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Os atletas bebem Rivella

"Tão suíço quanto Toblerone ou o Ovomaltine: Rivella, a bebida feita de soro do leite, água e ervas". Keystone

Rivella, o segundo “leite materno” dos suíços, é um refrigerante de soro lácteo e extrato de ervas e frutos. Esse produto é tão típico quanto o chocolate ou o canivete.

swissinfo visita a fábrica da Rivella AG em Rothrist e conta a fascinante história da bebida que nasceu num banheiro em 1951 e hoje vende mais de 100 milhões de litros por ano.

Um estrangeiro que queira realmente conhecer a Suíça não pode ficar limitado a admirar somente os cenários alpinos ou as antigas cidades medievais. Existem detalhes desconhecidos que ajudam a conhecer melhor esse país.

Por exemplo: em “Kleine Scheidegg”, uma estação de trem localizada a mais de dois mil metros de altura no cantão de Berna.

Depois de terem esquiado durante toda a manhã, as famílias suíças se sentam nos restaurantes com vista panorâmica para o Eiger, Mönch e Jungfrau, as grandes muralhas de granito com mais de quatro mil metros de altura, e pedem uma estranha bebida dourada, servida em garrafas de rótulo vermelho, azul ou verde.

Não se trata de cerveja ou uma poção mágica: se o curioso estrangeiro resolver perguntar a uma dessas famílias, elas irão responder em uníssono: – “os atletas bebem Rivella (Sportler trinken Rivella)”.

Para muitos suíços, esse refrigerante de sabor ácido e levemente adocicado, feito de soro lácteo e extrato de ervas e frutos, é quase uma espécie de “segundo leite materno”.

Rivella não só patrocinou durante muitos anos as equipes nacionais de esqui, como também é encontrado em qualquer esquina, bar, restaurante ou hotel do país. O refrigerante é quase uma instituição.

Tudo começou num banheiro

Um velhinho originário de Zurique é o criador e fundador da Rivella AG. Aos 81 anos, Robert Barth vive entre o Chipre e a Suíça. Apesar de aposentado, ele ainda participa das reuniões da diretoria ou inspeciona as novas máquinas embaladoras da empresa, que até hoje é completamente familiar.

A história da bebida é um bom exemplo do pioneirismo e criatividade do pós-guerra na Suíça. Ela começou em 1949, quando Jean Barth, irmão mais velho de Robert, viajou aos Estados Unidos.

Para financiar a viagem, ele procurou através de anúncios de jornal “contratos de empresas suíças, que quisessem investir nos EUA”. Um dos primeiros foi com Heinrich Himmelsbach, um biólogo alemão que havia criado a receita de uma espécie de cerveja feita à base de soro lácteo, mas que ninguém queria fabricar na própria Alemanha.

Em 1951, Jean Barth retornou a Suíça sem ter encontrado nenhum interessado. Decepcionado, o biólogo alemão resolveu vender a sua idéia a Robert Barth, que havia acabado de concluir os estudos em direito e procurava alguma idéia para iniciar um negócio próprio. Ele estava convencido que um refrigerante de soro lácteo poderia fazer sucesso na Suíça.

Inspiriação no Tecino

O livro de jubileu de 50 anos da empresa conta como nasceu o refrigerante: – “aos 29 anos, o advogado começou a misturar, no banheiro da casa, água mineral, extrato de ervas e soro lácteo e provava a cada vez os resultados sem encontrar o sabor ideal”. Depois de várias tentativas e com ajuda de um especialista em leite da Escola Politécnica de Zurique, Robert Barth conseguiu afinal chegar à fórmula da Rivella, que é mantida até hoje em segredo pelos membros da família.

O nome “Rivella” foi criado pelo próprio dono da empresa, que havia se inspirado em “Riva San Vitale”, um pitoresco e belo povoado no cantão de língua italiana Tecino. Como era proibido registrar nomes de localidades para produtos, Robert Barth foi obrigado a procurar outra solução: folheando um dicionário de italiano, ele bateu então os olhos na palavra “Rivelazione” (revelação).

Nasce então “Rivella”

Num país onde o hábito do consumo de leite e derivados é tão arraigado como na Suíça – existem mais de 450 tipos de queijo suíço – um refrigerante feito de soro lácteo não teria dificuldade de encontrar seu espaço no mercado.

Subproduto da fabricação do queijo, o soro lácteo é, na maior parte, descartado pela indústria de laticínios, apesar de ser riquíssimo em proteínas e lactose. Numa garrafa de Rivella, 35% do seu conteúdo é de soro, o resto é água, açúcar, ácido carbônico, ácido láticos e extratos de ervas e frutas.

Rivella é encontrada em três sabores: vermelho, azul e verde. “A diferença da Rivella vermelha e a azul é que a última tem muito poucas calorias, pois ela usa adoçante”, explica Alexander Barth, presidente do conselho de administração da Rivella AG e filho do fundador. “A Rivella azul também foi uma dos primeiros refrigerantes doces da Europa, tendo sido lançado primeiro em 1957 na Holanda, e só dois anos depois na Suíça”.

