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Exposição mostra as guerras de nosso tempo

A exposição 'Nosso mundo em guerra' foi aberta em 8 de maio, dia internacional da Cruz Vermelha, e está aberta até 30 de junho. Keystone

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha(CICV) apresenta em Genebra a exposição 'Nosso Mundo em Guerra'. A mostra reúne os trabalhos de cinco fotógrafos em zonas de conflito, do Congo até as Filipinas, passando pela Colômbia.

O objetivo é conscientizar a opinião pública com essas fotos que serão mostradas posteriormente em 40 países.

A serenidade do Espaço AIG, situado na Ponte das Máquinas, em Genebra, foi o cenário escolhido pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) para expor as fotos que compõem ‘Nosso Mundo em Guerra’.

De fato, o contraste entre a paz que inspira as margens do Lago Léman e as imagens de conflitos de nossa época captadas pelos fotógrafos da Agência VII não poderia ser mais evidente.

Uma viagem ao horror

O olhar do visitante pelo horror começa pela Libéria. As comovedoras imagens são acompanhadas de legendas que explicam ao observador as distintas situações. Assim descobrimos as numerosas minas terrestres enterradas no Afeganistão e suas consequências de amputados, mortos e feridos.

O balanço até o momento é de mais 100 mil vítimas. Como a história de uma jovem de 16 anos, abandonada por seus pais na marastoon, instituição que acolhe deficientes mentais na qual se supõe que passará o resto da vida.

O balanço de 14 anos de guerra civil na Libéria não é muito melhor. As fotos da Agência VII mostram os trabalhados de recuperação de amputados e os times de futebol que tentam devolver-lhes a dignidade e a vontade de viver.

As fotos mostram também os “mortos de fome, de doenças e esgotamento pelos caminhos da Libéria. Um caso especialmente chocante é de uma mulher obrigada a cantar, dançar e bater palmas enquanto os guerrilheiros torturavam seu marido e em seguida estupraram a filha de 12 anos.

Colômbia, Geórgia, Haiti…

A exposição mostra as sequelas de 45 anos de conflito na Colômbia e seu balanço de 2,5 milhões de pessoas deslocadas e refugiadas. Ou a realidade da Geórgia, no Cáucaso, onde os fotógrafos retratam uma barraca em que vivem 20 famílias com uma única pia, sem água corrente.

Segundo o CICV, em algumas regiões da Geórgia, a taxa de desemprego atinge 70% da população. A ajuda estatal se limitar a uma subvenção de 22 laris mensais, equivalente a 10 francos suíços, por família “Os refugiados sobrevivem com uma dieta de legumes secos e massas”, esclarece o texto do CICV.

A viagem prossegue no Haiti, país mais atrasado do hemisfério ocidental. Aqui o CICV descobre um panorama sombrio, feito de “pobreza crônica, miséria, desmatamento, violência, falta de cuidados médicos e instabilidade política.” Um país onde a imensa maioria da população sobrevive com menos de 1 franco suíço por dia.

“Frequentemente as pessoas cozinham bolachas de barro misturadas com manteiga e sal para poder dormir sem fome”, descreve o fotógrafo da Agência VII. As imagens mostram também mães com bebês paralíticos dormindo no meio do lixo.

…Líbano e Congo

O triste roteiro dos dramas de hoje nos leva ao Líbano, onde os fotógrafos observam as consequências do confronto entre Israel e as milícias do Hisbolá (grupo pró-iraniano) ou a luta que prossegue nas Filipinas entre o governo e os guerrilheiros muçulmanos de Mindanao (sul do país).

Um conflito esquecido que provocou milhares de mortos, 250 mil refugiados e mais de 60 mil prisioneiros em 95 centros de detenção. O CICV lembra ao visitante que em 15 de janeiro e 2009 três empregados da organização humanitária foram seqüestrados nessa região. Até agora, um deles, Eugenio Vagni, continua desaparecido.

A exposição termina com o Congo, cuja situação é, provavelmente, a pior de todas. As imagens de Ron Haviv traduzem 3 milhões de mortos pela guerra, fome e doenças. A eles são somados um milhão de deslocados e refugiados. Um país sem lei onde o estupro é moeda corrente.

A situação República Democrática do Congo é descrita pelo CICV como “uma das piores em urgência humanitária das últimas décadas.”

Haviv dedica atenção especial às mulheres violadas que tentam sobreviver nas ‘casas de escuta’ em que as vítimas podem exprimir suas emoções e rememorar. Como uma mulher cuja mãe, de 81 anos, foi estuprada ao mesmo tempo que suas filhas menores. As duas meninas engravidaram.

No Congo também se pratica o assassinato sistemático e a separação forçada das famílias. “Um país onde as crianças abandonadas sobrevivem como vagabundos”, observa Ron Haviv.

Uma agência de fotógrafos engajados

Os fotógrafos que participam da exposição são James Natchwey, que viajou para as Filipinas e para o Afeganistão. Franco Pagetti trabalhou no Líbano e na Colômbia, Ron Haviv na República Democrática do Congo, Christopher Morris na Libéria e Antonin Kratovchil na Geórgia. Esses fotógrafos somam uma experiência impressionante, pois ganharam todos os prêmios de fotojornalismo.

Há ainda um fato curioso: Antonin Kratovchil foi ele mesmo refugiado político, pois teve de fugir da Checoslováquia natal, depois da invasão das tropas soviéticos em 1968. “Essa experiência marcou de maneira definitiva minha forma de trabalhar”, conforme explica na página web da agência.

Com a exposição ‘Nosso Mundo em Guerra’, o CICV tenta “recordar a todos e a cada um a responsabilidade que lhe corresponde nos esforços para aliviar o sofrimento humano.”

Além da exposição de fotografia, há outras iniciativas como o site nosso mundo tua ação (clique na coluna à direita) e um livro de fotografias com os arquivos do CICV intitulado ‘A humanidade em Guerra”, a ser lançado brevemente.

Rodrigo Carrizo Couto, Genebra, swissinfo.ch

Há 150 anos, o empresário suíço Henry Dunant testemunhou os horrores da guerra na batalha de Solferino, em junho de 1859, no norte da Itália.

Solferino provocou a morte de 6 mil soldados e mais de 35 mil feridos ou desaparecidos.

Os numerosos feridos sem assistência médica, seus sofrimentos e o fato de que muitos foram “liquidados” à baioneta e com um tiro, levaram Henry Dunant a escrever um livro em 1862, “Recordação de Solferino”, e a criar, em 1863, a organização que posteriormente se chamaria Cruz Vermelha.

Este ano, o CICV comemora os 60 anos da adoção por todos os países do mundo das quatro Convenções que regem a assistência humanitária dos feridos, prisioneiros de guerra e não combatentes.

A Agência VII é uma cooperativa de fotógrafos engajados e militantes. Fundada em 9 de setembro de 2001, tem o número dos profissionais que a criaram.

Como foi criada em Nova York, dois dias depois um de seus membros-fundadores, James Natchwey, faria algumas das melhores fotos do ataque às torres gêmeas, da janela de seu apartamento.

De seus sete membros-fundadores, a agência cresceu em 2002, 2004 e 2006. Tem atualmente duas centrais, em Nova York e Paris. Eles não trabalham exclusivamente em guerras, mas também em questões sociais, políticas e ambientais.

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