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Hotéis investem em mais luxo

Os andaimes serão retirados do Dolder Grand Hotel apenas em 2007. Dolder Grand Hotel

Apesar da estagnação do setor turístico helvético, membros de uma associação de hotéis de luxo pretendem investir 1 bilhão de francos na reforma dos seus estabelecimentos.

Para muitos dos proprietários, o lucro não é o principal objetivo, mas sim o manutenção do renome e prestígio de alguns hotéis que já fizeram história.

Os nomes dos trinta e quatro membros da Associação Suíça de Hotéis de Luxo são uma espécie de “who’s who” do setor. Muitos dessas famílias já atuavam na hotelaria do século XIX ao início do XX, a época de ouro do turismo no país.

Agora eles querem recuperar o brilho do passado através da restauração dos seus estabelecimentos. Um deles é o Dolder Grand Hotel em Zurique, cujos proprietários vão investir 250 milhões de francos na sua renovação.

Mais 100 milhões de francos devem ser gastos para reformar o Hotel Drei Könige, um estabelecimento localizado na Basiléia e considerado também o mais antigo hotel da Europa. Ele foi fundado em 1026.

O empresário suíço Thomas Straumann é o financiador e proprietário. Há poucos anos ele já havia gasto 60 milhões de francos para colocar o Grand Hotel Bellevue, em Gstaad, nos trinques.

Porém Straumann foi superado por Karl-Heinz Kipp, um bilionário alemão com uma preferência especial por velhos hotéis.

Oásis na montanha

Kipp já despendeu 120 milhões de francos nas suas três propriedades: o Tschuggen Grand Hotel (Arosa), o Eden Roc (Ascona) e o Carlton (St Moritz).

Nesses locais nobres ele realizou reformas como a construção do spa estilo oásis-nas-montanhas no Tschuggen Grand Hotel e a melhoria das instalações no Éden Roc. As obras têm a assinatura do famoso arquiteto suíço Mario Botta.

Porém Straumann e Kippe não são os únicos a investir no setor. A maioria dos hotéis que fazem parte dessa associação de elite está em mãos privadas. Muitas vezes, os proprietários são investidores abonados à procura de objetos de prestígio. Eles não esperam necessariamente o retorno de investimento.

Os hoteleiros de “fim-de-semana”, como a imprensa helvética denomina, são os únicos interessados com recursos suficientes para investir na renovação custosa dos grandes hotéis, que um dia já contribuíram para a fama da Suíça. Nesse sentido, pode-se dizer que eles estão contribuindo para preservar a memória do país.

Importância estratégica

“Nossos membros dão valor à história e à tradição”, explica Fiorenzo Fässler, chefe da Associação Suíça de Hotéis de Luxo, e completa, “A exclusividade é encontrada na combinação ideal entre tradição e funcionalidade. Existe hoje em dia uma demanda muito grande por autenticidade”.

Porém existem os críticos. Um deles é o Roland Flückiger, um acurado historiador e restaurador de hotéis antigos. Ele alerta para os casos de restauração que não passam de mudanças cosméticas. “Muitas das reformas realizadas descuidam-se dos aspectos históricos, preservando apenas fachadas ou alguns quartos”.

Consciência do valor

Para contrapor essa tendência, Flückiger convocou empresários do turismo e do setor hoteleiro para um simpósio que ele organizou em Lucerna. O evento ocorre entre 23 e 23 de maio e tem como principal objetivo aumentar a consciência geral em relação à riqueza cultural dos hotéis suíços. Ao mesmo tempo, o historiador espera que os participantes apóiem sua idéia de criar um arquivo de hotéis.

“Hotéis de quatro e cinco estrelas são obrigados a adotar certos padrões internacionais e isso termina levando à homogeneização. Por isso o mobiliário é sempre parecido, não importando o hotel onde o turista está hospedado”, afirma Flückiger. “Os móveis são produzidos em massa no estilo Luís XIV em algum lugar do mundo, importados e colocados nos quartos”.

Fiorenzo Fässler defende o equilíbrio: – “É necessário encontrar um balanço cuidadoso entre o funcionalismo e a decoração”. Na sua opinião, a autenticidade não deve seguir apenas padrões contemporâneos. Ele defende alguns empresários do setor, que já conseguiram reformar com estilo hotéis renomados sem fazer deixar de atender as exigências modernas de conforto.

“Em grande parte são os hotéis dirigidos por proprietários individuais ou famílias. Muito raramente aqueles administrados em redes, que não fazem atenção à herança cultural dos países onde estão funcionando, mas sim preferem seguir tendências do design internacional”.

Compras estranhas

Um exemplo dos movimentos estranhos é o caso dos investidores anônimos da empresa do setor hoteleiro Rosebud, que parecem estar tentando encontrar um outro destino para as suas últimas aquisições na Suíça como o Hotel Bürgenstock, no lago de Lucerna, e o Hotel Schweizerhof, uma aquisição recente em Berna.

Rosebud fechou ostensivamente o Schweizerhof no último mês para trabalhos de “renovação”, porém muitos bernenses temem que eles nunca mais reabram o hotel.

“A Suíça tem a maior concentração de hotéis que estão para ser herdados no mundo, um número estimado entre 300 e 400. Porém existem muitos poucos investidores dispostos a colocar recursos na reformas desses estabelecimentos”, lembra Flückiger.

O Grande Hotel de Locarno é um exemplo desses locais nobres. Entre os seus muros já foi escrita a história do mundo: em 1925, quando líderes europeus assinaram o Pacto de Locarno para tentar prevenir uma outra guerra mundial, que terminou ao final ocorrendo.

O hotel conseguiu até agora sobreviver aos projetos de renovação sem sentido ou ao abandono, como já ocorreu com vários estabelecimentos da sua idade. Porém se ele não encontrar rapidamente um investidor, o belo prédio será vítima de especuladores sem interesse de preservar o passado. Talvez até vire um prédio de apartamentos.

swissinfo, Dale Bechtel
traduzido por Alexander Thoele

Membros da Associação Suíça de Hotéis de Luxo estão investindo 1 bilhão de francos suíços nos próximos três anos na renovação e melhora dos seus estabelecimentos.

Grande parte dos hotéis foi construída entre os séculos XIX e XX.

O plano de reforma ocorre ao mesmo tempo em que os setores turísticos e hoteleiros pleiteiam a preservação da herança cultural dos hotéis suíços.

O simpósio ocorre no Palace Hotel de Lucerna entre 23 e 24 de maio.

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