Perspectivas suíças em 10 idiomas

A “Nouvelle Vague” da relojoaria: jovens designers que são bons alunos

Imagem
Thomas Kern/Thomas Kern / swissinfo.ch

A saúde da indústria relojoeira suíça é medida não apenas pelas exportações, que estão batendo recordes, mas também pelo surgimento de novas marcas fundadas por jovens designers e empreendedores. Especialista em relojoaria, o jornalista Alexey Tarkhanov apresenta esse novo cenário da indústria.

Você acha esse tema interessante e gostaria de receber uma seleção do nosso melhor conteúdo diretamente no seu endereço e-mail? Assine nosso boletim informativo clicando AQUI.

No cantão de Vaud, a prestigiosa marca de luxo Jaeger-LeCoultre não esquece de seus fundadores, Antoine LeCoultre e Edmond Jaeger. Em Genebra, a Vacheron Constantin também mantém viva a memória de seus fundadores, Jacques-Barthélemy Vacheron e François Constantin. Abraham-Louis Breguet, por sua vez, não está mais no comando da Maison Breguet, mas sua presença continua viva: os grandes clássicos da arte relojoeira são fruto do gênio de jovens visionários.

Dois séculos depois, nos anos 1990-2000, um grupo de novos criadores assumiu o controle da indústria relojoeira: Maximilian Büsser da MB&F, Felix Baumgartner e Martin Frei da Urwerk, François-Paul Journe e Kari Voutilainen… para citar apenas alguns relojoeiros independentes cujo trabalho agora alcança preços astronômicos em leilões.

Imagem
O relojoeiro François-Paul Journe fotografado no saguão de seu ateliê em Genebra. KEYSTONE/KEYSTONE/Pascal Mora

Após essa explosão de talentos, houve um período de calmaria no microcosmo relojoeiro suíço. Poucos novatos conseguiram deixar sua marca. Com a notável exceção de Rexhep Rexhepi, um cidadão de Genebra originário de Kosovo, que fundou sua marca, Akrivia, em 2012, aos 25 anos de idade.

Sua ascensão foi rápida, assim como o reconhecimento de seus pares: seu Chronomètre Contemporain ganhou o prestigioso prêmio de melhor relógio masculino no Grand Prix d’horlogerie de Genève em 2018. Hoje, a Akrivia é uma referência inquestionável, e Rexhep Rexhepi foi escolhido no final de 2023 para realizar uma colaboração com a Louis Vuitton. Ele se tornou o rosto da bem-sucedida “Nouvelle Vague” (“Nova Onda”) da relojoaria, chamada assim em referência ao movimento cinematográfico dos anos 60.

A verdadeira “Nouvelle Vague” está chegando

Mas já faz alguns anos que Rexhep Rexhepi não está mais sozinho. Novos nomes estão surgindo no mercado de relógios. “Guillaume Laidet, da Nivada Grenchen e Vulcain, Étienne Malec, da Baltic, e Andrea Furlan, da Furlan Marri, fazem parte de uma nova geração de empreendedores relojoeiros”, diz Serge Maillard, jornalista e editor da revista especializada Europa Star.

Nicolas Freudiger, cofundador da marca ID Genève, que conseguiu atrair Leonardo DiCaprio como um de seus investidores, certamente está nessa lista. Além dele, também temos Julien Tixier, que cria relógios excepcionais em sua oficina no Vallée de Joux, no cantão de Vaud. E Simon Brette, cujo Chronomètre Artisans foi nomeado “Revelação na Relojoaria” na última edição do Grand Prix de Genève, em 2023.

+ O sucesso da relojoaria suíça deve muito à audácia e imaginação dos seus designers

Uma vez que a indústria relojoeira já conta com mais de trezentas marcas com o rótulo “swiss made”, como explicar o surgimento de novos atores em um mercado frequentemente considerado saturado?

“Alguns clientes estão muito frustrados com as casas relojoeiras tradicionais, que estão constantemente aumentando seus preços e não conseguem se comunicar com o novo público”, avalia Guillaume Laidet, jovem empresário e entusiasta da relojoaria.

