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Um documentário para revelar os mistérios de Toscanini

Cena inicial do documentário preparado pelos jornalistas Nicoletta Gemnetti e Fabio Calvi. swissinfo.ch

Um documentário da Televisão Suíça Italiana (TSI) apresenta o maestro italiano Arturo Toscanini em imagens caseiras, inéditas na mídia. E mergulha no universo familiar do venerado maestro na Suíça, na Itália e nos Estados Unidos.

Um documentário da Televisão Suíça Italiana (TSI) apresenta o maestro italiano Arturo Toscanini, em imagens caseiras, inéditas na mídia. E mergulha no universo familiar do venerado maestro na Suíça, na Itália e nos Estados Unidos.

O documentário “Toscanini Inédito, Recordações e Imagens Jamais Vistas” exibe ao telespectador o maestro no papel de pai, marido e avô da sua família. E nem de longe ele lembra o perfeccionista que perseguia os músicos que erravam uma nota ou aterrorizava os sopranos e barítonos que desafinavam. Ao contrário, em família ele era amável, cordial, paciente e atencioso. E tudo registrado com cenas gravadas pelo filho Walter Toscanini.

O filme tem uma hora de duração e foi produzido ao longo dos últimos 12 meses pela Televisão Suíça Italiana. Ele foi realizado pelo diretor Fabio Calvi e pela jornalista Nicoletta Gemnetti. A equipe viajou pela Itália, pelos Estados Unidos e Suíça em busca de pessoas que conviveram intimamente com o grande maestro italiano, morto 51 anos atrás. A maior parte do material apurado foi pesquisado e retirado do arquivo da família, através dos netos de Toscanini, Emanuela de Castelbarco, filha de Wally, e Walfredo, filho de Walter. No documentário eles relatam as suas lembranças e contam como o avo era um homem afetuoso.

Obsessões de um artista

O maestro costumava a ler as partituras como um padre pode ler as sagradas escrituras. Na obsessão de interpretar e executar as notas musicais com reverência e lealdade ao compositor era deixada de lado quando Arturo Toscanini ia embora do teatro para casa. Lá dentro, Tosca, como era chamado pela mulher, se tornava um ser humano normal. Muitas cenas mostram o maestro caminhando na praia, brincando no jardim de casa e tocando piano num sarau familiar.

“Impressionou-me descobrir através deste documentário que Arturo Toscanini era um homem como outro qualquer. E a sua grandiosidade diante de uma orquestra, ao limite do tolerável pelo rigor, era transferido para a família, para os netos de forma mais humana”, contou a swissinfo Fabio Calvi, durante a apresentação do documentário no Centro Cultural do Consulado da Suíça em Milão. “A coisa mais difícil, talvez, tenha sido a tentativa de dar esta dimensão familiar de Toscanini, e tentar não se deixar fascinar pela música e pela profissionalidade do maestro.”

Para traçar o retrato íntimo de Arturo Toscanini, Fabio Calvi e Nicoletta Gemnetti, entrevistaram historiadores, biógrafos, diretores de teatros, além de personagens que, de uma forma ou de outra, foram marcados pelo encontro com o maestro. E o território helvético foi fértil para o nascimento de histórias que até hoje são contadas por quem as viveu em primeira pessoa.

Testemunhos oculares

Em Lugano, foi encontrada a soprano Anne Rogosin. Ela tinha sido descoberta pelo maestro Arturo Toscanini e, em 1946, viajou para uma temporada de ópera lírica em Nova York. No Cantão Vaud (oeste), os jornalistas acharam Elizabeth, a viúva do maestro alemão Wilhelm Furtwaengler – “contraponto” germânico do italiano Toscanini – quase centenária, mas como uma memória muito viva. Porém, foi em Lucerna que a semente plantada pelo maestro italiano deu mais frutos e continua dando ate hoje.

