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Suíça descobre emigrante pintor

Image tirée du livre William Michaud (1829-1902)

Museu suíço expõe pela 1a. vez a obra de William Michaud (1829-1902) que viveu e morreu no Brasil. Publica também a correspondência que Michaud enviou à sua família, acompanhada de aquarelas e grafites para ilustrar como e onde vivia.

William Michaud passou a maior parte de sua vida na colônia suíça do Superagui, litoral do Paraná. Paradoxalmente, ele é reconhecido como pintor e tem obras no Museu de Arte do Paraná e em coleções particulares em Curitiba mas só agora tem uma chance de ser conhecido em sua cidade natal.

O Museu Histórico de Vevey (sudoeste da Suíça) recupera o tempo perdido e expõe até 12 de janeiro do ano que vem 76 grafites e aquarelas de Michaud, 102 anos depois da morte do emigrante. Foi mais além e publica as 71 cartas que ele escreveu para sua família durante os mais de 50 anos em que viveu no Brasil.

Relatos da situação política

As cartas constituem um testemunho interessante da vida cotidiana de um emigrante suíço no Brasil conturbado do fim do século XIX, entre o fim do Império e o início da República.

“A proclamação da República surpreendeu todo mundo, foi como uma cena de teatro”, escreveu Michaud a sua irmã Nancy em 20 de novembro de 1889.

“Depois de minha última carta, as coisas no Brasil vão um pouco melhor; o governo atual é mais decente e o presidente, no Rio de Janeiro, tenta pacificar o país; não sei se vai conseguir, espero que sim”, escreveu em 5 de maio de 1895, referindo-se ao governo de Prudente de Morais (1894-1898).

Suas cartas eram acompanhadas de desenhos e aquarelas para mostrar como e onde vivia, enviados dentro de um pedaço de bambu para não serem amarrotados pelos correios nos dois meses que levavam até chegar à Suíça. “Esses desenhos têm só o mérito de mostrar com bastante exatidão aspectos das florestas, do país e de alguns constumes brasileiros”, explicou às suas irmãs.

Aventura começa aos 19 anos

Filho de um comerciante de vinhos, William Michaud estudou até o nível secundário e fez cursos de desenho com um conhecido professor da época, em Vevey.

Triste com a morte da mãe e em conflito com o pai que o queria ver como comerciante, Michaud partiu em 1848 acompanhando um outro suíço, Henri Doge, que pretendia cultivar bicho da seda no Brasil. Tinha então 19 anos e ilustrou o diário de Doge até a chegada ao Rio de Janeiro.

O cultivo do bicho da seda não deu certo e Michaud foi trabalhar com um engenheiro topográfico francês em Minas e Goiás. Voltando ao Rio, em 1852, soube da colônia agrícola em formação do Superagui, perto de Paranaguá, onde se torna um dos pequenos proprietários.

Prosperidade e decadência

Durante cerca de 20 anos, a colônia progressa e chegou a ter mais de mil habitantes, correio e escola (onde Michaud ensinava) graças principalmente ao cultivo do café. Era então uma espécie de intelectual do Superagui e correspondia com o governador do Paraná, Visconde de Taunay, que lhe enviava livros.

Nessa época, Michaud fala das “vantagens” de se instalar no Brasil “para os proletários que morrem de frio e de fome nos invernos europeus (…) e para os que não têm futuro na Suíça”.

A decadência começou, segundo o próprio Michaud, com a superpopulação da colônia e a desorganização que se seguiu à proclamação da República.

Descendentes na reserva

Casado com uma brasileira, Michaud teve 7 filhas e dois filhos e morreu em 7 de setembro de 1902, sem nunca ter voltado à Suíça. Nos últimos anos de sua vida, tornou-se nostálgico e dizia que, se tivesse que refazer a vida, nunca teria deixado a Suíça.

Sua correspondência e seus grafites e pinturas dormiam nos arquivos do Museu Histórico de Vevey desde 1922. São agora mostrados ao público graças a muitas pessoas, especialmente à arquivista Marjolaine Guisan, à conservadara do MHV, Françoise Lambert e à Associação dos Amigos de Michaud, recém criada.^

A casa onde está instalado o Museu Histórico de Vevey pertenceu ao pai de William Michaud e é onde ele passou sua infância.

Vários descendentes de Michaud ainda vivem como modestos pescadores no Superagui, reserva e parque nacional desde 1989.

swissinfo/Claudinê Gonçalves

A exposição de William Michaud fica aberta até 12 de janeiro de 2003 no Museu Histórico de Vevey.

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