Mobilização Política via Internet

Em março: 30 mil pessoas protestam contra a guerra do Iraque nas ruas de Berna. Keystone

Começando por protestos online, passando por campanhas via internet até chegar a mobilizações políticas via sms. As novas mídias são fundamentais para a mobilização política atual.

Esta nova tendência ficou evidente em 1999 em Seattle, quando 50.000 manifestantes impossibilitaram a realização da Conferência da Organização Mundial do Comércio (OMC).

“A internet é fundamental para o nosso trabalho, pois via internet convocamos as pessoas para manifestações políticas e lançamos campanhas de protesto. Também podemos enviar as informações que nos solicitam sobre temas variados, como o “Public Eye on Davos” (O Olho Público sobre Davos), evento paralelo ao Fórum Econômico Mundial (WEF). Também enviamos boletins informativos aos interessados”, informa Sibylle Spengler, da ONG suíça “Declaração de Berna” (EvB).

Sibylle Spengler ressalta que a EvB não é a única organização que utiliza as novas mídas para divulgar campanhas e informações, conquistando, assim, novos membros.

Rede Internacional

Desde que, em 1999, uma mobilização gigantesca atrapalhou um encontro da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Seattle, nos EUA, sabe-se que emails e campanhas internacionais na internet são instrumentos poderosos.

Graças às novas mídias, as várias organizações não-governamentais e de preservação do meio ambiente, que militam na luta contra a exploração do Terceiro Mundo, contra o crescente abismo entre ricos e pobres, contra a destruição da natureza e por um mundo mais humano e justo, constituem hoje um movimento de protesto mundialmente organizado.

Os vários atores desta resistência, como os ativistas antiglobalização, os manifestantes contra a energia nuclear, agricultures, anarquistas, sindicalistas, feministas e representantes de minorias em geral, mantêm contato fácil e rápido por email e via telefonia celular.

A “Coordenação Anti-OMC” lançou em sua homepage uma campanha anti-Davos (“Auf nach Davos”), convocando manifestantes para um protesto contra o Fórum Econômico Mundial na própria cidade de Davos. O site da organização de esquerda “Oltner Bündnis” (Aliança de Olten) convocava, na época, para o mesmo protesto, porém sob o título de “Wipe out WEF” (“Fora WEF”). Certamente não vão faltar, na rede, convites para manifestações de protesto contra o Fórum Econômico Mundial 2004.

No site do movimento antiglobalização “ATTAC” (Associação pela Tributação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos) já se encontram chamadas para eventos de mobilização contra o Fórum Econômico Mundial 2004.

Rápido e Expontâneo

Samuel K., de Berna, ativista do grupo “Juventude contra a Guerra”, relata o papel fundamental dos emails e das mensagens sms para telefones celulares na organização dos protestos de estudantes contra a guerra no Iraque realizados na Suíça:

“Os protestos diários, realizados na hora do almoço em frente à embaixada do EUA em Berna, não teriam sido possíveis sem a mobilização rápida e expontânea dos estudantes por mensagens sms e através de contatos pelo celular”, admite Samuel K. Nas escolas, porém, as chamadas para manifestações continuam a circular em panfletos.

Franz Eidenbenz, que estuda os aspectos psicológicos relacionados ao uso da internet, ressalta várias vantagens dos novos meios de comunicação: “Hoje, os jovens têm acesso autônomo às informações e à troca de informação, o que difere muito da situação de tempos atrás. Eles podem enviar e receber mensagens por email e sms, sem que seus pais tenham acesso a estas informações.”

Eidenbenz acrescenta que, graças à internet e aos telefones celulares (bastante difundidos entre os estudantes suíços), os jovem têm a possibilidade de promover encontros de forma expontânea. “Eles também podem utilizar esta possibilidade para atingir objetivos em âmbitos mais gerais, como por exemplo, para organizar manifestações de protesto.”

Nova Chance para os Jovens

Samuel K., 17, aluno do ensino médio em Berna, utiliza regularmente a internet para se manter atualizado. O psicólogo Eidenbenz, porém, diz ainda não ter certeza se as novas mídias realmente levam os jovens a ter uma participação política mais ativa.

“Com certeza, os jovens de hoje têm mais facilidade de se posicionar diante dos fatos, e isso se deve ao fato de haver uma grande troca de informações e uma organização desta informação em forma de homepages”, assegura o psicólogo.

Eidenbenz crê que talvez os jovens de hoje sejam levados mais a sério pelo mundo adulto, “primeiro porque demonstram grande competência em assuntos ligados à internet e no domínio das novas mídias, e, segundo, porque a comunicação por email não revela a idade nem a posição das pessoas na sociedade.”

Sibylle Spengler ressalta que, para a ONG “Declaração de Berna” (EvB), a comunicação eletrônica e a difusão de informações por meios eletrônicos é de máxima importância, especialmente na preparação de campanhas internacionais.

“Na atual sociedade de informação, não é mais possível imaginar o nosso trabalho sem o uso da internet”, conclui Spengler.

swissinfo, Gaby Ochsenbein