Trump e Epstein, UBS e testes nucleares
Bem-vindo à nossa revista de imprensa sobre os acontecimentos nos Estados Unidos. Todas as quartas-feiras, analisamos como a mídia suíça noticiou e reagiu a três notícias importantes nos EUA – nas áreas da política, finanças e ciência.
A grande notícia política na Suíça esta semana foi o anúncio, na sexta-feira (14), de um acordo comercial com os EUA: as tarifas sobre as importações suíças serão reduzidas de 39% para 15% em troca de investimentos consideráveis por parte de empresas suíças.
Nos EUA, no entanto, a grande notícia política foi a possível divulgação dos arquivos do Departamento de Justiça sobre o falecido criminoso sexual Jeffrey Epstein, algo a que o presidente dos EUA, Donald Trump, se opôs durante meses antes de mudar de ideia no fim de semana. Qual é a opinião da Suíça sobre a reviravolta de Trump?
Esta semana, também analiso os últimos desenvolvimentos na especulada mudança do UBS para os EUA e a decisão de Trump de retomar os testes com armas nucleares.
Após muitas reviravoltas, a publicação dos chamados “Epstein files” está cada vez mais próxima, informou a emissora pública suíça SRF na quarta-feira. “Eles contêm dinamite política ou não?”, questionou a emissora.
Na terça-feira, o Congresso controlado pelos republicanos votou quase por unanimidade para forçar a divulgação dos arquivos do Departamento de Justiça sobre o falecido criminoso sexual Jeffrey Epstein, um resultado pelo qual o presidente Donald Trump lutou durante meses antes de dar uma guinada no domingo.
“Quando percebeu que um número suficiente de republicanos votaria a favor da publicação, o próprio presidente partiu para a ofensiva e se manifestou a favor da publicação. Ele não conseguiu varrer a questão para debaixo do tapete e descartá-la como uma nota trivial”, disse a SRF.
O escândalo Epstein tem sido um espinho no pé de Trump há meses. Muitos eleitores de Trump acreditam que seu governo encobriu os laços de Epstein com personalidades poderosas e obscureceu os detalhes em torno de sua morte, que foi considerada suicídio, em uma prisão de Manhattan em 2019.
“Escrever ‘Não me importo!’ em letras maiúsculas dá a impressão contrária”, afirmou o jornal em um editorial na segunda-feira. “Após meses de resistência, ninguém acredita que Trump não se importe com a publicação dos arquivos. Além disso, é absurdo pedir aos políticos que instruam o governo a divulgar os arquivos: Trump poderia publicá-los a qualquer momento. Ele não precisa de uma ordem do Congresso para fazer isso.”
O Tages-Anzeiger acrescentou que a reviravolta verbal provavelmente não convenceria nem mesmo os apoiadores de Trump. “Eles acreditam em quase tudo que o presidente diz. No entanto, eles são céticos em relação ao caso Epstein, que diz respeito ao abuso de menores. Portanto, apenas a publicação dos arquivos serviria como um golpe libertador. Qualquer outra coisa alimenta a suspeita de que eles realmente contêm informações explosivas — ou, pelo menos, algo desagradável para Trump.”
O projeto de lei exige que todos os arquivos de Epstein sejam tornados públicos dentro de 30 dias após Trump assinar a lei. Isso permite que o Departamento de Justiça analise os documentos em busca de informações confidenciais e faça edições.
- Explicações sobre o caso EpsteinLink externo – SRF (em alemão)
- A cobertura mais recente sobre Epstein pela RTSLink externo (em francês) e pelo Neue Zürcher ZeitungLink externo (em alemão, paywall)
- Vítimas de Epstein obtêm vitória, mas os arquivos ainda não são públicosLink externo – Tages-Anzeiger (em alemão, paywall)
- Trump reitera que não teve “nada a ver” com Jeffrey EpsteinLink externo – Tribune de Genève (em francês)
- Tages-Anzeiger editorialLink externo (em alemão, paywall)
Será que vai acontecer? Há meses circulam rumores de que o banco suíço UBS vai transferir sua sede para os Estados Unidos se o governo suíço não recuar nas novas regras de capital. Na segunda-feira, foi revelado que o presidente do UBS, Colm Kelleher, e o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, discutiram o assunto em particular.
O governo Trump estava “receptivo a receber um dos ativos mais valiosos da Suíça”, afirmou o Financial Times, que divulgou a notícia, citando “três pessoas familiarizadas com a conversa”.
A posição oficial do UBS não mudou: “Como já afirmamos repetidamente, queremos continuar a operar com sucesso como um banco global com sede na Suíça”.