Por último veio a Rivella verde, lançada apenas em 1999. Essa é uma versão da bebida incluindo extrato de chá verde na sua receita.

Vendas recordes em 2002

A fábrica em Rothrist, uma pequena cidade localizada no cantão de Aargau, ao lado da auto-estrada que liga Berna a Zurique, emprega 270 funcionários. Para produzir os mais de 90 milhões de litros anuais de Rivella, eles empregam 28 milhões de litros de soro lácteo, produzidos por oito mil vacas suíças.

Segundo o relatório anual apresentado aos jornalistas em julho, 2002 foi considerado um ano recorde para a empresa. Internamente Rivella aumentou seu espaço no mercado de refrigerantes de 14% para 15,2%. Mais de 99,5 milhões de litros foram vendidos na Suíça e 16,2 milhões de litros no exterior. E o faturamento aumentou 7,9% para 151,3 milhões de francos suíços (US$ 114,2 milhões).

“Nos somos o segundo refrigerante mais vendido na Suíça, depois da Coca-Cola. Em terceiro lugar vem a Pepsi-Cola”, explica Alexander Barth. “No ano passado cada suíço bebeu, em média, 12 litros de Rivella”.

Além do refrigerante Rivella, a empresa produz e vende na Suíça sucos de frutas e bebidas funcionais sob a marca “Michel”. As bebidas funcionais são sucos adicionados com componentes extras e competem no mercado com bebidas energéticas como “Reed Bull”. “Com a diferença que nossos produtos são naturais”, acrescenta Alexander Barth.

O último produto dessa linha foi lançado em outubro e tem um nome latino: “Chili Gonzáles”. A bebida vermelha é uma mistura de sucos de tomate, limão e laranja, adicionada de guaraná e “guatuba”, uma mistura secreta de ervas afrodisíacas. “Experimente tomar o Chili Gonzáles antes de dormir”, brinca Barth.

Expansão para o exterior

Assim como outras empresas suíças, Rivella sonha em vender seus produtos no exterior. Os fracassos das tentativas nos últimos anos e o desconhecimento do produto são, porém, os maiores obstáculos.

“Nossa maior dificuldade é explicar aos estrangeiros o que é Rivella e as suas vantagens em relação às outras bebidas gasosas: seus minerais, a lactose, o cálcio”, afirma o presidente do conselho de administração. “Não temos recursos para grandes campanhas de marketing em outros países. Além disso, outra dificuldade é que os grandes distribuidores dão menos de um ano para que um novo produto tenha sucesso nos seus supermercados”.

No exterior, o único país onde Rivella deu certo foi a Holanda, onde o produto é fabricado desde os anos cinqüenta. Na Inglaterra e nos Estados Unidos a empresa tentou lançar o produto e acabou tendo de abandonar o país, depois de vários prejuízos. “Nosso maior problema foi a falta de bons distribuidores”, explica Alexander Barth.

Agora o objetivo é fortalecer as vendas nas regiões próximas às fronteiras de países vizinhos como a Alemanha, França e Áustria. “Afinal, nessa região vivem pessoas que costumam passear na Suíça e também muitos turistas suíços, que conhecem melhor a Rivella”, ressalta Barth.

Fora da Europa, Rivella ainda tentará dar um passo tímido no mercado americano. As garrafas serão vendidas como produto de luxo na rede de supermercado Publics da Flórida. Rivella não estará, porém, na prateleira das bebidas, mas sim no setor de “Health Food” (alimentos saudáveis), onde quatro unidades irão custar seis dólares.

Rivella e o Brasil

Alexander Barth, presidente do conselho de administração da Rivella AG fala perfeitamente o português. Perguntado sobre seu interesse em relação ao idioma de Camões, ele respondeu de forma pragmática: – “Meu pai queria investir no Brasil e pediu que alguém da família aprendesse o português”.

Seu aprendizado ocorreu diretamente em Portugal, através de uma estadia de três meses. Em 1972, ainda estudante de direito, ele logo depois viajou ao Brasil, onde foi acompanhar seu pai na conclusão de um negócio em Feira de Santana, na Bahia.

Através da Passina Group, uma empresa independente no grupo da família Barth especializada na produção de concentrados de sucos, com sede na Holanda, Robert Barth montou uma fábrica de suco de maracujá em sociedade com a empresa brasileira Metaleve

O segundo investimento da família Barth no Brasil ocorreu nos anos 80 em Belém do Pará, onde foi construída uma fábrica para a produção de concentrado de Maracujá.

“Essa fábrica foi vendida em 1998 a uma cooperativa de produtores de maracujá. Hoje eles são um dos maiores fornecedores de suco concentrado do fruto para a Passina”. Dentre outros, a Passina domina 40% do mercado mundial da produção de concentrado de maracujá.

swissinfo, Alexander Thoele em Rothrist

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