Os artesãos da “Nouvelle Vague” têm como alvo dois segmentos distintos de compradores: colecionadores apaixonados e entusiastas de modo geral. O primeiro segmento, que é o público da Akrivia, consiste em colecionadores ricos em busca da originalidade e qualidade que não conseguem mais encontrar nas grandes marcas, que reservam suas peças mais exclusivas para um círculo fechado de compradores fiéis.

Homem sorrindo
Kari Voutilainen em seu ateliê no Chapeau de Napoléon, acima de Fleurie. Céline Stegmüller / swissinfo.ch

A Patek Philippe é especialmente conhecida por sua abordagem rigorosa em relação aos compradores de seus relógios mais raros: assim como para obter uma bolsa Hermès, é preciso conquistar o privilégio. Diante dessas práticas, os novos ricos mais jovens preferem recorrer diretamente a designers da sua geração.

O advento da internet aumentou a visibilidade do trabalho desses novos fabricantes. “Tivemos que lutar durante décadas para explicar às pessoas o que fazíamos. Eles [os novos designers] simplesmente colocam seu projeto no Instagram e dezenas de pessoas correm gritando ‘Pegue meu dinheiro’”, diz Maximilian Büsser, relojoeiro e fundador da marca MB&F.

Uma marca jovem que produziu algumas maravilhas pode desaparecer tão rapidamente quanto apareceu, deixando para trás um rastro de relógios extravagantes que, infelizmente, não têm conserto. Ainda assim, alguns entusiastas estão dispostos a correr esse risco, seja por curiosidade ou vontade de apoiar a evolução da relojoaria.

Novos designers para novos públicos

O desejo de revitalizar marcas suíças que haviam caído no esquecimento levou Guillaume Laidet a adquirir a Nivada Grenchen e a Vulcain. Ele relançou a primeira, fundada em 1926, em 2020, e a segunda, criada em 1858, em 2021. Ele lamenta não ter podido acrescentar à sua coleção a Universal Genève, outra bela adormecida recentemente adquirida pela Breitling.

Homem sentado
Maximilian Büsser, fundador da marca MB&F. MB&F

Laidet adota uma estratégia diferente: em vez de produzir relógios extremamente caros em quantidades muito pequenas, ele cria relógios mecânicos que são acessíveis ao público em geral. As novas marcas tendem a atuar no comércio online, mas permanecem orientadas pelos valores e conhecimento suíços, como evidenciado pelo visual frequentemente vintage de suas coleções.

Essa postura de “bom aluno” dos novos relojoeiros contrasta com o cenário dos anos 2000. Em casos extremos, certos relógios podem parecer uma imitação, ou até mesmo uma falsificação: ao reproduzir os best-sellers da nobreza relojoeira, alguns dos novos fabricantes colocam seu próprio nome em mostradores que poderiam pertencer à Patek Philippe ou à Rolex.

Esse fenômeno é quase chocante para os designers de relógios da virada do milênio, que geralmente se viam como rebeldes dentro da indústria. “Não entendo por que, em vez de desafiar as regras, como nós fizemos, eles se contentam em segui-las à risca”, diz Felix Baumgartner, cofundador da Urwerk. De fato, nas peças publicitárias, às vezes temos a impressão de que estamos vendo produtos que são o resultado de uma inteligência artificial (IA) que recebeu a seguinte solicitação: “Crie um relógio que reúna todos os clássicos suíços”.

“Não trabalhamos com IA”, diz Guillaume Laidet, sorrindo. “Não somos oportunistas, estudamos os catálogos da época para encontrar inspirações que sejam as mais fiéis à imagem dessa ou daquela marca”. Ele acredita que suas marcas atraem todas as gerações, desde jovens entusiastas até colecionadores experientes. “Mas todos concordamos em uma coisa: a nova onda da relojoaria corresponde a uma nova geração de clientes. Isso comprova que o relógio clássico continua na moda, independentemente das circunstâncias”, diz ele.

Mostrar mais

Edição: Samuel Jaberg/fh
(Adaptação: Clarice Dominguez)

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR