Seguros lançam caixa-preta para automóveis
Duas companhias de seguro iniciam na Suíça um programa-piloto de utilização de caixas-pretas em automóveis. A participação no programa é voluntária.
Em troca, o motorista recebe grandes descontos nas taxas de seguro. O equipamento pode registrar velocidade, freadas, acelerações, percurso e até mesmo o tipo de estrada utilizada por um veículo.
Por que não ter uma caixa-preta sob o capô do carro? Seguramente muitas pessoas teriam dúvidas em tornar transparente sua forma de conduzir. Porém essa questão foi trazida a motoristas de Zurique entre 15 a 25 anos e que são também assegurados pela companhia de seguro Winterthur. Essa faixa etária é aquela onde os condutores causam proporcionalmente os acidentes mais graves.
A empresa oferece um desconto de 20% sobre o seguro do carro e de responsabilidade civil aos clientes que aceitarem a instalação de uma caixa-preta nos seus veículos. No momento a oferta é limitada apenas ao cantão de Zurique. Os representantes da empresa explicam que se a experiência der certo, ela poderá ser estendida a toda Suíça.
Nas fotos exibidas à imprensa a caixa-preta aparece como um objeto pintado de preto e do tamanho de um som para carro. O aparelho guarda na sua memória apenas informações sobre a velocidade, acelerações, freagens, mudanças de direção – os últimos 20 segundos de rodagem e os dez que seguem um eventual acidente. O resto é apagado automaticamente. A caixa-preta também não registra a totalidade do percurso, nem o trajeto seguido ou também as pausas feitas.
Governo concorda com teste
Até então, a Federação Suíça de Estradas e Rodagem, que agrupa particularmente instituições como o Touring Club da Suíça e o Departamento Federal de Estradas, está de acordo com o teste. Sua preocupação é que a caixa-preta possa se transformar num instrumento obrigatório. Aos jornalistas do “Le Temps”, seus representantes explicaram que aceitam a instalação de um instrumento registrador “de fim de percurso”. Porém a vigilância “total e permanente” dos condutores com fins de repressão constitui “um ataque dificilmente justificável à esfera privada das pessoas”.
Para a seguradora Winterthur, o objetivo é duplo, explica Maude Rivière, porta-voz da empresa. “A experiência mostra que a presença de uma caixa-preta leva os motoristas a serem mais prudentes. Além desse efeito preventivo, o aparelho permite estabelecer mais rapidamente as circunstâncias do acidente e, dessa forma, a responsabilidade, o que diminui os custos da empresa”.
Questionado se a Winterthur já encontrou candidatos suficientes para a fase de testes da caixa-preta, o porta-voz não mostrou dúvida. “Somos otimistas e, além disso, essa fase permitirá saber até que ponto os condutores aceitam nossas regras”.
Os motoristas que aceitarem conduzir com um “espião” à bordo beneficiarão de um considerável desconto nos custos do seguro. Porém a seguradora ressalta que ainda não pretende calcular os prêmios e as mensalidades com base no uso da caixa-preta.
Mais controle
Portanto é possível estender o controle realizado pelos aparelhos. Outra seguradora, a Zurique Seguros, quer ir mais longe ao testar, a partir do ano que vem, um sistema de registro mais completo dos dados de percurso. Não apenas as velocidades poderão ser gravadas, mas também o tipo de trajeto, os horários e outros.
Essas informações irão ajuda a empresa a fixar os valores do seguro de acordo com os riscos assumidos pelos motoristas. “Aquele que conduz apenas poucas horas e através de vias seguras paga menos seguro”, resume Katrin Schnettler, porta-voz da Zurique Seguros, que ressalta também o efeito preventivo esperado por tal medida.
Ao se inspirar em práticas já em uso nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, a Zurique Seguros irá testar o sistema entre seus funcionários a partir do ano que vem. A participação é voluntária. “Chamamos esse sistema de ‘pay as you drive’, ou seja, pague como você dirige”, explica Schnettler.
O teste irá permitir determinar quais os fatores são pertinentes ao avaliar os riscos e calcular as taxas de seguro. “É importante ressaltar que não queremos nos transformar numa instituição de controle das pessoas. Iremos apenas avaliar os dados necessários para determinar a tarifa”, justifica.
Falta regulamentação
Os projetos das duas companhias de seguros deixam Jean-Philippe Walter “bastante cético”. Ele é esponsável no governo federal suíço pela questão da segurança de dados pessoais e lembra que nenhuma das empresas informou o governo sobre suas intenções. “Uma vez introduzidos, esses sistemas arriscam de se generalizar e se transformar em fato consumado”.
Jean-Philippe Walter lembra que a justiça poderá ter acesso aos dados registrados no caso de um processo penal. Isso não é um problema se um condutor autorizou a instalação do aparelho. “Porém ainda não houve a regulamentação das caixas-pretas e de sua utilização”, questiona.
O Departamento Federal de Estradas saúda o projeto das empresas de seguro. “Acolhemos positivamente essas iniciativas. Esperamos que elas influenciem de forma positiva o comportamento dos condutores”, declara Frédéric Revaz, porta-voz do órgão. Ele também levanta suas questões. “Ainda não está provado que a utilização dessas caixas-pretas incita realmente os automobilistas à prudência. Por essa razão não somos favoráveis a uma instalação obrigatória desse tipo de aparelho”.
A questão foi estudada nas primeiras fases do “Via sicura”, o projeto apresentado pelo ministro do Meio-Ambiente, Transportes, Energia e Comunicação para diminuir os riscos nas estradas. “Essa não é a medida mais eficaz, mas é uma das mais econômicas”, constata Frédéric Revaz. “Pelo mesmo custo é possível reforçar a segurança ao melhorar, por exemplo, a visibilidade nos locais onde ocorrem muitas acidentes ou modificando as curvas”.
swissinfo com agências
A caixa preta (ou caixa-negra) é um sistema de registo existente nos aviões (e mais recentemente nas locomotivas dos Estados Unidos da América), que regista tudo o que se passa durante a viagem. São na realidade duas caixas, uma que regista os dados dos sensores e instrumentos existentes, e outra que regista as conversas entre a tripulação, via rádio e todos os sons que ocorram na cabine.
São colocadas na cauda do avião e são feitas de materiais muito resistentes, como aço inoxidável e titânio, capazes de suportar uma aceleração de 33 km/s², uma impacto de 3.400G (1G= força de gravidade da Terra), temperaturas de até 1.100º C por uma hora, e pressão aquática em profundidades de até 6.000 m, de forma a permitir que em caso de acidente se consigam recuperar os registos e concluir quais as causas do acidente. (Wikipédia).
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