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Luta de camponesa

Corinne Dobler (meio) no encontro de camponesas em Brasília no ano passado. MMC

No Brasil trabalhadoras rurais e camponesas lutam pelo reconhecimento do seu trabalho e pela proteção da biodiversidade. Um dos voluntários é a suíça Corinne Dobler.

No Dia Internacional da Mulher, o grupo um acampamento de protesto contra as multinacionais agrárias.

“As mulheres aqui presentes são, em primeira linha, esposas e mães que tanto trabalham em casa cuidado das crianças ou do jardim, como nas plantações”, descreve Corinne Dobler o papel tradicional das mulheres de Passo Fundo, uma pequena cidade localizada no sul do Brasil.

“As mulheres são submissas aos homens e o seu trabalho não é reconhecido”, explica essa suíça de 32 anos, que há um ano e meio atua na região como voluntária.

O engajamento no Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) se concretiza através da troca de informações. Corinne estudou etnologia e sua e como jornalista e sua experiência de trabalho vêm do jornalismo e da Cruz Vermelha Suíça.

Ponta do iceberg

O movimento conta com 30 mil participantes no Rio Grande do Sul, estado brasileiro. Em todo o país são mais de 180 mil. Sua luta é pelas mulheres de toda a América Latina, que não recebem o reconhecimento e o pagamento devido apesar da labuta diária na lavoura e no lar.

Em Passo fundo, onde se encontra a sede principal do MMC, Corinne trabalha no setor de relações públicas e imprensa. A cidade está a quatro horas de ônibus da capital Porto Alegre, conhecida em todo o mundo pelo Fórum Social Mundial.

Monocultura

“As mulheres do movimento lutam pela igualdade de direitos, segurança social e uma agricultura ecológica”, esclarece Dobler. Elas se consideram protetoras da biodiversidade e são contra as multinacionais agrárias e o uso transgênicos no campo.

“A implantação crescente de monoculturas destrói a natureza. Os camponeses não podem mais plantar seus próprios alimentos, mas sim são obrigados a comprá-los nos mercados. Eles caem em dependência das multinacionais, pois são obrigados a comprar lá suas sementes e pesticidas”.

As mulheres camponesas plantam, segundo a região, milho, soja, abóbora, banana e diversas frutas. A maioria delas têm de duas a quatro vacas. A ordenha e fabricação do queijo também são trabalhos das mulheres, como afirma Corinne.

Única profissional

No MMC, Corinne Dobler apóia o trabalho de comunicação. “Eu escrevo artigos para o jornal Desperta Mulher, para a nossa página na Internet e também os press-releases”.

Na equipe de quatro pessoas que se ocupam desse setor, a suíça é a única jornalista profissional. Nesse sentido ela faz atenção para que a linguagem do jornal não seja muito complicada. “Muitas das mulheres que nos lêem não freqüentaram a escola por muito tempo”.

Outro ponto forte da sua atuação é ajudar o movimento a criar uma estratégia de comunicação. Nesse sentido ela já tem diversas idéias como, por exemplo, associar mulheres de outras regiões no trabalho de comunicação.

Dificuldade de mobilização

“Ainda tem muita coisa para fazer”, resume Dobler. Quanto mais conhecido é um movimento na opinião pública, mais influência política e social ele ganha e membros. Ao mesmo tempo, seria importante que as mulheres camponesas não fossem mais confundidas com o Movimento dos Sem-Terra.

Também a mobilização dos membros do MMC num país gigantesco como o Brasil já é um grande problema. Somente o estado do Rio grande do Sul é muitas vezes maior do que a própria Suíça. “Viagens provocam custos elevados, pois muitos dos nossos membros vivem em locais distantes”, explica Dobler.

Reconhecido oficialmente

Na presidência do esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva, o governo federal brasileiro apóia alguns projetos do movimento. Ao mesmo tempo, o MMC também recebe ajuda financeira de outras organizações européias. No Rio Grande do Sul, o movimento tem um orçamento de 166 mil francos suíços.

Nos encontros locais participam de 10 a 20 mulheres. Nos regionais já são até 500 membros. Elas não apenas discutem ou debates problemas concretos, mas também organizam peças de teatro ou cantam. “Percebemos que as mulheres voltam depois para suas casas com um sentimento de força e autoconfiança”, conta Corinne.

Essa autoconfiança será demonstrada pelas camponesas do MMC no Dia Internacional da Mulher através da organização de dois protestos, um deles contra as multinacionais agrárias.

swissinfo, Renat Künzi
traduzido por Alexander Thoele

O Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) tem 180 mil participantes.
A mulheres lutam pelo reconhecimento social como camponesas, pela segurança social e proteção da natureza.
Elas combatem as grandes multinacionais agrárias (monoculturas, plantas transgênicas e monopólios no comércio de sementes).
MMC é apoiado pelo governo federal do Brasil e outras organizações.

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