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Fred é o cigarro do sucesso

Benoît Rossignol, fundador da marca de cigarros "Fred". swissinfo.ch

Muitos acreditavam que Benoît Rossignol estava cometendo suicídio comercial ao querer concorrer diretamente com as multinacionais do fumo. Ele ganhou a aposta.

O empresário de 34 anos criou há um ano a marca de cigarros “Fred” e já pensa em expansão, apesar das campanhas contra o fumo.

A sede da “Fred” está localizada em algumas salas de um centro comercial no Flon, bairro da moda em Lausanne. Na porta ao lado está o escritório de um jovem designer. Ao cruzar a rua pode ser visto o MAD, a primeira discoteca da Suíça.

Essa área fervilhante funciona como um pólo fomentador de pequenos negócios. O espírito empreendedor se estende a Benoît Rossignol, cujo escritório mostra como é possível controlar o caos controlado: empilhando centenas de caixas com pacotes de cigarros nas paredes do local.

O jovem empresário não era um iniciante no mundo do tabaco, quando decidiu criar a marca de cigarros “Fred” em agosto de 2004. Antes ele havia trabalhado cinco anos na multinacional Philip Morris. Na sua sede internacional em Lausanne o suíço se ocupou das mais diferentes áreas como finanças, planejamento e marketing. Um dia ele resolveu tomar seu próprio rumo na vida.

– No final da experiência eu tinha a impressão de saber exatamente como funcionam as coisas no mundo do tabaco. Porém eu tinha as minhas próprias idéias, que não eram muito aceitas na Philip Morris. Assim pensei em tentar aplicá-las eu mesmo. Parece complicado para quem vê de fora, mas se você conhece o negócio, ele passa a ser realizável – explica Rossignol ao repórter da swissinfo.

Plano de negócios

O jovem empresário elaborou o plano de negócios no início de 2004 e imediatamente iniciou os contatos com as manufaturas. Seis meses passados, os cigarros “Fred” já estavam à venda nas lojas dos quatro cantos da Suíça.

Atualmente a empresa vende 35 mil pacotes por mês, um desenvolvimento surpreendente em relação às vendas iniciais de dois mil pacotes em agosto e 2004. No ano passado o faturamento foi de 1,4 milhões de francos (US$ 1.06 milhões).

Segundo ele, as vendas mensais da marca se equiparam às vendas realizadas por hora pelas duas grandes multinacionais que dominam o mercado suíço de cigarros, a Philip Morris e a British American Tobacco. Porém o tamanho da empresa não deixa de tornar seus produtos cada vez mais atraentes ao consumidor.

– Quando começamos, a empresa era vista mais como surpresa do que como concorrência. Agora eu sei que existem pessoas nas duas multinacionais que estão monitorando com muita atenção o que estamos fazendo, ainda mais pelo fato de estarmos utilizando a Internet nas vendas. Tenho certeza de que eles apostavam no nosso insucesso. Agora estamos crescendo cada vez mais e começando a lhes incomodar – revela Rossignol.

100% puro

Rossignol optou por utilizar 100% de puro tabaco, sem aditivos ou aromatizantes. Essa escolha veio da inspiração no sucesso de outra marca, a “American Spirit”.

– Ela foi lançada na Suíça no fim dos anos 90 e sem campanhas publicitárias. A única propaganda foi a de boca-a-boca. Agora essa marca vive um crescimento constante com os preços no mesmo nível das marcas nobres de 6,40 francos, enquanto a maioria fica nos seis francos. Na minha opinião, a escolha do tabaco 100% puro foi o que impulsionou as vendas do American Spirit”.

Assim como essa marca, também Fred aposta na propaganda boca-a-boca para atingir seu público-alvo: os consumidores da faixa etária entre 25 e 35 anos. Com um orçamento de apenas 130 mil francos para as atividades de marketing, os três funcionários é que fazem o trabalho de rua.

Rossignol garante que seus cigarros utilizam apenas tabaco, sem aromatizantes ou “filler” (sobras de tabaco ou outras impurezas utilizadas para encher os cigarros). Isso significa que os consumidores precisam acreditar que recebem mais pelo seu dinheiro ao comprar os produtos Fred. Porém eles não dizem que sua marca é mais saudável do que as outras.

– Não estamos dizendo que o nosso cigarro é menos nocivo do que os outros. A diferença do nosso produto é que o consumidor sabe o que está fumando – defende o empresário.

Problema do financiamento

Um dos maiores problema da jovem empresa – a parte da questão do crédito – foi a distribuição. Enquanto na Suíça de língua francesa os cigarros Fred são encontrados em qualquer loja, na parte alemã a situação é muito diferente: cerca de 80% dos quiosques são controlados por um punhado de empresas, que não parecem estar dispostas a abrir mercado à nova marca.

Agora Fred está concentrando suas vendas nos quiosques independentes de Zurique, Basiléia, Berna, Bienne, Winterthur e St. Gallen. O objetivo é conquistar os mercados nos cantões de língua alemã.

Rossignol reclama que sua empresa sofre permanentemente com a falta de dinheiro líquido. Ele investiu 300 mil francos do seu próprio bolso e conseguiu também um empréstimo de 200 mil em dezembro de 2004. Porém a grande frustração vem do fato dos bancos sempre fecharem as portas quando ele aparece para pedir crédito.

– Para qualquer empresa iniciante é praticamente impossível ter apoio dos bancos na Suíça. Eles nunca assumiriam os riscos. Agora nós chegamos no estágio, onde precisamos investir mais. O triste é que, em março do ano passado, eu não tinha mais dinheiro e fui obrigado a pedir emprestado aos amigos e família.

Campanhas

Analistas acreditariam que as campanhas contra o fumo em locais públicos, algo intensificado nos últimos anos na Suíça, seriam uma grande barreira para o desenvolvimento da marca Fred. Mas Rossignol vê a questão mais como vantagem do que problema.

Para ele, a queda no consumo de tabaco não irá afetar muito uma empresa tão pequena como a sua. Ao contrário: o empresário está seguro de que as pessoas que fumam irão começar a procurar produtos de boa qualidade como os cigarros Fred.

– A partir do momento em que conseguirmos estabilizar a nossa distribuição, eu tenho certeza que teremos suficientemente energia e iniciativa para levar a marca para frente – conclui.

swissinfo, Adam Beaumont

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