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Ziggy Marley, música, família e maconha

Ziggy Marley já segue seus próprios passos. SP

O filho mais velho de Bob Marley, que acaba de publicar um novo álbum intitulado "Wild and Free", se apresenta em 8 de julho no Festival de Jazz de Montreux e, em 10 de julho, no Festival de Frauenfeld.

swissinfo.ch conseguiu entrevistá-lo recentemente por telefone em Los Angeles, Estados Unidos.

Maio de 1981. David Marley, apelidado de Ziggy, tem treze anos e canta juntamente com seu irmão Stephen nos funerais de seu pai, Bob Marley, uma estrela mundial.

Trinta anos passaram-se. Ziggy Marley lança um novo álbum e prepara-se para shows no Festival de Frauenfeld e de Jazz de Montreux, onde já havia se apresentado há muitos anos. Ao telefone sua voz é jovial e solta…

swissinfo.ch: Você toca em Montreux na mesma noite que o Youssou N’Dour e o Alpha Blondy. É um encontro da África e a Jamaica no palco? 

Ziggy Marley: Gosto dessa ideia. Eu não sei ainda se iremos fazer alguma coisa juntos, mas conheço o Alpha de longas datas.

swissinfo.ch: Você esteve na África em 2010 e fez o filme “African Road Trip”. 

Z.M.: Eu adoro o futebol e era a primeira vez que a África recebia a Copa do Mundo. Foi muito emocionante estar por lá. Nós viajamos de motocicleta, demos concertos gratuitos e descobrimos a África do Sul.

Creio que a África é a última grande esperança do mundo: o potencial da África não foi ainda alcançado. É um tema que me toca e tocava bastante o meu pai e que, inclusive, me levou à África em 1980 para participar das celebrações de independência do Zimbábue. Sim, nos preocupamos com a África, pois se o continente conseguir se unir, o mundo seria melhor.

swissinfo.ch: Você acaba de lançar um novo álbum – “Wild and Free” – gravado em Los Angeles e em Kingston. O fato de trabalhar na Califórnia ou na Jamaica tem alguma influência sobre o que você faz? 

Z.M.: Não para mim, pois se trata simplesmente de música e ela vive em qualquer lugar. O “feeling” vem do que sentimos no nosso interior, não importa onde estamos, seja na Suíça, Jamaica ou nos Estados Unidos. 

Para esse álbum exploramos mais as base do reggae, mas adicionando nosso próprio molho. Trata-se, portanto, de uma tentativa de equilíbrio entre as vibrações tradicionais e uma abordagem mais pessoal que eu gosto de praticar. Um equilíbrio que me parece bem sucedido no disco.

swissinfo.ch: A canção “Wild and Free” fala da maconha… 

Z.M.: Ela está voltada para o mundo inteiro, para lhe dizer que negligenciar os benefícios dessa planta é um crime contra a humanidade. Que é um crime demonizar e penalizar essa planta, suas múltiplas utilizações possíveis em benefício do planeta e de seus habitantes.

Nós desejamos ressaltar o potencial industrial da maconha. A maior parte das pessoas só conhecem a dimensão “fumada” e que, de verdade, é benéfico para alguns e sob certos aspectos. Mas as pessoas não conhecem ainda as aplicações industriais possíveis e o impacto positivo sobre o meio-ambiente que isso teria, caso utilizássemos essa planta em todas suas potencialidades.

swissinfo.ch: Para você a legalização da maconha é realmente uma causa importante? 

Z.M.: Muito importante para o planeta. Em todo caso estou seguro que ela será em breve legalizada e utilizada de forma ampla. E ressalto – não falo somente da erva para o fumo, mas principalmente na produção de combustíveis, a possibilidade de substituir o plástico que destrói nosso meio-ambiente. Isso seria uma verdadeira solução para o nosso planeta e que deve absolutamente ocorrer.

swissinfo.ch: Essa é a razão pela qual você escreveu o roteiro para uma história em quadrinhos intitulada “Marijuanaman”? 

