
Um dia sem o automóvel

116 cidades suíças participam de um evento europeu intitulado “Na cidade – sem o meu automóvel”. Cidadãos foram convidados a deixar os carros em casa e testar outras formas de mobilidade como bicicletas ou o transporte público.
Basiléia, Zurique, Genebra e Berna se espantam com o silêncio das ruas. Alguns motoristas se mostram irritados com as barreiras nos centros.
Muitos turistas perguntavam aos guardas de trânsito se era feriado na Suíça. No centro de Berna, a capital do país, o silêncio era tanto que se escutavam as conversas nas mesas de bar. Vez ou outra, a tranqüilidade na praça central era interrompida pelos bondes elétricos.
A quarta-feira, 22 de setembro, foi o dia em que 116 cidades suíças decidiram bloquear seus centros para a passagem de veículos. A ação fazia parte de um evento promovido no mundo inteiro e intitulado “Na cidade – sem o meu automóvel”.
Organizado pelas prefeituras e organizações ambientais suíças, a idéia era convidar a metade da população ativa que utiliza no dia-a-dia veículos motorizados para se deslocar ao trabalho a testar outras alternativas como o transporte público ou bicicletas.
Violência no trânsito
As cidades suíças não vivem os mesmos problemas de tráfego como as grandes capitais Londres, Roma ou Paris. Elas também não conhecem engarrafamentos de 250 quilômetros como existem em São Paulo, a maior cidade brasileira e detentora de uma frota de mais de cinco milhões de veículos.
Porém o país dos Alpes também tem problemas com sua crescente motorização. Em 2002, mais de 23 mil pessoas se acidentaram nas estradas suíças. Destas, 513 morreram e seis mil ficaram gravemente feridas.
Também a frota de veículos do país não pode ser desconsiderada: 3.753.890 carros, 567 mil motocicletas e 292 mil caminhões e caminhonetas. Para uma população de sete milhões de habitantes, a estatística mostra que um de dois é motorizado.
Os resultados se vêem nos crescentes protestos pelo barulho nas ruas e aumento do número de acidentes de trânsito, sobretudo o provocado por jovens alcoolizados no volante durante as noites de sexta e sábado.
Bilhetes de graça e protestos
Organizado pela primeira vez em 1998 em La Rochelle, na França, o dia sem carro ocorreu nesse ano e mais de mil cidades européias. No mundo outras cidades participaram do evento como Montreal e vinte localidades brasileiras.
Na Suíça a ação foi considerada um sucesso pelos seus organizadores, em grande parte as próprias prefeituras e organizações ambientais.
Em Berna, a capital da Suíça, as ruas foram bloqueadas de sete da manhã às dez da noite. Em 17 postos, policiais de trânsito informavam aos motoristas, muitos surpresos com o bloqueio, que o centro da cidade estaria bloqueado por todo o dia.
Os turistas e passantes caminhavam pelas ruas como se estivessem recuperado um espaço perdido. Ao mesmo tempo, diversas associações ofereciam nos estandes montados frente ao Palácio Federal (sede do Parlamento) informações sobre o tema “mobilidade” e até consertos grátis de bicicletas.
Outras cidades da Suíça participaram do evento à sua maneira: na Basiléia, a prefeitura ofereceu 10 mil bilhetes grátis para a circulação no transporte público local; no cantão do Tessin, grupos ecológicos plantaram flores nos balões de trânsito das ruas mais movimentadas e barulhentas; em Zurique, a praça mais movimentada foi fechada para a circulação de carros.
Apesar a boa aceitação, muitos motoristas nem estavam informados sobre a ação. Outros se mostravam até irritados e protestaram energicamente contra a proibição.
Em Berna, a ala jovem do partido de direita União Democrática do Centro (UDC) chegou mesmo organizar um boicote e pedir que as pessoas utilizassem seus carros no centro da cidade, durante o dia do evento. O argumento de defesa do insólito protesto: os suíços devem ter a liberdade de circulação, seja em automóvel ou à pé.
swissinfo, Alexander Thoele
O primeiro “dia sem carro” foi organizado em 1998 em La Rochelle, França.
Mais de mil cidades na Europa participam atualmente dessa manifestação, prolongada por uma semana e batizada de “semana da mobilidade”.
Na América do Norte, apenas a cidade de Montreal participa da ação. Na América do Sul, vinte cidades brasileiras.
Cada vez mais suíços utilizam veículos para ir ao trabalho.
Em 1970, apenas 23,3% das pessoas ativas eram motorizadas. Em 200, eles eram 49,2%.

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.