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Delegação suíça saiu satisfeita de São Paulo

O presidente Lula fala no encerramento da Conferência Internacional sobre os Biocombustíveis, em São Paulo. Keystone

Os membros da delegação que participaram da Primeira Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, em São Paulo, disseram que ela foi interessante e que saíram satisfeitos.

O evento, com a presença de mais de 400 delegados, ocorreu de 17 a 21 de novembro e foi encerrado pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Para nós foi muito interessante, primeiramente porque em vários debates foi abordada a questão dos direitos humanos ligada à produção de agroenergia. Em segundo lugar, também se falou do meio ambiente e essa questão tem muita relevância em nossa legislação. O presidente Lula também falou disso. Terceiro, porque o Brasil falou de cooperação trilateral com os países em desenvolvimento e os países desenvolvidos e isso deve interessar à Secretaria Federal de Economia (Seco) e nossa agência de cooperação ao desenvolvimento (DDC). Finalmente, também foi enfatizada a necessidade de transportes públicos, reconhecendo que a mobilidade individual não é prioritária.”

O resumo das impressões foi feito por Karina Siegwart, do Ministério do Meio Ambiente, sintetizando as impressões da delegação multidisciplinar de vários ministérios suíços.

Projetos menores

“Valeu a pena participar dessas discussões sobre as energias renováveis e os biocombustíveis são uma dessas alternativas, parte da solução como foi dito aqui”. Corbey diz que projetos maiores podem ser viáveis em certos países em desenvolvimento na forma de parcerias público-privadas, mas que isso já seria da esfera da Seco, Secretaria Federal de Economia.

“De nossa parte, achamos ser mais realista produzir energia em menor escala com dejetos orgânicos nos países em que trabalhamos, evitando assim qualquer concorrência direta entre produção de alimentos e de energia”, afirma Pierre-André Cordey.

Motores e importação de etanol

Alexandre Schimidt, diretor da Administração Federal do Álcoois (AFA), órgão competente em matéria de biocombustíveis, disse que leva duas observações técnicas da conferência de São Paulo: uma relativa aos motores dos automóveis, outra sobre a eventual possibilidade de o etanol de cana ser compatível com as exigências legais suíças.

“Eu acho que pode ser”, afirma, depois de visitar uma usina em Leme, interior de São Paulo, que vende etanol para a Suécia e que “pode ser um precedente para a Suíça”.

Quanto aos motores, as mesmas montadoras que produzem os motores “flex-fuel” no Brasil (que suportam qualquer mistura de biocombustível) dizem que na Europa a adição máxima é de 5%. “Temos que verificar isso”, afirma Schimidt, ressalvando que o parque automobilístico europeu ainda tem poucos veículos com motores flex.

Até há pouco tempo, explica do diretor da AFA, eram produzidos 4 mil litros de etanol na Suíça a partir de restos de madeira e disponibilizados em 180 postos de gasolina. “É muito pouco, pois corresponde a 0,2% do consumo de gasolina. Se chegarmos a 5% de etanol, reduziremos em 1% as emissões de CO2 na Suíça.”

Por várias razões, a única empresa que produzia etanol na Suíça faliu e agora o combutível será importado por um fornecedor europeu, cujo nome e país ainda não foi revelado, que produz etanol com dejetos agrícolas.

Mercado vai decidir

Por outro lado, desde 1° de julho, entrou em vigor uma nova lei, que será regulamentada muito brevemente, que elimina a participação estatal e isenta o biocombustível de taxas de produção e importação. Para isso, precisa corresponder a critérios:
– ser produzido a partir de dejetos e não de produtos para alimentação humana ou animal;
– não provocar efeitos nocivos para o meio ambiente, como o desmatamento e outros;
– respeito de normas sociais de trabalho e remuneração digna.
As condições são as mesmas para a produção interna e externa.

Como o Estado não intervém no mercado, nem para fixar percentuais de mistura na gasolina, tudo depende das distribuidoras e das normas dos motores no mercado. “Cabe a nós e às secretarias federais do Meio Ambiente e da Agricultura verificar que a lei seja cumprida, mas como adquirimos certa experiência no assunto, é provável que as grandes distribuidoras nos consultem antes de importar etanol”, precisa o diretor da AFA.

Entusiasmo e realismo

No discurso de encerramento da conferência, o presidente Lula disse que os biocombustíveis não são uma panacéia nem vão resolver todos os problemas ambientais e econômicos. Mas reiterou que eles podem se tornar um instrumento de transformação da vida das pessoas, capaz de reduzir a pobreza e a desigualdade social, principalmente nos países em desenvolvimento.

Afirmou que as pessoas sabem que o planeta vai mal, mas não querem pagar a conta. Criticou o consumismo, dizendo que o padrão de consumo da humanidade precisa mudar.

Quanto ao anúncio feito quinta-feira (20) de uma nova descoberta da Petrobras de uma reserva de dois bilhões de barris de petróleo de boa qualidade no litoral do Espírito Santo, o presidente disse que isso “não diminui um milímetro a convicção da importância dos biocombustíveis”.

Referindo-se à novidade dos biocombustíveis, o presidente disse que compreende a reticência porque que as pessoas gostam de pisar em chão conhecido “e o petróleo está aí, apesar de ser poluente.”

Esperanças africanas

Em entrevista à swissinfo, o ministro da Energia de Moçambique, Salvador Namburete, resumiu bem as expectativas dos numerosos países africanos presentes à conferência de São Paulo: “temos de dividir por cinco ou dez, os 40 anos de experiência que deram ao Brasil a liderança em biocombustíveis, aproveitando essa tecnologia sem termos de inventar outra vez a roda.”

O ministro disse que já existem empresas brasileiras nesse setor em Moçambique e espera que outras passem a investir em seu país.

swissinfo, Claudinê Gonçalves, São Paulo

A primeira Conferência Internacional sobre os Biocombustíveis ocorreu em São Paulo, de 17 a 21 de novembro.

Participaram do evento, organizado pelo Ministério das Relações Exteriores, a pedido do presidente Lula, delegações de 92 países e representantes de 14 organizações internacionais como ONU, FAO, FMI, PNUD, UNCTAD, UNESCO, entre outras; 38 ministros estiveram presentes, num total de 407 delegados.

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