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Capelães militares ajudam a combater a pandemia

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Atualmente os capelões do Exército suíço mais escutam os problemas dos militares do que organizam cerimônias religiosas. Vbs/ddps

A pandemia também afetou o Exército suíço. Operações de auxílio aos governos ou restrições dos movimentos causaram bastante estresse aos soldados, dos quais muitos procuram hoje ajuda de capelães, os religiosos em uniforme.

Na primavera de 2020, o Exército suíço mobilizou tropas para apoiar as autoridades civisLink externo na primeira onda de coronavírus. Foi a primeira mobilização nacional desde a II Guerra Mundial. As tropas agora participam de uma nova missão de apoio, dessa vez baseada em voluntários com objetivo de lidar com a segunda onda.

Enfrentando a morte

Um exemplo das tarefas prestadas pelos soldados: tropas médicas são enviadas a hospitais para apoiar enfermeiros e médicos, dos quais muitos estão à beira de um colapso. É uma missão considerada “difícil” do ponto de vista psíquico.

“Imagine um jovem que deixa a vida civil (n.r.: na Suíça o serviço militar funciona em sistema de milícia) para trabalhar em um hospital, cuidando de doentes que estão à beira da morte? Há pouco falei com um soldado de 21 anos, cuja missão era evitar que um paciente arrancasse seus tubos. É psicologicamente muito exaustivo”, conta Stefan Junger, capitão do Exército e chefe da Capelania do ExércitoLink externo (AA).

Acompanhar pacientes em estado grave são casos extremos para jovens soldados, porém muitos reagem à convocação e pausa obrigatória na vida civil com uma certa ansiedade.

Além disso, tanto para os soldados mobilizados, como para os que estão fazendo uma formação, há também a sensação de confinamento. A fim de limitar o máximo possível o risco de infecção, as saídas foram fortemente limitadas – ou até anuladas – nos últimos meses. Ficar confinado no quartel durante semanas ou meses também pode ter um impacto negativo à moral da tropa.

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Ajuda em tempos de pandemia: soldados do Exército suíço no Hospital Universitário de Genebra. Keystone / Laurent Gillieron

Assistência espiritural

Neste contexto, a Capelania contratou mais 35 pessoas na primeira onda de Covid. E atualmente cinco capelães estão ativos nas tropas. Sua tarefa: estar disponível e atento a todos aqueles que necessitam da sua assistência adicional.

Esta tarefa não é exclusiva. O folheto “Serviço de Apoio às Forças Armadas” explica claramente a função dos capelães. “A Capelania está a serviço de todos aqueles que procuram ajuda e conselho, que têm perguntas sobre o sentido da vida e que desejam ter uma conversa pessoal”. O documento oficial especifica que o serviço é “um lugar de escuta ao serviço de todo o pessoal militar, independentemente da filiação religiosa”.

“A experiência tem sido bastante boa”, diz Junger. Os soldados envolvidos na operação de apoio ficaram felizes em ter uma pessoa estável e fácil de contatar à sua disposição. Às vezes era apenas uma questão de jogar cartas com eles.”

No entanto, o Exército tem dois outros serviços de apoio às tropas: um é pedagógico e o outro, social. Então, por que recorrer aos capelães? “Em comparação com os dois serviços, a característica especial da Capelania é que ela é diretamente ativa”, explica o capelão.

Capelania do Exército suíço

Já no período anterior à formação da moderna Suíça, os capelães acompanhavam as tropas cantonais. Um exemplo foi Ulrich Zwingli, o pastor que liderou a Reforma Protestante no país e que participou da batalha de Marignan (1515). 

A posição de capelão no Exército suíço foi criada em 1874. Originalmente destinado à guerra, o posto foi estendido ao treinamento em tempo de paz em 1883. 

Atualmente, o Exército dispõe de 170 vagas para capelães. Entre 30 e 40 novos capelães são contratados a cada dois anos.  

Os capelães são voluntários. Os candidatos são apresentados por igrejas ou comunidades religiosas. 

Os candidatos devem ter competência teológica em sua própria fé, bem como habilidades pessoais, sociais e de comunicação. 

A Capelania do Exército também está aberta às mulheres há cerca de vinte anos. 

Capelão acima de tudo

Hoje o capelão dedica-se a assistência pessoal. “A capelania mudou”, reconhece Junger. “Antes ela era a Igreja dentro do exército. Hoje se trata de estar perto dos militares, compartilhando a sua vida cotidiana.”

Em tal contexto, não há espaço para proselitismo ou sectarismo. Os princípios de Capelania são claros: “Como instituição pública, os militares não fazem distinção de convicções religiosas, eclesiásticas, denominacionais ou religiosas. Os militares, portanto, exigem que o capelão atenda todos os membros das forças armadas, sem distinção.”

“Em outras palavras, primeiro você é capelão e depois religioso”, explica Junger. “Mas é claro que você não esconde sua filiação religiosa. Se uma pessoa precisa de apoio espiritual, nós o fazemos, mas essa não é nossa principal missão.”

Aberto a todas as religiões

A maioria dos exércitos dispõe de um serviço de capelania. Geralmente, os capelães são contratados para lidar especificamente com tropas de sua própria denominação. Desta forma, as capelanias militares se esforçam para atender às necessidades dos soldados de diferentes credos dentro de suas fileiras.

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Por exemplo, o Exército francês criou uma capelania muçulmana em 2006. No mesmo ano, a Legião Estrangeira engajou um padre ortodoxo do Patriarcado de Moscou durante um mês por ano. Já o Exército alemão reintroduziu rabinos nas suas fileiras para cuidar de 50 a 300 soldados judeus.

Na Suíça, a Capelania colabora tradicionalmente com as igrejas protestantes e católicas. Desde novembro passado, esta colaboração foi estendida às igrejas evangélicas. No comunicado publicado, o Exército suíço declarouLink externo: “A sociedade suíça é cada vez mais multicultural. Existe uma real necessidade de tal abertura.”

Até hoje o Exército suíço todos os capelães atuantes nas suas fileiras são cristãos, porém a situação pode mudar. “Estamos discutindo com outras religiões”, afirma Stefan Junger. “Em princípio, estamos prontos a colaborar com todas as comunidades religiosas que aceitam o funcionamento do sistema militar. Mas é difícil dizer quando teremos uma decisão. Antes de tudo, temos de explicar que não estamos simplesmente procurando imãs ou rabinos, mas sim capelães militares de confissão muçulmana ou judaica.”

Adaptação: Alexander Thoele

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