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A informação que abre portas

Duas crianças se abraçando em uma rua
Diferentes origens e o mesmo caminho: as crianças superam mais facilmente as barreiras da integração. swissinfo.ch

O blog A Suíça de Portas Abertas faz seu primeiro aniversário - dia 1º de novembro de 2016 tinha início um novo projeto no site em português da plataforma swissinfo.ch. A data configura o fechamento de um ciclo, símbolo que requer avaliação de percurso, ajuste na rota e um brinde comemorativo.

Motivo para celebração é o que não falta: pelo alto índice de leitura e visualizações, pelo espaço que ganhamos na Rádio Lora de ZuriqueLink externo, que veicula as matérias todas as terças feiras no programa Pausa CaféLink externo, pelas carinhosas mensagens recebidas dos leitores, que agradecem pelo esclarecimento, pelos temas que sugerem e tantos outros. É muito bom saber que ajudamos outras pessoas a conquistarem uma maior qualidade de vida no exterior.

Temas humanizados – Nesses doze meses, foram publicadas 25 matérias, sempre voltadas a temas ligados à integração e migração de pessoas de língua portuguesa no país. A coluna falou sobre assuntos como dificuldade no aprendizado do alemão, de casamentos binacionais, sobre como lidar com a saudade, da importância do português como língua de herança, da valorização da própria cultura. O objetivo foi sempre o de esclarecer sobre questões que interferem na vida do migrante e possibilitar a autoconsciência e reflexão sobre as consequências da escolha de viver longe do país de origem.

Artigo do blog “Suíça de portas abertas” da jornalista Liliana Tinoco Baeckert.

Para o próximo ano, o blog trará análises ligadas à maternidade no estrangeiro, sobre o mercado de trabalho suíço e dicas sobre como ingressar nele, além de questões práticas ligadas à integração, escola, saúde, dando sempre espaço para entrevistados brasileiros e portugueses que queiram falar sobre as suas experiências na Suíça.

O escopo de assuntos é vasto, assim como a influência da migração em nossas vidas. Engloba fatores sociológicos, psicológicos, antropológicos, econômicos e linguísticos. Inúmeros tópicos que vão desde dificuldades no trato com o diferente a questões internas de identidade. Dilemas que acometem quem um dia foi ou está estrangeiro. Há sempre muito o que falar.

Falta de informação como barreira – Pois foi exatamente essa vasta palheta de temas e efeitos que levou à ideia de criar a coluna. Ao escrever minha tese de mestrado em Comunicação Intercultural pela Universidade de LuganoLink externo no ano passado, que pesquisou as barreiras interculturais enfrentadas por mulheres brasileiras na Suíça alemã, me deparei com a causadora dos mais altos paredões entre essas duas culturas: a falta de informação sobre questões migratórias, algo que separa em vez de integrar. As entrevistas mostraram que a carência de esclarecimento gerava frustrações com a diáspora, falsas expectativas, ruídos de comunicação, brigas, infelicidade e desajuste, nos seus mais variados graus e formas.

As três mais fortes barreiras identificadas no estudo – aprendizado do idioma, preconceito com o estrangeiro e comportamento fechado do suíço – poderiam ser atenuadas caso houvesse mais informação sobre o que significa deixar o país de origem e viver em uma sociedade tão diferente. Como a migração brasileira na Suíça é basicamente feminina, vê-se claramente que a desinformação ataca o grupo de mulheres, tornando-o ainda mais vulnerável aos efeitos de ser um cidadão estranho, que vem de fora – o estrangeiro.

Ir embora sem consciência – Repetindo o sonho do príncipe encantado, muitas dessas mulheres dão adeus à família sem muito refletir sobre o tamanho do passo que estão prestes a dar ou que deram. São basicamente emigradas do coração, que acreditaram no sonho bucólico do país de primeiro mundo como pano de fundo para um grande romance. Mesmo quem vem casada repete o típico comportamento dos colonizados pobres: se muda antes de se informar, acreditando que a vida sempre pode ser mais bonita num chalé nos Alpes. Perfeito, o ser humano gosta e quer sonhar. Mas ao se depararem com as tais barreiras culturais, se veem surpresas e sem referência a quem perguntar se o que sentem e vivem é realmente normal.

Não é culpa dos imigrantes, há pouco tempo se fala em psicologia intercultural, ajuda psicológica a quem deixou o país. A globalização tomou uma proporção que não há mais como ignorar as consequências de se ter 244 milhões de pessoas vivendo fora de seus países, segundo estatística de 2016 das Nações Unidas.

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A bandeira portuguesa com troféus na vitrine de um pequeno clube português em Scuol, cantão dos Grisões

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Crianças são esperança de um idioma ameaçado

Este conteúdo foi publicado em A primeira impressão de familiaridade é o cumprimento que as pessoas se dão nas ruas de Scuol.  “Allegra”, diz uma jovem ao turista que acaba de chegar. Em português, seria algo “olá”. Já pela manhã, as pessoas se cumprimentam com sonoro “Bun di”. O que soa por vezes como português é, na realidade, o reto-romanche,…

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Emigrar é coisa séria – Para começo de conversa, alguém disse que quando vamos embora temos que nos reconstruir? E sobre vulnerabilidades, formas diferentes de comunicação, que vão muito além da língua? Alguém te contou? A mim não, e nem a nenhuma das minhas entrevistadas. A partir dessa brecha enorme, então, e baseada na minha experiência pessoal de estrangeira e de jornalista, surgiu a vontade de levar a mensagem aos quatro cantos.  A emigração não pode ser subestimada. Como toda mudança brusca, interfere nas questões mais profundas de cada indivíduo, ligadas até mesmo ao luto da perda. Se mal preparada, pode dar errado. Mas que se bem-feita, com informação devida e respeito às diferentes fases, é um presente – oportunidade única de ver a vida e o mundo sob um ângulo totalmente distinto.

Quem bebe dessa fonte inesgotável de riqueza geralmente se vicia; se torna cidadão do mundo. Mas até chegar nessa fase do jogo, passa por muitas privações, ajustes, até a restruturação do próprio eu. A tão clamada adaptação não chega sem balançar estruturas. Morar fora tem seu preço, mas também seus lucros. A escolha sobre como vai se encarar é sua. Informar-se, entretanto, é imprescindível.

Abrindo as portas da Suíça – Me despeço aqui agradecendo a delicadeza e atenção dos leitores, que me escrevem nas redes sociais, elogiam e curtem os textos. Estou aberta a sugestões e cheia de disposição para esse segundo ciclo que se inicia. Desejo a todos uma caminhada de muitas barreiras depostas, de muitas pontes que conectam e uma Suíça de portas abertas. 

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