“Lixo tóxico” coloca UBS em apuros
Há mais de um ano, o UBS está na mira da Justiça dos EUA, sob suspeita de ajudar contribuintes norte-americanos a driblar o fisco. Agora o caso respinga na diretoria do maior banco suíço.
Raoul Weil, diretor de contas no exterior e membro do conselho de administração do UBS, é acusado de ter ajudado 20 mil clientes da instituição nos EUA a sonegar 20 bilhões de dólares de impostos.
Segundo informações do New York Times, Weil foi indiciado por um tribunal do sul da Flórida. Ele e outros funcionários do UBS teriam ajudado os clientes a “esconder” suas fortunas da Receita Federal (IRS, na sigla em inglês).
Para isso, eles usavam empresas de fachada, contas secretas e notebooks criptografados. Aproximadamente 17 mil clientes escondiam suas identidades e suas contas em bancos suíços da Receita, e preenchiam declarações falsas, diz o indiciamento divulgado na última quarta-feira (12/11).
Weil chefiou de 2002 e 2007 o departamento de contas privadas internacionais, que emprega mais da metade dos funcionários do banco e administra fortunas no valor de 2 trilhões de francos suíços.
Pena dura
Ele teria classificado os negócios da área de “lixo tóxico”, mas como o “lixo” rendia 200 milhões de dólares por ano ao UBS, defendeu a ampliação dessas atividades. Isso apesar de os funcionários do UBS saberem que transgrediam leis dos EUA.
Segundo o texto do indiciamento, somente em 2004, funcionários do UBS viajaram 3.800 vezes aos EUA para reuniões com clientes (e contribuintes) locais.
Banqueiros que favorecem a fraude fiscal nos EUA estão ameaçados de “conseqüências sérias, incluindo prisão e pesadas multas”, explicou John Marrella, do departamento de impostos da Secretaria norte-americana de Justiça.
Segundo o New York Times, em caso de condenação, Weil poderia levar até cinco anos de cadeia e uma multa de 250 mil dólares.
Advogado rebate acusações
Aaron Marcu, advogado de Raoul Weil (que atualmente se encontra na Suíça), disse que as acusações são “totalmente injustas e sem fundamento”. Weil nega qualquer insinuação de que tinha conhecimento ou tolerava um comportamento ilegal nos negócios internacionais do UBS.”
Weil decidiu renunciar às suas funções no banco, “no interesse da empresa e de seus clientes, até que o caso seja solucionado”, informou o UBS. Enquanto isso, ele prepararia a sua própria defesa.
O banco lembrou o anúncio feito em meados de junho, segundo o qual não oferece mais nos EUA serviços internacionais na área de private banking que não sejam prestados por sociedades reguladas pelas leis norte-americanas.
“O UBS apoiará integralmente as investigações no presente caso e cooperará de forma responsável com todas as autoridades envolvidas”, garantiu o banco.
swissinfo com agências
O indiciamento do Raoul Weil é até agora o golpe mais duro da Justiça dos EUA contra o UBS.
Em maio passado, o FBI prendeu o americano Bradley Birkenfeld, que trabalhou na área de contas privadas do UBS de 2001 a 2007, e deteve o executivo Martin Liechti, um subordinado de Raoul Weil nos EUA.
Em seus depoimentos, Birkenfeld contou, entre outras coisas, que traficava diamantes em tubos de pasta de dentes para “repatriar” aos EUA lucros obtidos por clientes norte-americanos do UBS em contas na Suíça. Analistas acreditam que Birkenfeld denunciou também Weil.
Em julho de 2008, um juiz de Miami soliticitou ao UBS dados de 19 mil clientes norte-americanos, independentemente de estarem sob suspeita de crime ou não. O processo ainda está em andamento.
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