Biocombustíveis da segunda geração serão melhores
Criticados pelo balanço energético, quando não tidos como agravantes dos problemas alimentares do planeta, os biocombustíveis têm sua utilidade.
A primeira geração desse tipo de combustível tem a vantagem de favorecer a transição energética até a chegada dos biocombustíveis sintéticos.
Os biocombustíveis nada teriam de bio, a não ser no nome? A tendência entre os socioambientalistas está mais para a crítica. E a exigência de uma moratória foi formulada, tanto no plano internacional quanto nacional.
Recentemente, o relator da ONU pelo direito à alimentação, Jean Ziegler, denunciou a influência negativa que a produção de biocombustíveis tem sobre os produtos alimentares. No início do verão europeu, os Verdes suíços exigiram que a importação de bioetanol e biodisel seja suspensa por cinco anos.
Essa mudança de posição aparentemente paradoxal deve-se a um relatório do instituto de pesquisa suíç0 EMPA, divulgado em maio último. Ele demonstra sobretudo que o balanço ecológico global da produção de muitos biocombustíveis é pior do que o dos combustíveis fósseis. Afirma ainda que as conseqüências para a alimentação e para os solos podem ser problemáticas.
Consumo em alta
“Tem biocombustíveis e biocombustíveis. Acho que a melhor atitude é reconhecer que realmente há riscos, identificá-los e tomar medidas para limitá-los”, reconhece Edgard Gnansounou, diretor do laboratório de sistemas energéticos da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL). Para ele, uma moratória não é a melhor solução.
“Na medida que os biocombustíveis represantam hoje apenas 07,% do mercado mundial, não se pode perder o senso das proporções. Claro que existem problemas locais como a alta do preço da tortilha mexicana ou o desmatamento na Indonésia, mais seria uma pena parar a dinâmica que se instalou”, explica Gnansounou.
Mas a tendência, na Suíça e alhures, é ecológica, o que pode provocar rapidamente o aumento da demanda. A União Européia (UE) quer, por exemplo, aumentar o uso de biocombustível para 5,75% até 2010 e para 8% até 2020. Os Estados Unidos falam em 10%. A Suíça, por enquanto, fixou o limite de 5%.
“Por volta de 2030, prevemos que esse tipo de combustível terá de 4 a 7% do mercado mundial, afirma Edgard Gnansounou. Com essa previsão, não se deve amendrontar as pessoas com os biocombustívels, mesmo se existe razão para alertar a opinião pública. A estratégia a ser privilegiada é a da durabilidade”.
Merecer a etiqueta «bio»
Essa também é a opinião da deputada federal ecologista Anne-Catherine Menétrey Savary, em fim de mandato. “Os Verdes pediram uma moratória e não uma interdição absoluta. É preciso desenvolver técnicas menos nocivas ao meio ambiente, a partir de plantas que não tenham incidência sobre a alimentação.”
O problema na verdade é uma história de gerações. Os biocombustíveis atuais têm incovenientes que deverão desaparecer com os combustíveis sintéticos, ditos de segunda geração.
Estes realmente merecerão a denominação “bio” na medida em que, produzidos a partir de plantas não-alimentares e com pouco fertilizante e restos vegetais da agricultura, eles terão um balanço ecológico bem mais favorável.
“Os biocombustiveis de primeira geração pode ser justificados para colocar em marcha a indústria de biocombustíveis. São meios de garantir a transição energética. O objetivo é obter biocombustíveis sustentáveis”, destaca Edgard Gnansounou.
A Suíça está atrasada
Por enquanto, existem programas pilotos como o Renew (Renewable fuels for advanced powertrains) na Europa, com a participação de pesquisadores e da indústria petroleira para o desenvolvimento de biocombustíveis sintéticos.
Enquanto aguarda a segunda geração, Edgard Gnansounou considera que é primordial criar um sistema internacional de certificação de biocombustíveis atuais, a primeira geração. As discussões envolvem atualmente a Grã-Bretanha, a Holanda e a Califórnia.
A Suíça tem possbilidades mas está atrasada. “Sua indústria é de um nível respeitável nos setores químico e biotecnológico. Potencialmente, ela poderia ocupar uma posição de ponta”, afirma.
Quanto é isenção fiscal dos biocombustíveis aprovada no Parlamento, ela deverá contribuir para acumular conhecimentos de que o país tirará proveito a longo prazo.
swissinfo, Carole Wälti
O Parlamento suíço aprovou na primavera 2007 uma isenção fiscal dos biocombustíveis para estimular a demanda e reduzir as emissões de CO2.
Ao revisar a lei sobre o imposto de óleos minerais, o Parlamento quis proteger a produção nacional de biocombustíveis, fixando cotas de importaçao.
O governo (Conselho Federal) não reteve a política de cotas no decreto de aplicação, considerando que ela é contrária às regras da OMC.
Por sua vez, os Verdes apresentaram uma moção parlamentar pedindo uma moratória na importação de biocombustíveis fabricados com plantas comestíveis. O governo é contra esse princípio.
No final do século XIX, certos engenheiros já utilizaram biocombustíveis para alimentar motores a combustão. O famoso motor de Rudolf Diesel funcionava com óleo de amendoim. Os lendários “Ford T” de Henry Ford também usavam biocombustíveis.
Utilizados em motores a combustão, o biocombustíveis são produzidos a partir da transformação de açúcar ou de óleos vegetais.
Os açúcares (cana, beterraba, trigo) transformados em álcool são adequados aos motores à gasolina (bioetanol). As oleaginosas (colza, girassol, palmeira) são destinadas aos motores diesel (biodisel).
Na Suíça, 65% dos veículos a motor usam gasolina, 34% diesel e 11% outros combustíveis.
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