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Nobel da Paz ensina negócio social aos jovens

Muhammad Yunus encantou alunos do ensino médio em Davos. swissimage/Andy Mettler

No Open Forum de Davos, o Prêmio Nobel da Paz Muhammad Yunus, pioneiro do microcrédito, impressionou adolescentes e jovens com a ideia do "negócio social".

Cerca de 200 alunos do ensino médio, jovens líderes globais e representantes dos meios de comunicação lotaram o auditório do Colégio Alpino para o debate.

Os alunos tinham na agenda uma lição de Learn money, com professores de primeira categoria. Learn money é uma ideia da associação dos jovens líderes globais (Young Global Leaders) e quer ensinar os jovens a lidar com o dinheiro.

Teorias inúteis para pobres

Depois de um filme sobre seu trabalho, Yunus fala aos jovens sobre Bangladesh, sua pátria. Ele lembra que era professor universitário quando percebeu quão pouco as teorias que ensinava eram úteis para os pobres. Em Bangladesh, há milhões de pessoas pobres, que passam fome, não têm água potável ou sofrem de doenças.

Segundo ele, hoje as pessoas estão ameaçadas não só pela pobreza, mas também pela mudança climática. “Em Bangladesh vivem 150 milhões de pessoas e o país está, em média, um metro acima do nível do mar”, diz Yunus. “Isto significa que: quem será atingido, se o nível do mar subir? Ele já sobe 4 milímetros por ano.”

Laurence Kaeppeli e Nadia Jakob estão impressionados com a situação em Bangladesh, como dizem depois. Ambos têm 16 anos e frequentam o Ginásio Alpino, em Davos. “Vir aqui não foi nenhum dever para nós. É uma oportunidade extraordinária ouvir uma pessoa como essa”, diz Laurence.

Dependência escravagista

Depois Yunus fala sobre o início do chamado social business (negócio social). “Conheci uma mulher que fabricava belos móveis de bambu, mas era extremamente pobre.” Quando ela se atreveu a falar com ele – em Bangladesh, naquela época não era habitual mulheres falarem com homens estranhos – Yunus descobriu que, pelo fato de ela ter contraído um empréstimo para a compra da matéria-prima, tinha caído em uma espécie de dependência escravagista.

O credor tinha estipulado que ela só poderia vender seus produtos para ele, e que ele que determinaria o preço. “A mulher tinha emprestado 25 centavos”, disse ele, “uma quantia muito pequena.” Então ele, Yunus, decidiu reembolsar o empréstimo por conta própria para libertar a mulher de sua relação de dependência.

As dívidas de 40 pessoas

Ele contou que pagou pouco mais de 27 dólares para libertar da dependência dos credores 40 pessoas que haviam caído em uma situação semelhante no mesmo povoado.

Sem ter qualquer noção do negócio bancário, ele mesmo acabou se tornando credor, um banqueiro do microcrédito. “Se algo acontece de errado em algum lugar, tem de se mudar as regras. Eu não me orientei pelas regras dos bancos convencionais. Eu criei regras que ajudam as pessoas a se libertar de sua pobreza.”

Uma coisa o Prêmio Nobel da Paz considera importante ressaltar: “Regras foram feitas por alguém. Isso significa que se pode mudá-las.”

O fundamento é a confiança

A concessão de empréstimo não se baseia em documentos assinados, mas na confiança. Os mutuários se unem em grupos, e se uma única pessoa não puder pagar o empréstimo, primeiramente o grupo ajuda. Se isso não funciona, o primeiro empréstimo é convertido num empréstimo de longo prazo.

Yunus conta como concretizou a sua ideia de negócio social. O banco Granmen, que ele fundou para microcréditos, já concedeu créditos no valor de 8 bilhões de dólares, 97% para mulheres. Questionado por que isso é assim, ele explica: “Quando se dá dinheiro às mulheres, a situação da família melhora. As mulheres pensam mais em longo prazo.”

Por isso, ele foi criticado no começo e, às vezes, ainda hoje o é. “Mas a experiência mostrou que assim funciona da melhor maneira possível.”

Iogurte e sapatos para os pobres

Para Yunus, negócio social não é apenas conceder empréstimos, mas todo tipo de empresa que não serve para gerar lucros excessivos, mas para melhorar a vida das pessoas. Ele cita dois exemplos.

A Danone produz em Bangladesh iogurtes que, em primeiro lugar, são acessíveis às pessoas e, em segundo lugar, contêm os todos nutrientes necessários para um desenvolvimento saudável das crianças.

E a Addidas pretende lançar no próximo ano, no mercado em Bangladesh, um sapato barato e saudável, “porque usar sapatos protege as pessoas contra doenças.”

Yunus encoraja os jovens a verem o mundo, no futuro, também através da ótica do negócio social e a serem criativos em termos de empreendimentos sociais.

“Esta lição foi muito interessante”, diz Nadia Jakob. “Já tivemos aulas de Economia no Colégio Alpino, mas não tínhamos aprendido nada sobre negócio social.”

Eveline Kobler, Davos, swissinfo.ch
(Adaptação: Geraldo Hoffmann)

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