sem limites

Theres und Hannes Krummenacher mit drei Grosskindern
Theres e Hannes Krummenacher com seus sobrinhos na feira em Nelson. @Luca Beti

Os suíços Theres e Hannes Krummenacher emigraram para a Nova Zelândia há duas décadas. O casal não tinha um projeto concreto em mente, mas algo em comum: a paixão por cogumelos. Hoje, os Krummenachers dirigem uma empresa familiar de renome, especializada no cultivo e comercialização do fungo.

“Os cogumelos são a nossa grande paixão”, dizem Theres e Hannes Krummenacher. E quem duvidaria? Baseados em sua propriedade em Upper Moutere, na região de Nelson, no norte da Ilha ao Sul da Nova Zelândia, já há cerca de 15 anos eles investem tempo e dinheiro no cultivo de cogumelos.

Eles trouxeram sua paixão por cogumelos da Suíça. “No outono sempre tivemos cogumelos em casa”, rememora Hannes com um sorriso. “No nosso tempo livre íamos sempre à caça de cogumelos com o cesto debaixo do braço. O meu pai era perito em cogumelos e membro de uma associação micológica local.

Blick auf ein 52 Hektar grosses Anwesen
Vista da propriedade dos Krummenachers em Upper Moutere: mais de cinco mil árvores espalhadas em 52 hectares. Nesse espaço cultivam diferentes tipos de cogumelos. @Luca Beti

Viagem sem retorno

Os Krummenachers deixaram a Suíça há 21 anos, juntamente com seus filhos Curdin, Cecile, Chatrina e Anja. Eles não tinham um projeto concreto, apenas o desejo de deixar a Suíça e instalar-se na região de Nelson.

“Foi o lugar de que mais gostamos quando visitamos a Nova Zelândia anos atrás”, diz Theres. “E nunca nos arrependemos. É um lugar fantástico.” Tão fantástico que Hannes não quis mais voltar a viver na Suíça, e retornou ao país apenas uma única vez.

Suíços na Nova Zelândia

De acordo com o Departamento Federal de Estatística (BfSLink externo, na sigla em alemão), 7.004 cidadãos suíços viviam na Nova Zelândia no final de 2018, em comparação com 4.497 em 1993. Este número aumentou 55% em 25 anos. Mais de 5.000 têm dupla cidadania.

“À certa altura, nos perguntamos se teríamos que passar a vida inteira na Suíça, ou se teria chegado o momento de uma grande mudança”, recorda Hannes. “Depois de voltarmos de uma longa viagem no exterior, a Suíça ficou estreita demais para nós”, continua Theres. “Mas demoramos cerca de dez anos para estarmos prontos para este grande passo.”

Isso foi em 1998, quando Hannes tinha 39 anos e Theres 35. O mais velho, Curdin, tinha 15 anos, o mais novo, Anja, seis. Na Suíça, Hannes trabalhou como eletricista, Theres era parteira. Mas o que fariam eles na Nova Zelândia? Àquela altura, a resposta ainda estava escrita apenas nas estrelas.

Os Krummenachers encontraram uma casa em Richmond, uma pequena cidade perto de Nelson. Hannes encontrou trabalho como eletricista. Dois anos depois, compraram uma propriedade de 52 hectares em Upper Moutere.

“Os antigos proprietários tinham ali uma criação de veados”, explica Hannes. “Pinheiros isolados cresciam no terreno que, de outra forma, estava coberto de tojos, ou seja, de arbustos espinhosos.” A propriedade tornou-se o projeto de vida que eles procuravam na “terra da longa nuvem branca”.

Trufas, cogumelos porcini e sancha

Hoje é difícil imaginar como era a propriedade no início. De sua casa, que eles mesmos construíram, os Krummenachers podem desfrutar de uma vista magnífica com árvores novas que incluem bétulas, lariços, abetos, pinheiros, avelãs, carvalhos, oliveiras e castanheiras.

“Plantamos mais de cinco mil árvores numa área de cerca de vinte mil metros quadrados. É onde os nossos cogumelos crescem”, diz Hannes. “É um trabalho enorme que nos mantém ocupados o ano todo. Na primavera e no verão temos que podar as árvores maiores. Elas projetam sombras demais. Além disso, elas também fornecem lenha para secar os cogumelos e aquecer a casa.”

