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Afro-Pfingsten: um festival com sabor de África

Bassekou Kouyaté e Ngoni Ba: uma banda do Mali que impressionou pelo vigor da música. swissinfo.ch

Um evento traz há vinte anos o continente africano para a Suíça: o Festival Afro-Pfingsten.

Durante os dias que antecedem o feriado de Pentecostes, mais de 60 mil pessoas foram a Winterthur assistir a concertos, aprender a tocar tambor ou mesmo degustar delícias de todas as partes do mundo.

O tempo estava ideal para um festival desse gênero. Depois de semanas de chuva e frio no início da primavera, o sol despontou e as pessoas andavam nas ruas com roupas de verão. Ou melhor dizendo, com roupas coloridas, dreadlocks, sandálias e um tambor nas mãos. Talvez esse fosse o figurino ideal para o visitante do 21° Festival Afro-Pfingsten, o maior evento de cultura africana da Suíça, realizado todos os anos em Winterthur, cidade com grande passado industrial ao leste de Zurique.

Ao ser criado em 1990 como um evento cultural para a juventude, os idealizadores pretendiam apenas oferecer alguns cursos de tambor e um pequeno concerto musical com um grupo do Senegal. A ideia vingou e hoje se tornou uma grande festa. Na sua 21ª edição, além dos concertos de reggae, música africana e latina, o festival também ofereceu, entre 19 a 24 de maio, workshops de música, exposições de arte, um grande mercado de rua, um festival de cinema e também ações promovidas com diversas ONGs que atuam na África.

Afora os concertos, uma das principais atrações foi o mercado. Espalhado através das ruas do centro histórico de Winterthur, 80 barracas ofereciam bebidas africanas – como o refrescante suco de gengibre – e comidas típicas africanas – algumas delas bastante exóticas para o olhar europeu, como o típico churrasco africano: espetos de carne assando ao lado da fogueira sobre uma bandeja coberta de areia – e também roupas, artesanato, tranças para cabelo, guloseimas como os chips de banana ou chás adoçados por um homem com turbante.

Nesse grande bazar, o público também era bastante colorido. Além dos africanos, muitos suíços, casais mistos, crianças e turistas. Os diferentes aromas, proporcionados principalmente por pratos picantes como o Poulet Yassa (prato picante de galinha) do Senegal, se misturavam com outras aparições incomuns para uma cidade suíça como dois dromedários, nos quais crianças passeavam através do centro por apenas cinco francos. “E eu sempre explicava a elas que os animais bebem sim, até 150 litros de uma só vez”, explicou o tratador, de origem argelina.

ONGs

Uma participação marcante no festival ocorre por parte das ONGs. Uma delas organizou uma coleta de bicicletas usadas. Depois de reparadas, elas são enviadas à África. “Esse trabalho já é feito regularmente em Berna através da nossa associação ‘Gump- und Drahtesel’, onde pessoas sem ocupação fazem esses reparos”, explicou um dos organizadores do estande.

No chão frente à igreja central de Winterthur, um tapete coberto de gravetos de madeira mostrava aos passantes o consumo diário de uma família no Madagascar: 20 quilos. O resultado é o desflorestamento crescente do país africano. Por isso, o grupo, denominado Associação Suíça pelo Forno Solar (FSK, na sigla em alemão), apresentava o que considera a solução mais racional: instrumentos capazes de cozinhar a comida apenas com a energia solar.

Para ressaltar o caráter social do festival, os organizadores também ofereceram um café da manhã musical. Aproximadamente 300 pessoas participaram desse evento, no qual foram oferecidas especialidades da África do norte, como falafel, tagine ou o tabule, uma salada da cozinha árabe feita com alfaces e tomates picados, aromatizados com temperos e ervas, e a que se acrescenta trigo demolhado. Todos os ingredientes eram provenientes do sistema “Fairtrade”, um selo de qualidade dos produtos de comércio equitativo com países do Terceiro Mundo.

Porém, também havia críticas. “No início, o festival era realmente um movimento de solidariedade, mas hoje os preços são bem salgados. Acho que há muito comércio nisso”, reclamava uma habitante de Winterthur, apesar da entrada diária para os concertos custar a média de 70 francos, um preço relativamente baixo para festivais na Suíça.

Sabor de cuba

Segundo os organizadores, 60 mil pessoas estiveram em Winterthur durante os dias do festival para assistir aos concertos ou participar dos eventos de rua. Dentre as grandes atrações, uma delas foi seguramente a apresentação da orquestra cubana Buena Vista Social Club. Reunidos em 1996 pelo produtor americano Ry Cooder, o grupo de músicos se tornou conhecido mundialmente através do documentário realizado pelo cineasta alemão Wim Wenders três anos depois.

Apesar de alguns músicos do filme não viverem mais, outros surpreendem pela vitalidade apesar dos anos de estrada: Barbarito Torres chegou a tocar de costas seu alaúde para mostrar ao público que continua em forma, depois de ser desafiado – uma brincadeira dos músicos – pelo jovem cantor Luiz Barzaga.

No dia seguinte, Bassekou Kouyaté, também chamado de mestre do Ngoni, um instrumento típico do Mali e que lembra o banjo, se apresentou com seus irmãos no palco construído dentro de uma antiga fábrica, onde tradicionalmente é realizado o Afro-Pfingsten. Casado com a cantora Amy Sacko, que também participa do grupo, Kouyaté mostrou aos presentes por que muitos consideram a música africana a origem de tudo. “No início existia a música tradicional africana, que se tornou a música dos escravos, depois o blues e então…o funk”, escreve o cantor inglês Fatboy Slim sobre o músico maliano.

Alexander Thoele, swissinfo.ch

Segundo o Centro Suíço-Africano, aproximadamente 60 mil pessoas originárias do continente africano vivem na Suíça.

A história do Festival Afro-Pfingsten começou em 1990 em Winterthur, através de evento cultural isolado organizado para a juventude local. Nele eram oferecidos cursos de tambor e um concerto com um grupo do Senegal.

A 21ª edição do evento aconteceu de 19 a 24 de maio em Winterthur. Além dos concertos de reggae, música africana e latina, o festival também ofereceu workshops de música, exposições de arte, um grande mercado de rua, um festival de cinema e também ações promovidas com diversas ONGs que atuam na África.

Número aproximado de visitantes: 60 mil.

O próximo Festival Afro-Pfingsten ocorre de 9 a 13 de junho.

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