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Taxa interbancária enfrenta revisão após escândalo

Keystone

Os presidentes dos bancos centrais se reúnem em Basileia no domingo, 9 de setembro, para discutir alternativas ao fracassado sistema interbancário de taxa de juros Libor, após evidências de que vários bancos teriam manipulado dados para embolsar mais lucros.

Várias alternativas foram propostas para substituir a desacreditada taxa interbancária de Londres, usada como referência para trilhões de dólares de empréstimos comerciais, hipotecas, cartões de crédito e complexas transações financeiras.


O presidente do Federal Reserve dos Estados Unidos, Ben Bernanke, e do banco central do Canadá, Mark Carney – que também é presidente do Conselho de Estabilidade Financeira (FSB), que monitora o sistema financeiro mundial – estão entre os que condenam o sistema atual.

“Existem várias alternativas, caso a Libor não possa ser restabelecida”, disse Carney. “Se ela for estruturalmente falha e não poder ser restabelecida, o que é uma possibilidade, pode ser necessário diferentes tipos de abordagens”.

Palavra como garantia

Os EUA recomendam fixar as taxas diárias de acordo com dados concretos, como contas de tesouraria (empréstimos de curto prazo), ao invés da noção antiquada e fantasiosa de que a palavra de um banqueiro vale ouro.

Outros índices também foram apresentados, como a reposição de taxas que estabelecem um preço pré-definido sobre a venda de títulos entre as partes.


As implicações da fraude da Libor, a mais recente de uma série de escândalos que atingiu o setor financeiro internacional, poderiam ser de grande alcance, de acordo com Hans Geiger, ex responsável do Instituto de Bancos Suíços, da Universidade de Zurique.


“O sistema financeiro é baseado no crédito, e o crédito é baseado na confiança”, disse Geiger à swissinfo.ch. “O sistema foi quase destruída durante a crise financeira, quando uma perda de confiança entre instituições provocou no sistema de crédito uma paralisação virtual”.

“A Libor tem que ser mais eficaz para recuperar a confiança neste setor essencial do sistema. Infelizmente, a reação deve ser provavelmente a introdução de mais regulamentações que deixará o sistema bancário menos eficiente.”

Mais transparência

No entanto, uma revisão do sistema Libor seria desnecessária, de acordo com Stewart Hamilton, professor de finanças e contabilidade da escola superior de administração IMD, de Lausanne.


Ao invés de criar novos órgãos de fiscalização e legislação, os bancos centrais teriam agora a oportunidade de aperfeiçoar o modelo antigo, argumentou.


“A única alternativa credível ao atual sistema tem que ser baseada em evidências documentáveis de transações reais, ao invés da simples palavra dos bancos”, disse Hamilton à swissinfo.ch.

“Apresentar mais transparência seria muito mais prático do que a criação de um novo organismo supranacional de regulamentação.”

Multas milionárias

Hamilton acredita que a responsabilidade de supervisionar um sistema Libor melhorado deveria ser retirado das mãos da BBA, a associação dos bancos ingleses, e colocado sob o controle de um banco central, como o Banco da Inglaterra.


“Há provavelmente um grau de arrependimento em alguns setores por ter encarregado a British Bankers ‘Association de um sistema de vital importância”, disse. “Está bastante claro que a falta de fiscalização e a inércia nos primeiros sinais de alerta é uma questão que precisa ser tratada”.

Cerca de 16 bancos estão sendo investigadas. O banco inglês Barclays foi multado em 290 milhões de libras (445 milhões de francos suíços) e as estimativas de quanto os outros bancos podem ter que pagar coletivamente falam de 8 bilhões de dólares (7,6 bilhões de francos).

Redenção

O banco suíço UBS admitiu ter participado no esquema em 2010, enquanto o Credit Suisse disse que está cooperando em várias investigações. Se forem considerados culpados, os dois maiores bancos suíços poderiam estar sujeitos a multas de milhões de dólares.

No seu relatório anual de 2011, o UBS revelou que tinha negociado uma imunidade condicional com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos.


Diversas ações civis já foram iniciadas contra os bancos nos EUA e alguns dos maiores gestores de fundos – como a Blackrock – estão reconsiderando suas posições.

Depois que os presidentes dos bancos centrais começarem a arrumar a confusão Libor, na reunião do domingo, o FSB vai levar a questão para a frente durante a próxima semana, antes que propostas concretas sejam postas sobre a mesa.

A London Interbank Offered Rate (ou LIBOR) é uma taxa de referência diária, calculada com base nas taxas de juros oferecidas para grandes empréstimos entre os bancos internacionais que operam no mercado londrino. É muito utilizada como taxa referencial nas transações internacionais.

Sua versão definitiva é de 1986. Na época, a British Bankers Association (Associação dos Banqueiros Britânicos) pediu que os maiores bancos compartilhassem informações diárias sobre as taxas de juros que pagariam, quando tomassem empréstimos de outros bancos. Depois de eliminados os valores extremos, uma taxa média era determinada para o dia.

Além disso, inúmeras hipotecas são definidas usando a Libor, ou suas equivalentes em euro e iene, a Euribor e a Tribor. Alguns países, incluindo a Suíça, definem suas taxas de juros nacionais de acordo com esses taxas de referência.

Desde o início de 2007, o Federal Reserve Bank e o Bank of England (os bancos centrais dos EUA e do Reino Unido) suspeitavam que houvesse uma fraude na notificação da LIBOR. Em 2011, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos começou uma investigação criminal. Graças a vazamentos de e-mails entre banqueiros, soube-se que as taxas estavam sendo manipuladas.

Adaptação: Fernando Hirschy

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