Micorrizas

A tecnologia que eles empregam é utilizada na agricultura e no cultivo de hortaliças. Trata-se de uma simbiose, chamada micorriza, entre um fungo e o sistema radicular de uma planta. O fungo obtém as substâncias necessárias para o seu desenvolvimento, como o açúcar, a partir das raízes da árvore, enquanto fornece à árvore água e minerais. A simbiose mais conhecida é entre a trufa e o carvalho.

“Depois de termos comprado a propriedade, nos perguntamos o que fazer com esta grande área. Criar ovelhas ou veados não era o nosso forte. Cultivar cogumelos, por outro lado, era”, diz Theres.

“A nossa ideia era cultivar trufas e cogumelos porcini. Então compramos algumas plantas que tinham sido inoculadas com estes cogumelos”, diz Hannes. “No entanto, o especialista que nos vendeu aconselhou-nos a comprar também algumas plantas vacinadas com o cogumelo conhecido comumente como sancha (Lactarius deliciosus).

Dois anos mais tarde, eles tinham seu próprio estande nos mercados locais de Motueka e Nelson, onde ofereceram o cogumelo sancha. Mas o início foi difícil: “As pessoas passavam por nós sem parar”, lembra-se Theres. “Os neozelandeses eram muito cépticos em relação aos cogumelos. Só compravam cogumelos que eram vendidos em supermercados”.

No entanto, graças aos cogumelos porcini secos, os Krummenachers conseguiram quebrar gradualmente esta resistência ao produto. Afinal, foram os meios de comunicação social, jornais nacionais e internacionais, rádio e televisão, que deram impulso de uma vez por todas à sua aventura empresarial.

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“Um renomado chef local de origem alemã tornou-se nosso cliente e ofereceu menus baseados no cogumelo sancha”, diz Hannes. Os jornalistas se interessaram pelo casal suíço, que foi o primeiro na Nova Zelândia a comercializar o Lactarius deliciosus.

“Parece fácil, por assim dizer. Mas foram precisos anos de trabalho árduo e muitas conversas em família”, recorda. “Quantas vezes nos perguntamos se realmente valia a pena investir tanta energia e dinheiro em uma empresa com um futuro incerto?

Hoje eles podem finalmente dar um suspiro de alívio. Sim, valeu a pena. Eles podem agora viver da venda dos cogumelos. Há sete anos, Hannes desistiu do emprego e garantiu uma renda mensal para se dedicar inteiramente à empresa familiar.

14 anos de espera

Como era de se esperar, o outono é a época da colheita. Entre meados de março e início de junho (outono no Hemisfério Sul), os dois suíços, às vezes com a ajuda de seus filhos, vão a cada dois dias à sua propriedade em busca de cogumelos. Estas são rodadas de colheitas específicas.

“Sabemos exatamente qual a zona que temos de percorrer para não perdermos tempo desnecessariamente”, diz Hannes. “O truque é definir o momento certo para colhe-los quando estiverem plenamente desenvolvidos. Deixamos os cogumelos que apareceram pela primeira vez para ajudar a alastrar o micélio.”

Vier Menschen und eine Pilzsuppe
A sopa de cogumelos dos Krummenachers recebeu em 2016 o primeiro lugar no concurso “Farmers Markets New Zealand Awards”. @Mike Lowe

Em dias bons, os Krummenachers recolhem até 50 quilos: fungos da manteiga (Suillus luteus), boletos granulares (Suillus granulatus), fungos da bétula (Leccinum scabrum), boletos de ouro (Suillus grevillei) e, é claro, a espécie que os ajudou a ter sorte no início, o cogumelo sancha (Lactarius deliciosus).

Em cada colheita anual, eles colhem uma média de uma tonelada e meia de cogumelos. “Isso não é suficiente para satisfazer a demanda de nossos clientes de toda a Nova Zelândia”, diz Theres. Através do seu site Neudorf MushroomsLink externo, eles vendem várias caixas herméticas de misturas de cogumelos secos, risoto, massa de cogumelos e uma sopa de cogumelos ganhadora um prémio nacional em 2016.

E o que aconteceu com as trufas? O casal suíço no estrangeiro responde: “Tivemos de esperar 14 anos para colher as primeiras trufas brancas e Perigord”, diz Theres. “Quando já não tínhamos esperança, nós as encontramos entre os carvalhos e as avelãs. Segurá-las nas mãos e cheirar o seu aroma foi um sentimento indescritível para nós. Elas nos recompensaram por todos os nossos esforços para cultivar nossa paixão: os cogumelos”.

Adaptação: DvSperling

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