Otimismo prudente com a OMC
A Suíça espera que até o final do mês seja possível chegar a um acordo para relançar as negociações iniciadas em Doha, em 2001.
Em setembro do ano passado, em Cancun, as negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC) não avançaram devido a questão das subvenções agrícolas.
Os países em desenvolvimento exigem que os governos na Europa e Estados Unidos cortem mais de 400 milhões de francos suíços (US 350 milhões) por ano das subvenções à agricultura. Isso eliminaria parte do que consideram como concorrência desleal.
De seu lado, os agricultores suíços exigem que o governo proteja seus interesses e não ceda às pressões internacionais.
Segundo Luzius Wasescha, representante suíço para os acordos comerciais, os obstáculos para chegar a um acordo não são insuperáveis.
“Há vários sinais de alarme mas, sendo otimista por natureza, acho que podemos chegar a um acordo até o final do mês”, afirma o diplomata.
A OMC precisa avançar nessas negociações antes das eleições presidenciais de novembro nos Estados Unidos e da posse da nova administração da Comissão Européia, em Bruxelas.
Subvenções a apoios
As discussões sobre a agricultura abrangem subvenções à exportação, apoio à produção e acesso a mercados.
Os países ricos como a Suíça e o Japão, assim como países em desenvolvimento com agricultura pouco competitiva – não querem abrir totalmente seus mercados alegando que seus agricultores desapareceriam.
Luzius Wasescha reconhece que a Suíça – cada vez mais pressionada a liberalizar o setor agrícola – tem “uma reputação protecionista”.
Em seu último relatório sobre a Suíça, a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) afirma que os agricultores suíços “foram amplamente subvencionados e que as tarifas alfandegárias dificultam as importações”.
Mas Luzius Wasescha explica a posição do governo suíço: “com 7,5 milhões de habitantes, a Suíça é 11° importador de produtos agrícolas. É preciso levar isso em conta antes de nos criticarem”.
“Os altos custos de produção em vigor em nosso país explicam boa parte das tarifas praticadas”, acrescenta.
Não é um caso especial
No entanto, para Petros Mavroidis – professor na Universidade de Neuchâtel e especialista da Organização Mundial do Comércio – a Suíça não pode se considerar como um caso à parte dentro da OMC.
“Você pode encontrar particularidades em cada membro da OMC. A questão não é de saber que cada membro da OMC pensa dele mesmo, mas de saber o que as regras da organização prevêem em certos casos precisos”, explica o professor.
É evidente que o governo suíço está sob pressão e que não pode simplesmente suprimir as subvenções aos agricultores. Nesse caso, segundo cálculos da Secretaria Federal da Agricultura (OFAG), as agricultures perderiam 2 bilhões de francos suíços por ano.
O representante suíço para os acordos comerciais, Luzius Wasescha, considera que o desafio da OMC é encontrar um sistema “justo mas flexível”, que permita a redução gradativa das subvenções.
“Temos certeza que uma posição radical não terá sucesso algum”, argumenta o diplomata.
Só duas semanas
Petros Mavroidis é cético quanto a um provável acordo até o final do mês.
“De qualquer maneira, eu acho que Cancun não foi um fracasso tão grande como disseram. Também não acho que seja imprescindível chegar a um acordo até o final do ano. Elas podem continuar durante dois ou três anos e não vejo isso como problemático”, afirma o professor.
No entanto, boa parte dos negociadores teme que se a OMC não atingir seu objetivo até o final de julho, as negociações sejam adiadas de vários meses ou anos devido as tensões cada vez maiores entre as grandes potências econômicas.
swissinfo, Robert Brookes
traduction: Claudinê Gonçalves
O setor agrícola suíça representa cerca de 1,5% do PIB e emprega 3% da população ativa.
As subvenções às exportações totalizam atualmente 200 milhões de francos por ano.
Em seu último relatório, a OCDE considera o apôio do governo suíço à agricultura “continua muito alto”.
– A OMC fixou 31 de julho como data limite para um acordo capaz de relançar as negociações iniciadas em 2001, Doha, no Catar.
– O representante suíços para acordos comerciais, Luzius Wasescha se diz otimista para a conclusão do acordo até o final do mês.
– Ele é favorável a um acordo flexível para a redução das subvenções.
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