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O cinema suíço luta por um lugar entre os gigantes europeus

Max Borg

A Suíça foi um convidado especial no Festival Lumière, ocorrido em Lyon entre 9 e 17 de outubro. O que isso significa internacionalmente para a indústria cinematográfica suíça? E o que acontecerá agora?

Screen of the Festival Lumières
This year, the festival paid homage to New Zealand film maker Jane Campion, the first woman to win the Palme d’Or at Cannes in 1993 (for “The Piano”). Meanwhile, Swiss cinema had its share of attention in round tables and screenings of some classics, such as Alain Tanner’s “Jonah Who Will be 25 in the Year 2000” (1976) Keystone / Maxime Jegat

Em 2021, todos os três principais festivais de cinema europeu tiveram pelo menos um título suíço como parte de sua programação: a seção Encounters do Festival de Cinema de Berlim deu as boas-vindas ao thriller bancário Azor, de Andreas Fontana, e ao drama A Garota e a Aranha, dos irmãos Zürcher. A Semana da Crítica em Cannes, por sua vez, exibiu a estreia mundial de Olga, de Elie Grappe, posteriormente escolhido como o candidato suíço ao Oscar de Melhor Filme Internacional. E o Festival de Veneza usou sua nova seção paralela Notti Veneziane para apresentar o novo filme de Stefano Knuchel, Hugo in Argentina, a segunda parte de uma trilogia documental sobre o cartunista italiano Hugo Pratt.

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Em outras palavras, a indústria cinematográfica suíça parece ter uma relação saudável com eventos internacionais, e, quando se trata da preservação de filmes, os festivais têm uma grande importância. A questão foi discutida este ano no Festival Lumière em Lyon, durante uma mesa redonda sobre o cinema suíço no Marché International du Film Classique (MIFC), um dos principais eventos dedicados a filmes clássicos e à história do cinema.

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Como foi mencionado por Frédéric Maire, diretor da Cinemateca Suíça, a nível nacional, tem-se dado prioridade a dois tipos de filmes no que diz respeito à digitalização: aqueles que ganharam o Prêmio de Cinema Suíço, sejam ficção ou documentários; e aqueles que já foram exibidos em festivais pertencentes à chamada “Categoria A”, onde todos os filmes concorrentes devem ser estreias mundiais ou internacionais.

Frédéric Maire, director of the Cinemathèque Suisse
Frédéric Maire, diretor da Cinemathèque Suisse Keystone / Laurent Gillieron

A programação pública do festival também teve um toque um tanto suíço: a Lumière Classics, seção que destaca algumas das melhores restaurações do ano, concedeu sua aprovação a Jonas qui aura 25 ans en l’an 2000 (1976), de Alain Tanner, e teve como um dos convidados de honra a atriz francesa Bulle Ogier, esposa e colaboradora recorrente do diretor Barbet Schroeder. Além disso, após a morte de Bertrand Tavernier, foi nomeada como presidente do Instituto Lumière, que organiza o festival, a atriz franco-suíça Irène Jacob, que passou a maior parte de sua juventude em Genebra.

O que se perde na tradução

Um fator que dificulta a divulgação de filmes suíços no exterior é aquilo que constitui, ao mesmo tempo, a singularidade e o principal ponto fraco da indústria: existem, essencialmente, três mundos cinematográficos distintos, um para cada uma das principais regiões linguísticas (o romanche é muito pouco usado para ter um impacto relevante nesse aspecto), o que alimenta a concepção equivocada de que não existe cinema suíço num sentido amplo. De fato, excluindo festivais como Locarno e Solothurn e outros eventos especiais, as produções nacionais raramente saem de suas respectivas regiões dentro do circuito nacional, a menos que sejam documentários.

