
Projeto suíço traz diversão e desenvolvimento para a Sicília

Regalbuto poderá deixar de ser um ponto quase invisível no mapa da Sicília, sul da Itália.
Ela vai receber um Coliseu, as torres Eiffel e de Pisa, as pirâmides do Egito e até mesmo um outro vulcão Etna, de cimento e menos ameaçador, com direito a trenzinho para visitar as suas entranhas. Eles serão reproduzidos à imagem e semelhança dos originais, graças a capital suíço.
A cidadezinha, parada no tempo e no espaço, no interior da famosa ilha, está prestes a receber uma injeção de recursos da ordem de 600 milhões de euros.
O investimento é destinado à construção de um gigantesco parque temático e vai de encontro à orientação da ministra da Economia, Doris Leuthard, aos empresários suíços de buscarem oportunidades no sul da Itália.
Boa parte da montanha de dinheiro chegará através da empresa Atlantic Invest, formada por sócios majoritários helvéticos e minoritários franceses. O projeto representará a redenção de uma área condenada a ficar na sombra eterna de Siracusa, Agrigento, Trapani e de outras cidades de grande atração turística, aos pés do vulcão Etna – o verdadeiro – e às margens de um dos litorais mais paradisíacos do mar Mediterrâneo.
A população é de apenas 8 mil habitantes. Era o dobro cem anos atrás, mas a crise do desemprego praticamente transformou Regalbuto, terra de pequenos agricultores e pastores, numa cidade condenada a desaparecer da Terra. Agora, com a perspectiva do surgimento do parque, espera-se criar 3.000 novos empregos e atrair 8 milhões de turistas nos primeiros cinco anos de funcionamento, quase o dobro dos moradores da ilha.
“Este investimento poderá até mesmo facilitar que muitos emigrantes nossos, na Argentina, no Brasil, na Alemanha, possam voltar para casa. Ainda hoje o nosso território é cenário do fenômento de imigração com muitos moradores daqui trabalhando nas obras no norte do país”, diz a swissinfo, o prefeito de Regalbuto, Giuseppe Nunzio Scornavacche.
Unanimidade ao projeto suíço
A “disneylândia” siciliana já provocou o primeiro milagre no país: uniu dirigentes da esquerda e da direita sobre a importância de agarrar esta oportunidade com unhas e dentes para ajudar a desenvolver o pobre sul da Itália. Por pouco, o maior parque de diversões da Europa não virou o maior da África.
Os investidores estavam quase apostando as fichas na Tunísia, Marrocos ou Turquia, quando o desejo de aplicar os recursos no quintal de casa falou mais alto.
“Os empresários Rosario Musumeci e Salvatore Aidala, idealizadores do projeto, conveceram os sócios que o nosso sul tem riquezas que ninguém pode negar: o clima favorável, o maior número de horas de luz, a natureza, a cultura, os sítios arqueológicos representam um grande incentivo aos investidores. Este parque poderá abrir uma nova estrada a outros projetos que não agridam o meio ambiente”, comenta o advogado Mario Cavallaro.
Diante do consenso político, os procedimentos foram acelerados no fim do ano passado. O projeto, apresentado pela primeira vez em dezembro de 2001, ganhou repentina velocidade.
Depois de seis anos de peregrinação pelos labirintos do poder, de resistência às exigências da burocracia italiana e da aprovação de todos os estudos de impacto ambiental, o parque temático deverá sair do papel no dia 23 de novembro.
Se tudo correr conforme o cronograma, a obra começará no início de 2007, com término previsto para o fim de 2009. “Já podíamos ter o parque pronto hoje. Mostramos que existe o financiamento, que existem os financiadores e que o capital privado responde por 87% do total dos gastos para a obra que não ameaça o meio ambiente e que traz o desenvolvimento turístico para esta área da Sicília’, explica o prefeito Giuseppe Nunzio Scornavacche.
“Nós italianos brigamos por tudo, mas não sobre iniciativas que tragam pão e trabalho para tantos desempregados e, sobretudo, a valorização da nossa terra. Porque é típico do italiano valorizar a riqueza dos outros e esquecer a própria”, afirma a swissinfo o advogado Mario Cavallaro, com conhecimento de causa, sendo ele siciliano.
O governo da Região da Sicilia já separou os primeiros 25 milhões de euros e outros 114, prometidos pelo Ministério das Atividades Produtivas, serão usados como recursos para as obras de infraestrutura. O resto fica por conta e risco dos suíços da Atlantic Invest Ag.
“Por que deveríamos investir fora da Europa se ainda existem muitas áreas virgens aqui, nas quais o turismo pode ser desenvolvido de forma séria, com garantias institucionais?” pergunta a swissnfo o advogado Mario Cavallaro, porta-voz do grupo suíço na Itália.
Revitalização de Regalbuto
A área de 246 hectares, prevista para o parque, já foi disponibilizada pela administração de Regalbuto e 65% do total serão destinados ao espaço verde. Os proprietários estão vendendo os seus terrenos por valores pouco acima dos de mercado.
“Existem apenas três ou quatro empresas agrícolas na região e uma grande indústria de plásticos que fabrica tubos para a agricultura e equipamentos de mergulho como máscaras e pés de pato”, conta a swissinfo o prefeito Giuseppe Nunzio Scornavacche, otimista com a chegada de uma nova indústria, a do turismo.
No lugar de pequenos e abandonados sítios e lavouras, irá surgir um moderno complexo turístico composto por dois hotéis, com 2.600 leitos, quadras de tênis, campos de golfe com 27 buracos, centros de congresso, restaurantes, discotecas, central de produção de televisão.
Entre os 8 parques temáticos previstos não poderiam ficar de fora cenários de faroeste Americano e uma vila típica suíça – com direito a casa de chocolate. Ainda não se sabe se terá um local destinado aos primeiros habitantes e fundadores de Regalbuto: os sarracenos. Tudo isto a cerca de 300 metros de um dos maiores lagos artificiais da Europa, o Pozzillo, longo 7 km e largo 2 km, cheio de peixes.
Mas o principal peixe a ser pescado nos próximos anos é o turista. Regalbuto fica a 59 quilômetro da Catania – e de seu aeroporto – e 128 km de Palermo, os principais centros urbanos e portas de entrada da ilha. E está localizada muito próxima da rodovia Catania-Palermo.
Uma verdadeira frota de ônibus vai garantir o transporte entre o parque e Taormina, Agrigento e Siracusa, localidades sempre cheias de turistas de todo o mundo e distantes cerca de 90 minutos de viagem pelas estradas de uma Sicília belíssima, montanhosa, vulcânica e de braços abertos para receber seus visitantes.
“O coração dos moradores está a mil com toda esta expectativa, pois ninguém pensou em ajudar antes esta pequena localidade”, diz a swissinfo o porta-voz dos investidores, Mario Cavallaro. Obra e graça de São Vito, devem dizer alguns devotos do padroeiro da cidade.
swissinfo, Guilherme Aquino, Milão
Regalbuto tem 8 mil habitantes e fica na Sicília, sul da Itália
Até agora não usufrui do turismo de outras regiões da ilha
Investimentos previstos na construção do parque temático: 600 milhões de euros
Previsão de criação de 3 mil empregos e de 8 milhões de turistas em 5 anos de funcionamento.

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.