Populares são vedetes no Salão de Genebra
De olho no mercado estagnado e na alta das matérias-primas, os construtores tentam seduzir o automobilista europeu pelo bolso.
Na 75a edição, no único salão internacional anual quase todas as marcas destacam o carro urbano, prático e se possível ecológico.
Quem diria! Ao inaugurar a primeira exposição de automóveis em Genebra, em 1905, o ministro suíço Ludwig Forrer dizia que “o automóvel um dia se tornaria um objeto de todos”.
Exatamente um século depois, no Salão Internacional do Automóvel 2005, a preocupação dos construtores é justamente o carro popular. O destaque maior este ano é o carro urbano, econômico e o mais barato possível.
A tendência deve durar alguns anos pois a maioria dos protótipos apresentados também apostam nesse segmento. “O espaço urbano está saturado na Europa e as pessoas querem carros menores, mais práticos e mais baratos”, afirma Philippe Guédon, da Renault.
Mas a tendência verificada no Salão de Genebra é também uma reação das montadoras européias à concorrência das asiáticas. Com o euro forte, os japoneses e coreanos ficam mais baratos e conquistam partes importantes desse segmento. Os coreados Hyundae, Kia e Daewoo detém atualmente 16% do mercado europeu de populares.
Contra-ofensiva e mercado de segunda mão
Na contra-ofensiva européia, a Peugeot apresenta a 107 e a Citroën o C1, dois carros que foram desenvolvidos conjuntamente com o Aygo da Toyota. Os três modelos têm o mesmo chassis e serão fabricados na República Checa. O lançamento será em maio no mercado europeu e deverão custar aproximadamente 8.500 euros.
A Wolkswagen fez uma opção diferente. Ao invés de criar um novo modelo popular, vai trazer o Fox do Brasil para o mercado europeu, onde espera vender 100 mil carros por ano. A montadora apresenta ainda o novo Passat, que também será fabricado no Brasil.
Com esses preços, a intenção das montadoras européias é também atrair para os modelos novos uma parte do mercado de carros usados, como admitiram em Genebra os presidentes da Renault, Louis Schweitzer, e da Peugeot-Citroën, Jean-Martin Folz.
A japonesa Subaru mostra aos europeus o R1, um urbano minúsculo lançado em janeiro no Japão, que mantém a tradição da marca com tração nas quatro rodas.
Entre os protótipos do segmento, o mais original é o Zoé da Renault. É um urbano de três lugares em que o espaço para bagagem fica entre atrás do banco do motorista.
Outras novidades
Mas com mais de 50 lançamentos mundiais, as novidades do Salão 2005 não se restringem aos populares. A Mercedes-Benz lança o Série B, um monovolume médio (4,27 m) um pouco maior que o Classe A produzido no Brasil. A modularidade interna foi melhorada e haverá haverá opções de oito motores, seis a gasolina e dois a dísel.
Outra novidade entre os muitos monovolumes é o novo Zafira, da Opel, chamado de segunda geração pela montadora. Ele está ainda mais espaçoso (7 lugares) e mantém o sistema em que os dois últimos bancos se dobram inteiramente aumentando o volume para carga. Há opção entre sete motores, de 100 a 200 CV.
A Opel lança ainda a versão esportiva (OPC) do Astra, com um motor 2.0 de 4 cilindros e 240 CV.
Testar um carro três dias
A montadora européia da General Motors está lançando na Europa, dentro de alguns meses, um novo conceito de marketing para atrair novos clientes.
35 mil carros de vários modelos serão colocados à disposição das concessionárias e o cliente que quiser testá-los poderá ficar com o carro três dias. Em Portugal, o sitema será denominado “Mega Teste Opel”.
Miguel Tomé, diretor de Comunicação da GM Portugal, explicou a swissinfo que “isso permitirá ao cliente circular pelas estradas que utiliza normalmente e que assim poderá perceber a qualidade superior do nosso produto”.
No segmento de sedãs, a Fiat lança o novo Croma, que de antigo só tem mesmo o nome. A BMW já está na quinta geração da Série 3 e lança o cupê M6, com motor V10 de 507 CV. Na Citroën, o destaque da categoria é o luxuoso C6. Também nesse segmento há muitos outros lançamentos.
Enfim, para os muitos sonhadores – e o automóvel ainda procada sonhos – e alguns privilegiados, há a inevitável nova Ferrari Spider F430, conversível e com tecnologia de Fórumula 1.
Preocupação das montadoras
Além da Europa ser o mercado mais competitivo e praticamente estagnado (na Suíça, por exemplom as vendas caíram 1% em 2004), a questão da alta das matérias primas, principalmente do aço, estimulada pela demanda da China, é a grande preocupação das montadoras atualmente.
“Não podemos repercutir a alta do aço sobre o preço dos carros”, afirmou o diretor-geral do grupo DaimlerChrysler, Eckhard Cordes. O consolo “é que a alta do aço atinge da mesma maneira todas montadoras”, afirmou o presidente da Peugeot-Citroën Jean-Martin Folz.
Mesmo se há cada vez mais alumínio e plástico nos automóveis, ainda não há alternativa para o aço que representa, em média, um terço do valor do carro. O resultado é que as montadoras esperam margens de lucro ainda menores este ano.
swissinfo, Claudinê Gonçalves, em Genebra.
100 anos de Salão do Automóvel de Genebra.
A edição 2005 tem 261 expositores, 900 marcas, 30 países.
800 mil visitantes devem ir ao Salão, de 3 a 13 de março.
Mais de 50 lançamentos mundiais.
– O Salão de Genebra é apreciado pelas montadoras porque é neutro. A Suíça não fabrica automóveis desde 1925 e é considerado um mercado-teste.
– No ano passado, foram vendidos quase 270 mil carros novos na Suíça (-0,9%). Com 7,4 milhões de habitantes, 4,7 milhões têm carteira de motorista.
– Existem 518 carros por mil habitantes na Suíça.
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