Os filmes suíço-alemães têm o obstáculo adicional de serem praticamente impossíveis de vender na Alemanha, já que o público local não consegue entender o dialeto suíço e geralmente não gosta de ler legendas (o Platzspitzbaby, de Pierre Monnard, teve que ser dublado em alemão da Alemanha para garantir um lançamento no país). E, quando Frontaliers Disaster de Alberto Meroni estreou na Itália, sua exibição foi limitada às regiões fronteiriças com dialetos similares ao de Ticino.

Não surpreende, portanto, que as produções provenientes da região francófona (Romandie) tenham um histórico de maior sucesso no exterior, uma vez que o francês falado na Suíça é apenas ligeiramente diferente da variação padrão, e os dialetos regionais mais fortes geralmente são evitados na mídia. Alain Tanner, Claude Goretta, Yves Yersin e Francis Reusser, para citar apenas alguns, tiveram todos a honra de serem selecionados para Cannes e/ou Berlim, assim como Ursula Meier e Claude Barras no século XXI.

Aliás, no caso de Tanner, como discutido na mesa redonda em Lyon, foi o interesse de festivais e arquivos internacionais que motivou a recente digitalização de seus filmes, com o intuito de possibilitar retrospectivas fora da Suíça (até hoje, 15 de seus 20 filmes de longa-metragem receberam conversões em DCP, Digital Cinema Package).

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A questão do streaming

Mais recentemente, no mundo de língua alemã, a comédia de Michael Steiner, The Awakening of Motti Wolkenbruch – sobre um estudante judeu de Zurique que se apaixona por uma colega de classe não-judia – tornou-se o primeiro filme suíço a ser adquirido pela Netflix para distribuição internacional. O mais novo trabalho de Steiner, And Tomorrow We Will Be Dead, que abriu o Festival de Cinema de Zurique de 2021, provavelmente também será bem recebido no circuito internacional graças à sua narrativa atual (o filme é baseado na história real de um casal suíço sequestrado pelo Talibã em 2011).

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O streaming tem se revelado um aliado no que diz respeito ao reconhecimento, dentro da própria Suíça, da variedade de produções nacionais: Play Suisse, uma plataforma gratuita lançada em novembro de 2020, oferece uma ampla seleção de filmes, séries e documentários das quatro regiões linguísticas, legendados em todas as línguas oficiais. Seu único defeito, muito semelhante ao do Filmo – que ajuda os usuários a localizar as plataformas de VOD (vídeo sob demanda) onde podem ver filmes suíços –, é que seu escopo é limitado ao mercado nacional.

Embora ainda possa haver algum progresso a ser feito em termos de exportação dos próprios filmes, a Suíça pode se orgulhar de ter muitos talentos, atrás e na frente das câmeras, que ultrapassaram as nossas fronteiras nacionais – de Maximilian Schell (o primeiro ator suíço a ganhar um Oscar) a Bruno Ganz; de H. R. Giger – que mudou para sempre a ficção científica com seus designs de criatura para Alien – a Vincent Perez; de Bruno Todeschini ao ator ticinense Teco Celio, que participou de filmes feitos, entre outros, pelo grande cineasta italiano Nanni Moretti.

As novas gerações estão bem representadas por pessoas como Luna Wedler, que ficou conhecida como a estrela de Blue My Mind em 2017 e atualmente aparece na série alemã da Netflix, Biohackers, e Kacey Mottet Klein, cujo papel mais recente no cinema foi no drama francês L’Événement, que ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza deste ano.

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Quanto aos cineastas, é difícil superar Marc Forster, que em 2008 se tornou a primeira pessoa nascida fora da Comunidade Britânica a dirigir um filme de James Bond (embora ele tenha declarado que sente uma certa ligação com a franquia, já que a mãe de Bond é suíça). Ele também trabalhou com zumbis e materiais da Disney, e está agora se dedicando a um filme que mistura live action e animação, baseado na popular série infantil britânica Thomas & Friends.

Assim, é justo dizer que, embora definitivamente haja a possibilidade de melhorar, o cinema suíço pode ser visto como um cinema verdadeiramente internacional.

Adaptação: Clarissa Levy

Adaptação: Clarissa Levy

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