Z.M.: Sim. Marijuanaman é uma metáfora. Marijuanaman é um “super-herói” que tira sua força dessa planta e demonstra que a maconha é um “super-herói” que pode salvar o planeta.

swissinfo.ch: Melhor do que o super-homem… 

Z.M.: Yes Sir!

swissinfo.ch: No seu novo álbum, seu filho Daniel canta uma canção com você: “Changes”. Esse tipo de transmissão de geração a geração é importante para vocês? 

Z.M: Não diria que não é importante. Bem, se isso pode acontecer, temos de assegurar que isso aconteça. Mas não é preciso forçar as coisas. Neste caso, ela funcionou muito bem para nós.

swissinfo.ch: Seu pai faleceu há trinta anos como uma lenda-viva e continua o sendo. Como você vive hoje em dia com a lembrança dessa figura paternal imensa, mas talvez pesada de carregar? 

Z.M.: Oh, ele é meu irmão agora: meu pai é também meu irmão. Hoje em dia eu sei aonde vou, então a relação é diferente do que o era há vinte anos. Eu me sinto bem confortável em relação a isso hoje em dia. De verdade!

swissinfo.ch: Quando você grava um novo disco, como “Wild and Free”, você se pergunta o que ele estaria pensando? 

Z.M.: Não de verdade. Eu faço meu trabalho naturalmente, sem pensar muito. Nós estamos em simbiose em um plano espiritual. E eu estou feliz de ter essa ligação com ele, nesse plano. Ele está de acordo com o que eu faço, com os progressos que eu fiz e a mensagem que coloco na música.

swissinfo.ch: Na canção “Personal Revolution”, você diz que precisa fazer sua própria revolução. O que isso significa? 

Z.M.: Que cada pessoa, em um plano individual, deve efetuar sua revolução interior, mudar seu coração e seu espírito para conseguir amar o próximo, a humanidade, de forma com que a violência possa ser freada.

Há muito tempo houve revoluções, mudanças sociais como recentemente nos países árabes. Essas mudanças são positivas. Mas sem que a gente não faça sua revolução pessoal, a não ser que a gente evolua como seres humanos, o mundo continuará a ir em uma direção negativa. É o que eu quero dizer nessa canção: cada um deve realizar uma revolução dentro de si para que o mundo pode realmente mudar.

Após a morte de seu pai em 1981, Ziggy Marley foi apontado como sucessor natural de Bob Marley.

“Ziggy” Marley teve suas primeiras aulas de guitarra e bateria com Bob Marley.

Quando tinha 10 anos era presença constante nas gravações dos The Wailers, banda que acompanhava seu pai.

Não tinha 17 anos quando estreou em disco com o grupo The Melody Makers, formado por parentes da família Marley, em Play The Game Right, de 1985.

Nessa época já utilizava o nome Ziggy, escolhido em homenagem a David Bowie — seu ídolo, que havia lançado The Rise And Fall of Ziggy Stardust and The Spiders From Mars, álbum fundamental na história do rock, em 1972.

Em 1986 veio Hey World!, com sotaque mais pop. As fracas vendas do trabalho preocuparam o artista, que deu a resposta aos críticos dois anos depois, com Conscious Party, álbum com o hit “Tomorrow People“.

No ano seguinte, em 1989, One Bright Day entrou na lista dos 20 discos mais vendidos da revista Billboard.

Na década de 1990, Ziggy Marley & The Melody Makers lançaram Jahmeyka (1991), Joy And Blues (1993), Free Like We Want 2 B (1995), Fallen is Babylon (1997) e, por fim, The Spirit of Music (1999).

Em todos os trabalhos, um ponto em comum: Ziggy nunca deixou de incluir suas mensagens de protesto e sua voz política, principais heranças deixadas por Bob Marley. (Texto: Wikipédia em português)

Ziggy Marley dará dois concertos na Suíça durante o verão:

8 de julho. Festival de Jazz de Montreux, no mesmo programa que os artistas Youssou N’Dour e Alpha Blondy.

10 de julho. Festival de Frauenfeld, junto com o grupo Pitbull et os suíços do Sens Unik.

Adaptação: Alexander Thoele

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