Thomas Jordan, ex-presidente do Banco Nacional Suíço, disse à televisão pública suíça SRF na terça-feira que não podia julgar se tal medida do UBS era realista, mas deixou claro que “o importante é não fazer ameaças como essa”. Ele disse que era necessário haver um diálogo objetivo entre o governo e o banco sobre as regulamentações de adequação de capital, sem emoções. É necessária estabilidade, por um lado, e um setor financeiro viável, por outro. “Isso não é importante apenas para o UBS e o setor financeiro, mas para toda a economia”, disse Jordan.
“É tão provável que o UBS deixe a Suíça quanto os bilionários” – ou seja, ele permanecerá –, de acordo com uma análise do tippinpoint.ch, um site de notícias sobre finanças e sustentabilidade. “Se acreditarmos nos políticos e comentaristas, malas estão sendo feitas na Suíça – pelos funcionários do UBS e pelos bilionários. Assim como na disputa alfandegária com os EUA, seria bom ver mais determinação e menos pânico”, escreveu o site na terça-feira.
Ele lembrou que reportagens semelhantes no New York Post no mês passado não geraram muita indignação, “em parte porque o ponto forte do mensageiro era a fofoca sensacionalista”. Então, agora que o FT está cobrindo o assunto, ele é sério? “Dificilmente. Porque, na questão crucial dos requisitos de adequação de capital para o último grande banco global da Suíça, o lobby sem precedentes do UBS provavelmente será bem-sucedido”, escreveu o tippinpoint.ch. “O vento político parece estar mudando”.
- Presidente do UBS conversou com Scott Bessent sobre a transferência do banco para os EUA – Swissinfo via The Financial Times
- Cobertura da RTSLink externo (em francês), 24heuresLink externo (em francês) Tages-AnzeigerLink externo (em alemão) e BlickLink externo (em alemão)
- Entrevista com Thomas JordanLink externo – SRF (em alemão)
- Análise do tippinpoint.chLink externo (em alemão)
Os Estados Unidos e a Rússia estão discutindo a possibilidade de realizar novos testes com armas nucleares. “Quase tudo é completamente incerto”, afirmou a rádio pública suíça SRF, que pediu a um especialista em ameaças nucleares e dissuasão para esclarecer um pouco a questão.
“Uma nova era de irracionalidade nuclear se aproxima”, alertou o Tages-Anzeiger há algumas semanas, logo após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ordenar ao Pentágono que retomasse os testes com armas nucleares pela primeira vez desde 1992. Desde então, a maioria dos países com armas nucleares realizou simulações de explosões nucleares usando computadores de alta potência.
Na segunda-feira, a SRF questionou se, caso essas simulações significassem que os testes reais não eram mais necessários, os últimos anúncios de Trump e do presidente russo Vladimir Putin seriam apenas uma demonstração de força.
“Primeiro, não sabemos exatamente o que Donald Trump quer dizer – ele diz uma coisa, depois corrige sua declaração e depois se repete”, disse Liviu Horovitz, pesquisador do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP) em Berlim. “Seu ministro, responsável pelas armas nucleares, diz que não são necessários testes. Os militares dizem que não são necessários testes. Portanto, não sabemos o que está acontecendo”.
Não exatamente tranquilizada, a SRF perguntou se uma nova corrida armamentista nuclear estava começando. “Os países com armas nucleares vêm modernizando e expandindo seus arsenais há vários anos. Portanto, isso não é novidade. E a declaração de Trump dificilmente mudará isso”, disse Horowitz. “No entanto, se os EUA realmente realizassem explosões nucleares para fins de teste, outros países provavelmente fariam o mesmo. Isso, por sua vez, beneficiaria mais países como a China ou a Coreia do Norte do que os EUA – os dois países realizaram até agora muito menos testes de explosão do que os EUA ou a Rússia.”
O Tages-Anzeiger foi mais direto: “Está surgindo uma nova corrida armamentista nuclear, cujos riscos de escalada ainda não são previsíveis”.
- Entrevista com Liviu HorovitzLink externo – SRF (em alemão)
- “Uma nova era de irracionalidade nuclear se aproxima”Link externo – editorial Tages-Anzeiger (em alemão, paywall)
- Trump anuncia a retomada dos testes com armas nuclearesLink externo – Neue Zürcher Zeitung (em alemão, paywall)
A próxima edição da newsletter “Notícias dos EUA na imprensa suíça” será publicada na quinta-feira, 27 de novembro. Até a próxima semana!
Comentários ou crítica? Nos escreva: english@swissinfo.ch
Adaptação: Fernando Hirschy
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