Suíça assina acordo de livre comércio com o Japão
A ministra da Economia Doris Leuthard assinou na quinta-feira (19 de fevereiro) um acordo de livre-comércio entre a Suíça e o Japão, aproximando economicamente os dois países de forma significante.
swissinfo entrevistou a ministra durante a assinatura do acordo em Tóquio.
swissinfo: A Sra. esclareceu no momento da assinatura que o acordo com o Japão, depois daquele que havia sido firmado com a Comunidade Européia em 1972, é o mais importante para a Suíça. Por que?
Doris Leuthard: Pois o Japão é a segunda economia do mundo e que, pelo seu volume, é também de grande importância para a Suíça. Além disso, somos o primeiro país europeu a firmar com o Japão semelhante acordo. Nesses tempos difíceis, isso pode ser visto economicamente como um facho de luz para a nossa indústria de exportação.
E por que a Suíça nesse caso?
Podemos começar falando do acordo de amizade e comércio que a Suíça tem com o Japão há 150 anos, um relacionamento que sempre foi mantido. Mas, sobretudo, devemos agradecer ao embaixador Luzius Wasescha que, no contexto da Organização Mundial do Comércio, montou uma estratégia nipo-suíça dentro do grupo G10, onde foram defendidos conjuntamente interesses agrícolas. Por outro lado, chegamos em outras áreas à conclusão que temos vários pontos em comum e valores comuns. Por que então não ter uma abertura geral de mercados através de um acordo bilateral?
O acordo chegou a ser inicialmente visto como uma pedra fundamental ou acordo-modelo. O que tem nele de tão diferente?
Trata-se de um acordo amplo, moderno, que não abre apenas uma zona de livre-comércio para produtos industriais e produtos agrícolas especiais, mas também inclui parte do setor de serviços, um fortalecimento no setor da proteção de propriedade industrial e, pela primeira vez, elementos do e-commerce. São vários elementos inovadores que podem servir de exemplo para futuros acordos.
O que a Suíça promete pelo acordo?
Naturalmente iremos reduzir as tarifas alfandegárias que ainda estão em vigor. Sobretudo pelo fato delas já serem tão baixas no caso dos produtos industriais, não será muito difícil suprimí-las. A redução das tarifas alfandegárias para produtos industriais causaram uma queda de arrecadação de 13 milhões de francos por ano, o que é um muito pouco. Por isso iniciamos as negociações em uma posição muito boa.
O que há de especial no mercado japonês?
Os japoneses continuam sendo bastante burocráticos. Eles têm também características nacionais nos procedimentos de autorização, licenças e padrões, para proteger o máximo possível seus habitantes. Em si, esse é um pensamento louvável, mas que pode não ser muitas vezes compatível com as nossas conhecidas normas européias ou americanas.
No setor agrícola será muito mais fácil importar para a Suíça árvores bonsai e vinho de arroz. O Japão não teria outros desejos?
Ainda tem os bifes de Kobe e plantas. Porém o Japão é um país que importa quase todos os seus alimentos. Dessa forma não é um país de onde importaremos alimentos em larga escala. Para a Suíça isso não é especialmente trágico, pois nossa situação é semelhante. Por isso ficamos satisfeitos de ver que as exigências no setor de produtos agrícolas foram tão baixas.
O que o acordo traz para os consumidores na Suíça?
Em primeiro lugar mantemos postos de trabalho e melhoramos nossa competitividade. Para a indústria exportadora, sobretudo a indústria química, farmacêutica, relojoeira e de máquinas, esse acordo é de grande importância. Eu não colocaria em primeiro plano a possibilidade de preços mais baixos, pois os dois países fabricam produtos de alta qualidade e, consequentemente, de valor elevado. Mas temos também no setor automobilístico veículos ecológicos que são importados pela Suíça do Japão. Neste caso o acordo terá influência positiva sobre os preços de venda.
O acordo está assinado. O que politicamente deve ocorrer para que ele entre em vigor?
Em marco vou apresentar ao Conselho Federal (governo) uma moção, onde este deverá autorizar o acordo. Se isso ocorrer, o Parlamento irá tratar do assunto nas comissões. Meu objetivo é que as duas casas (Câmara dos Deputados e Senado Federal) votem o acordo até o final do verão e então poderíamos sancioná-lo entre agosto e outubro. Quanto mais rápido, menores os custos e melhores as condições para a as exportações.
Qual o procedimento do lado japonês?
Os ministros me confirmaram hoje que também estão interessados em uma rápida entrada me vigor do acordo. Por isso espero que o que foi esboçado se concretize rapidamente. Dessa forma os dois países poderão beneficiar-se do acordo a partir do verão.
swissinfo, Christian Raaflaub em Tóquio
O Japão é para a Suíça, depois da União Européia e os Estados Unidos – e antes da China – o terceiro mais importante parceiro comercial.
No Japão a Suíça está em oitavo lugar como investidor estrangeiro.
A Suíça exportou no valor de 7,1 bilhoes de francos para o Japão em 2008.,
As exportações japonesas para a Suíça foram da ordem de 4,1 bilhões de francos no mesmo período.
Os principais ítens exportados para o Japão são produtos químicos e farmacêuticos, relógios e máquinas.
O Japão exporta para a Suíça automóveis, metais preciosos, bijuterias, máquinas, eletrônicos e produtos químicos.
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