Suíça se retira de projeto contestado na Turquia
A Suíça, a Alemanha e a Áustria anunciaram nesta terça-feira (7) que se retiram do projeto de construção da barragem de Ilisu, na Turquia.
As agências de garantia de riscos à exportação dos três países estimam que as exigências de adaptação às normas internacionais não foram cumpridas.
O prazo dado à Turquia para aplicar as cerca de 150 exigências expirava dia 6 de julho à meia-noite. Apesar de certas melhorias em relação ao projeto inicial, as condições em matéria de meio ambiente, de bens culturais e de deslocamento de população não foram cumpridas, afirma a Seguradora Suíça Contra Riscos à Exportação (ASRE), em comunicado divulgado nesta terça-feira.
Portanto, os seguros contras os riscos de exportação para as empresas suíças, alemãs e austríacas envolvidas no projeto terminam hoje. As agências de crédito à exportação tinham suspendido os contratos de construção em dezembro de 2008 e dado seis meses de prazo adicional à Turquia para se adaptar às normas internacionais, condição para realizar o projeto.
O local
O projeto de Ilisu faz parte das 22 novas barragens previstas no leste da Turquia. Ele está situado à proximidade de um sítio arqueológico que poderia ser inundado. Segundo observadores, até 60 mil pessoas poderia ser obrigadas a abandonar suas casas para serem alojadas em outro lugar. Esse número é contestado pelo governo turco.
O canteiro de obras, próximo da fronteira síria e em região essencialmente curda, deveria estar concluído até 2013. O governo turco prevê que a instalação pode gerar 3.800 gigawats de eletricidade e evitar a emissão de milhões de toneladas de CO2.
Os adversários do projeto, ao contrário, argumentam que o lago da barragem destruiria dezenas de vilarejos e tesouros arqueológicos como a vila fortificada de Hasankeyf.
O projeto
Juntamente com a Alemanha e a Áustria, o governo suíço havia dado prazo até 6 de julho à Turquia para demonstrar que respeitaria as mais de 150 condições visando amenizar os impactos do projeto sobre o meio ambiente, os tesouros culturais, os Estados vizinhos e o deslocamento das populações afetadas.
No final do ano passado, as empresas envolvidas nas obras foram obrigadas a interromper o trabalho e aguardar a reavaliação do projeto.
As ONGs européias continuaram a pressionar nas últimas semanas. A crítica também aumentou na sociedade turca, com o apoio notável do escritor Yasar kemal , do prêmio Nobel de Literatura Orhan Pamuk e da estrela do pop Trakan.
Na Suíça, a ONG Declaração de Berna acusou o governo turco de expropriar os pequenos proprietários da região de Hasankeyf, ignorando os acordos que assinara. No mesmo passado, contudo, a empresa Alston Switzerland comunicou que estava confiante que o governo turco honraria seus compromissos.
Outra empresa suíça engenharia, a Colenco, advertiu que poderia haver demissões na Suíça caso o consórcio internacional fosse forçado a abandonar o projeto.
Urs Geiser, swissinfo.ch (com agências)
O que. A barragem de Ilisu faz parte de um vasto projeto hidrelétrico concebido pelas autoridades em 1991. São 22 barragens e 19 usinas previstas nos rios Tigre e Eufrades, no sudoeste do país.
Quanto. A barragem terá 135 m de altura e 1.820 m de largura, com uma reserva de 10,4 milhões de m3.
Compromisso. Para atrair os investidores, as autoridades turcas se comprometeram a cumprir as mais de 150 normas estabelecidas pelo Banco Mundial e as instituições internacionais.
Críticas. As ONGs estimam que até 60 mil pessoas dessa região, a maioria curda, poderiam ser deslocadas. Para o governo, esse número é de aproximadamente 15 mil pessoas.
Quatro empresas suíças participam do projeto dentro de um consórcio internacional. São elas: Alstom Switzerland, Colenco, Maggia e Stucky.
Elas obtiveram 225 milhões de francos suíços da Seguradora Suíça Contas Riscos de Exportação (ASRE) atrîbuídos pelo gouverno suíço. Somam-se créditos da Alemanha e da Áustria.
Um consórcio precedente tinha fracassado em 2002 depois que vários de seus membros se retiraram devido violentas críticas de defensores do meio ambiente e de outros grupos de pressão.
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