Em 1938 sopravam os ventos da guerra na Europa. Toscanini era antifascista e antinazista. Fiel aos seus princípios, ele se recusou a participar de festivais de música na Áustria e na Alemanha. Assim, Lucerna, na neutra Suíça, acabou sendo a opção do maestro quando aceitou o convite para criar um festival, hoje famoso no mundo inteiro. Arturo Toscanini não cobrou nada, mas fez questão de ganhar a hospedagem para toda a família e mais 140 ingressos grátis para os seus amigos.

Em Lucerna a equipe do documentário conheceu Roberto Zurflu. Ancião, ele lembra quando se encarregava de completar a ligação telefônica entre a Suíça e a Itália. Naquela época o telefonema internacional não era automático e era necessário marcar a hora e passar pela operadora antes de falar com quem estava do outro lado da linha.

Agradecimento

Nicola Gemnetti conta que o festival de música de Lucerna existe graças ao maestro Arturo Toscanini e à aversão que tinha pelos regimes que privam a liberdade do indivíduo. “Ele fundou o festival de Lucerna, conhecido em todo o mundo. Foi um pouco por acaso. Toscanini era antifascista e antinazista e se recusou em ir aos festivais de Salzburgo, na Áustria, e de Bayreuth, na Alemanha, em homenagem a Wagner. Ele aceitou o convite de uma cidade, Lucerna, que queria fazer do festival uma promoção turística e ali nasceu tudo”, conta ela à swissinfo.

Hoje o festival é um importante cartão de visitas para Lucerna, como foi na época do maestro. Fabio Calvi, diretor do documentário lembra que nem tudo eram flores na cidade suíça. “Esta aura que circula ainda sobre Lucerna, de ter sido uma ilha feliz em meio à tormenta do nazifascismo não é verdadeira. Conversando com os historiadores vimos que a orquestra do teatro La Scala participou do festival de 1942. Mas foi, sem dúvida, graças ao maestro Toscanini que nasceu uma tradição ate hoje é muito viva”, explicou ele.

swissinfo, Guilherme Aquino, de Milão

Arturo Toscanini (Parma, 25 de março de 1867 — Nova Iorque, 16 de janeiro de 1957) é considerado por muitos críticos e músicos como o maior regente de orquestra que o mundo já conheceu.

Estudou violoncelo no Conservatório de Parma e tornou-se violoncelista da orquestra do Teatro alla Scala de Milão. Tocou violoncelo na estréia mundial do Otello de Verdi. Em 1886, quando Toscanini completava apenas dezenove anos de idade, a Orquestra do Teatro alla Scala visitou o Brasil, onde Toscanini esteve como simples violoncelista.

Seu destino seria mudado quando, certa noite no Teatro Lírico do Rio de Janeiro, durante uma apresentação da Aida de Verdi, o regente foi vaiado. Convidado a subir ao pódio, Toscanini regeu uma Aida tão magnífica que foi aplaudido estrepitosamente pelo público do Rio, considerado então como um dos centros mundiais da ópera.

Jornais do mundo inteiro noticiaram o evento, de forma que o maestro tornou-se uma figura de destaque internacional. Toscanini regeu a estréia mundial de várias óperas de Puccini e estabeleceu-se em Nova Iorque, onde se tornou regente do Metropolitan Opera House e da Orquestra Sinfônica de Nova Iorque. Durante várias décadas, Toscanini “reinou” na cidade norte-americana, que graças à presença do maestro ganhou destaque no mundo da música erudita, assim como Viena, Paris, Londres, Berlim ou Milão.

A pianista brasileira Guiomar Novais, Arthur Rubinstein, Bidu Sayão, Jascha Heifetz, Claudio Arrau, Alexander Brailowsky, Sergei Rachmaninoff, Igor Stravinsky foram alguns dos músicos de importância mundial que se instalaram nos Estados Unidos (principalmente em Nova Iorque) nessa época, dada a situação da Europa entre as duas guerras mundiais.

Toscanini era francamente antifascista. Chegou a afirmar certa vez: Abram as portas das prisões, soltem todos os criminosos. Não encontrarão nenhum bandido pior que Mussolini.

Sua filha, Wanda Toscanini, era casada com o também famoso pianista Vladimir Horowitz. (Fonte: Wikipédia em português)

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