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A amarga ilusão dos “tango bonds”

Em Buenos Aires poupadores protestam contra confisco oficial. Keystone

A recusa do governo argentino de pagar seus credores internacionais atinge pequenos investidores na Suíça.

A proposta oficial de pagar apenas 47% do valor nominal dos bônus lançados antes da crise econômica é considerada insuficiente. Muitos já contam os prejuízos em milhões.

A tournée está sendo organizada nos maiores mercados financeiros da Europa. Seus participantes brigam por bilhões de dólares.

Em Londres, Frankfurt, Zurique e Milão encontram-se atualmente representantes do governo argentino com uma legião de credores.

O tema principal da conversa é o pagamento dos chamados “Tango Bonds”, títulos da dívida externa da Argentina. Até 25 de fevereiro centenas de proprietários desses papéis sem valor precisam decidir se aceitam a oferta de pagamento do governo portenho.

A Argentina espera que seu programa de reestruturação da dívida externa seja aceito para poder retornar ao mercado internacional de capitais, de onde havia sido ejetada desde a moratória implementada durante a grave econômica de 2001.

Proposta de Buenos Aires

O governo de Néstor Kirchner propõe a troca de bônus no valor de 81,8 bilhões de dólares por uma nova dívida de 38,5 bilhões de dólares, com prazos de pagamento de até 35 anos. O negócio representaria uma das maiores perdas já provocadas por um estado soberano na negociação desse tipo de títulos.

Sobre o tema, o embaixador na Suíça está proibido de falar à imprensa. De qualquer maneira, a proposta do governo portenho joga uma sombra negra sobre o sistema internacional de finanças, do qual muitos países em desenvolvimentos participam para financiar seu crescimento.

A oferta é como uma pílula amarga para muitos pequenos investidores, que esperavam rendimentos elevados dos investimentos feitos na Argentina. Muitos deles não compreendem por que a proposta do governo é tão magra.

Depois da queda brutal de 10,9% no PIB em 2002, a Argentina teve índices de crescimento superiores a 8% em 2003 e 2004. As previsões para o ano corrente e 2006 são positivas.

A Suíça no primeiro lugar da fila

Segundo dados fornecidos pela Federação Suíça de Bancos à imprensa, o valor acumulado dos títulos da dívida externa da Argentina comprados na Suíça é de aproximadamente 10 bilhões de francos. O porta-voz Thomas Suter explica que o órgão não aconselha individualmente os investidores. “Nós informamos apenas sobre o assunto”.

Esse serviço está sendo atualmente muito procurado pelas pequenas instituições de crédito, que não dispões dos recursos dos grandes bancos.

Um exemplo é dado pelo UBS: o maior banco da Suíça participa ativamente do programa de reestruturação da dívida externa da Argentina, aconselhando inclusive seu governo, juntamente com os bancos Barclays e Merryll Lynch.

Jogo duplo

O UBS encontra-se atualmente dos dois lados na questão dos “Tango Bonds”. De um lado o banco representa o setor de investimento das autoridades argentinas. Por outro, seu departamento de administração de valores aconselha os investidores que tem os títulos portenhos no seu portfólio.

“Esse papel duplo é completamente normal”, afirma o porta-voz do UBS Serge Steiner. Os dois setores trabalham totalmente independentes um do outro. O aconselhamento de clientes leva em conta apenas as análises externas.

O UBS aconselha seus investidores a não se deixar influenciar pelo governo argentino. “A oferta deles não é boa”, acredita Oussama Himani, chefe do departamento de departamento de administração de valores no banco. A dúvida, porém, é saber o que vai ocorrer caso a proposta do governo argentino não for aceita.

Associação para defender direitos

Para defender seus direitos, os investidores nos títulos argentinos criaram há um ano a associação “Global Committee of Argentina Bondholders” (GCAB). O grupo defende os interesses de 500 mil pessoas e 100 bancos ou instituições. No total eles possuem 40 bilhões de dólares, ou 46% dos papéis emitidos na época pelo governo argentino no exterior.

Um dos fundadores, Nicola Stock, participou de algumas reuniões promovidas em Zurique, Genebra e Lugano. “A oferta da Argentina não traz nenhuma segurança ao investidor”, sentencia Stock.

Ele contradiz as afirmações de que os títulos podem se tornar papéis sem valor, caso a oferta argentina seja recusada. “De qualquer maneira esses títulos continuam sendo obrigações legais”.

Para o GCAB, uma oferta aceitável passaria por um prazo máximo de reembolso de 15 anos e o pagamento da dívida com o lucro a uma taxa mínima de 2%, o que representaria uma quantia superior ao dobro da oferecida por Buenos Aires.

Enquanto isso, ainda faltam quatro dias para terminar a contagem regressiva da eventual saída da moratória da dívida pública argentina com os credores privados. O governo do presidente Néstor Kirchner, se mostra otimista, esperando encerrar a operação com uma elevada adesão de credores. Isso ocorreria graças às divisões que estão surgindo nas associações de credores em todo o mundo.

Cansados e resignados depois de três anos de moratória e um ano e meio de duras e infrutíferas negociações com o governo argentino, milhares de donos de títulos argentinos na Europa, EUA e Argentina estariam dispostos a aceitar os novos títulos, reestruturados, que sofreriam uma redução considerável.

swissinfo, Mariano Masserini
adaptação de Alexander Thoele

No final dos anos 90, milhares de pequenos investidores adquiriram títulos da dívida externa da Argentina. Porém em 2001 o país sul-americano viveu uma grave crise financeira e pediu moratória.

Para retornar ao mercado de capitais, o governo argentino está propondo uma renegociação da dívida.

Muitos dos investidores não aceitam a oferta, sobretudo pelo fato da economia argentina estar dando sinais de recuperação.

O dilema agora é aceitar ou não a oferta do governo argentino. Entre a perda total, muitos preferem um compromisso.

Os “tangos bonds” correspondem a uma dívida de 81,8 bilhões de dólares, incluindo também os juros.

10% da dívida recai sobre investidores na Suíça.
Os países mais atingidos pelo calote foram Itália, EUA, Alemanha e Japão.

“Global Committee of Argentina Bondholdes” (GCAB) representa os interesses de 500.000 investidores, ou seja, 46% dos títulos vendidos no exterior.

Em 25 de fevereiro expira o prazo para aceitação da oferta oficial do governo argentino.

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