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Líderes suíços debatem as lições da crise econômica

A presidente da Suíça, Doris Leuthard (dir.), com o ex-presidente do Banco Nacional Suíço, Jean-Pierre Roth, durante o Fórum dos 100, em Lausanne. Keystone

"A Suíça precisa cooperar tanto com países emergentes como o Brasil quanto com seus parceiros naturais europeus", afirmou a presidente suíça Doris Leuthard, no Forum dos 100, na quinta-feira (20/5), em Lausanne.

O encontro, que reúne anualmente cerca de 800 personalidades da parte francesa do país, discutiu a atual crise econômica e os desafios que ela representa para o futuro.

Um dos documentos que serviu de base para os debates uma pesquisa representativa feita junto a 1200 eleitores e 400 lideranças empresariais, políticas, culturais, científicas e administrativas do país.

Os resultados publicados simultaneamente em vários jornais e revistas do país mostram que a crise econômica é considerada menos grave pela população do que pelos líderes. Isso explica também porque a confiança nos bancos está mais abalada na elite do que na população em geral.

Banqueiros não aprendem

Segundo a pesquisa, há consenso entre o povo e as lideranças de que os banqueiros não vão aprender as lições da crise sem intervenção do Estado. Essa opinião é compartilhada pelos suíços de diferentes regiões, tendências partidárias e classes sociais em todo o país.

Para a maioria dos entrevistados, está claro que a fiscalização dos bancos precisa ser melhorada, as bonificações devem ser controladas e tributadas, bem como o poder dos acionistas deve ser fortalecido.

A população também é favorável a uma limitação dos salários dos executivos, enquanto as lideranças se mostram um tanto céticas em relação a isso. A maioria da elite aprova – em retrospectiva – o salvamento do UBS, maior banco do país, pelo governo suíço, enquanto a população a rejeita.

Um outro ponto de consenso entre a elite e o povo na pesquisa é que a Suíça deve salvar o que pode do sigilo bancário e que o Conselho Federal (Executivo) poderia ter previsto a crise do sigilo bancário.

De uma forma geral, o governo ganha nota baixa. Somente em relação ao salvamento do UBS lhe é atestado um bom trabalho. O Executivo é criticado principalmente por não falar em uma voz à opinião pública.

A maioria dos entrevistados acha que o Conselho Federal se preocupa mais com a administração do que com estratégias. A metade acha que a Suíça nunca teve um governo tão fraco como hoje.

Mesmo assim, o Conselho Federal desfruta de mais confiança do que, por exemplo, a autoridade de fiscalização do mercado financeiro, sindicatos, entidades empresariais e meios de comunicação – apenas uma pequena minoria acredita que a mídia trabalha em favor da sociedade.

Procurando saídas

Uma maioria apertada da população manifesta-se favorável a um presidente com mandato de vários anos. Hoje o cargo é exercido de forma rotativa por um ano por cada um dos setes ministros que formam o gabinete de governo da Suíça.

A eleição direta do Executivo, proposta pelo maior partido do país, a União Democrática de Centro (também chamada Partido do Povo Suíço), é rejeitada por 55% da população e 85% das lideranças. Segundo a pesquisa, os suíços preferem a eleição do Executivo pelo Parlamento.

A crença nos valores institucionais suíços continua inabalada. A maioria dos entrevistados apoia a democracia direta, o federalismo e a neutralidade armada. Mais da metade dos lideres questiona o sentido do exército de milícia que, porém, é apoiado pela maioria da população.

União Europeia e emergentes

No Fórum dos 100, a presidente da Suíça, Doris Leuthard, defendeu mais uma vez a via multilateral do país na política externa. “A Suíça precisa se adaptar às novas constelações, porque a velha ordem mundial não existe mais desde a queda do Muro de Berlim”, disse, sinalizando que privilegia relações com novas entidades, como o G-20.

“A Suíça precisa cooperar tanto com países emergentes como o Brasil quanto com os parceiros naturais europeus. A prioridade não é saber qual ‘projeto político’ é o correto – a adesão, a associação ou a via bilateral. A Suíça tem de agir de forma pragmática” em relação à União Europeia, disse Leuthard.

O país não é membro da UE, mas mantém uma série de acordos bilaterais com o bloco. Leuthard destacou os esforços da Suíça para ampliar suas relações com os países vizinhos. Como exemplo, ela citou a política monetária do Banco Nacional Suíço para apoiar o euro. Mas criticou a UE por “não ter sido capaz até agora de frear o declínio” de sua moeda.

swissinfo.ch com agências

O “Fórum dos 100” é uma plataforma de diálogo estruturada na forma de uma conferência anual, eventos pontuais e iniciativas editoriais para incentivar o debate sobre questões cruciais para o futuro da Suíça.

Seu nome se de à edição especial da revista L’Hebdo, a mais influente do país, dedicada às “100 personalidades mais importantes da Suíça francesa”.

Lideranças e população suíça aprovam medidas de controle mais severo do mercado financeiro (entre parêntesis, percentual de aprovação pelos líderes / população).

Mais fiscalização dos bancos (85 / 85)

Mais poder para acionistas (81 / 76)

Controle e tributação de bônus (66 / 84)

Limitação do tamanho de instituições financeiras (53 / 71)

Limitação dos salários dos executivos (49 / 78)

Fonte: Pesquisa feita pelo Instituto M.I.S. Trend junto a 1200 eleitores e 400 lideranças em toda a Suíça.

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