Perspectivas suíças em 10 idiomas

Um museu italiano com inspiração suíça

Musée de l'Auto de Milan swissinfo.ch

Um arquiteto suíço dá nova vida ao Museu do Automóvel de Turim, centro da indústria automobilística italiana. Através da cenografia, François Confino transformou um museu tradicional em um moderno santuário do automóvel.

O projeto levou quatro anos e têm-se a impressão, única nesse tipo de museu, de que tudo está em movimento.

O renascimento do Museu do Automóvel de Turim coincide com a realização do protótipo de um carro desenhado por  Leonardo da Vinci. A geringonça em madeira e cordas impressiona pela intuição do gênio.

“Em 1478 ele projetou esta espécie de carro. Claro, o veículo nunca foi construído, mas a ideia básica estava lá. As rodas, o mecanismo do movimento etc; o fizemos com a ajuda dos croquis de Leonardo da Vinci. Temos ainda a reconstrução do carro a vapor, de 1769, o primeiro automóvel da história”, diz à swissinfo.ch, o arquiteto suíço, François Confino, responsável pela revitalização do museu que tem 30 seções à disposição dos visitantes.

François Confino trabalhou em sintonia com o projeto do arquiteto milanês, Cino Zucchi, responsável pela construção da nova ala e da reforma das instalações antigas. O suíço se move pelos corredores do prédio com a desenvoltura de quem conhece cada metro quadrado do imóvel.

Nos últimos quatro anos o arquiteto, nascido em Genebra, mergulhou nas entranhas do velho museu e o transformou num moderno santuário do automóvel. Mas, a grande manobra foi a de fazer do local um templo à civilização do carro. Ou seja, “transportar” dentro de cada veículo exibido uma passageira muito especial: a história da humanidade.

Projeto

A interatividade é uma das principais atrações do novo museu. “Um museu, hoje, tem várias funções e as pessoas não querem apenas ter um contato com uma tela digital. Elas querem ver as coisas reais, tocar a história viva. Os carros são importantes e o que acontece ao redor deles também é”, afirma François Confino.

Ele tinha as ideias bem claras quando aceitou o encargo de criar a cenografia da mostra de 200 carros. “ No passado podíamos expor um automóvel com uma placa na qual se liam os dados. Era uma contradição fundamental e paradoxal em respeito à função original do carro. Então, eu decidi introduzir o movimento ao redor do carro para equilibrar a imobilidade obrigatória devido ao espaço. E para isso realizamos alguns truques”, conta o arquiteto-cenógrafo.

Confino  tomou a palavra automóvel ao pé da letra, a “desmontou” e fez do museu um novo o significado do vocábulo. Por isso, cada coleção de carros está inserida num determinado contexto político, econômico e social. Todas estas informações são acompanhadas de projeções audiovisuais e de objetos de época que circundam a evolução do automóvel.  “Boa pare dos filmes, gravações dos rumores de fábrica e narrações antigas são originais.  Os áudios que criamos respeitam o período de origem”, afirma François Confino.

Movimento

 

A lei da inércia foi superada pela criatividade do homem. Na sala dos “loucos anos20 e 30”, estão um Rolls Royce, de 1914, um Isotta Fraschini 8, de 1920, ao lado de painéis gigantes de Greta Garbo e Rodolfo Valentino,  ao som de “charleston” e das imagens de filmes mudos e com cenas de carros em ação. Já os anos 50 e 60, do boom econômico, revelam o estilo de vida dos motoristas e passageiros da minúscula Fiat 500 cercada de cadeiras e cestas de piquenique.

Uma das instalações que mais chama a atenção é a dos carros de corrida. O mito da velocidade é representado por uma competição imaginária. Na pista estão 25 modelos que “correm” entre os anos de 1907 e 1987. Para dar a ilusão de movimento, uma imagem projetada sob os carros alinhados desfilam como se fosse um “asfalto vivo”, animado. E, claro, o ronco dos motores que tomam conta do ambiente.

Fábrica

A história da produção em série está nas seções Sinfonia Mecânica e  Metamorfose. O visitante pode “entrar” numa linha de montagem, ouvir e ver o trabalho dos operários, num percurso que vai dos mínimos componentes até a instalação do motor. Não por acaso, o pioneiro Model T, da Ford, o primeiro a ser fabricado numa linha de montagem, está num jogo de espelhos que o multiplica ao infinito.

 

A cenografia passa também inclui os esboços e desenhos dos carros. Foi realizado um profundo trabalho de pesquisa para recuperar documentos antigos. “Nós conseguimos recuperar os projetos originais, as plantas do chassis, da traseira, da lateral, da frente de alguns carros, como este aqui, a Cisitalia 202, de 1947, um dos mais belos carros jamais construídos”, diz François Confino.

Carro e cinema

 

Ele lembra que quando caminhava com o pai, pelas ruas de Genebra, admirando os carros e visitando o famoso Salão do Automóvel, nunca pensou que um dia iria construir um museu dedicado aos carros.

 Mas também, quando assistia aos filmes, não pensava em realizar um museu do Cinema como fez em Turim,  dez anos atrás.

Agora, François Confino, usa os faróis dos carros para exibir a história da humanidade. Ele criou um drive-in de cultura.

A tela da instalação dos carros de corrida possui 50 metros de extensão.

O museu conta com um acervo de 200 carros de 80 marcas, de 8 países: Itália, Alemanha, Estados Unidos, França, Inglaterra, Holanda, Espanha, Polônia.

Os modelos expostos vão de 1769 até 1996.

O custo total de remodelação do museu foi de 33 milhões de euros.

Deste total, o projeto de cenografia, realizado por François Confino, custou 11 milhões de euros.

O museu possui 19 mil metros quadrados distribuídos em dois andares mais o térreo, dos quais 11.443 m2 são destinados à exposição.

A obra durou 4 anos.

O Museu do Automóvel de Turim nasceu em 1932. A atual sede é de 1960. Com a reforma ele praticamente dobrou de dimensão.

O museu divide-se em três grandes temas: o automóvel e o século 20; o homem e o automóvel; o automóvel e o design.

O Centro de Documentação possui um acervo de 700 revistas especializadas, 6.500 livros sobre o tema, 25.000 imagens, informações de 1.500 fábricas, 3.500 corridas e 2.000 personagens da história do automóvel. Dentro de poucos meses o material  estará disponível na página virtual do museu.

Turim tinha, no começo do século passado, 30 fábricas de carros –  de um total de 100 no país.

François Confino é famoso por unir a arquitetura com outras disciplinas como o vídeo e o som.

Ele foi o responsável pela projeto cenográfico da abertura do Centro George Pompidou, em 1977, em Paris. Tem obras espalhadas do Brasil aos Estados Unidos, passando pela Suíça e China.

Turim

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR