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Uma bebida cem por cento suíça

A colheita de um dos frutos mais populares na Suíça. Keystone

Ramseier está literalmente na boca de todos. A marca de uma das bebidas mais populares na Suíça está completando cem anos de idade. Seu caráter de cooperativa agrícola não mudou desde então.

E para quem não sabe, “Süssmost” não pode ser fabricado com maçãs comuns. Reportagem swissinfo.ch

O turista de primeira viagem pode se espantar quando descobre uma das bebidas mais consumidas pelos suíços. Ela lembra o guaraná pela cor, mas seu aroma é mais suave. No rótulo, uma discreta cruz branca sobre fundo vermelho mostra sua origem helvética. A imagem da fruta mostra que o líquido é feito de maçã. Apenas uma palavra parece impronunciável ao observador: “Süssmost”.

O termo denomina um popular refresco feito à base de 90% de suco de maçã e 10% de suco de pera, tão tipicamente suíço como chocolate ou o queijo. E se ela pode ser fabricada por qualquer agricultor, é o produto de empresa que está na boca do consumidor. “Mais de 90% dos suíços conhecem a nossa marca”, confirma orgulhoso Jann Gehri, presidente da Ramseier, no seu escritório em Sursee, um vilarejo localizado às margens do lago de Sempacher e com maravilhosa vista para os Alpes da Suíça central.

Ele tem todos os motivos para estar satisfeito. Em 2010, a marca comemora seus cem anos de existência. E para marcar o momento, a empresa inseriu um caderno de oito páginas em várias edições dominicais de jornais do país e anunciou diversas promoções. Dentre elas, descontos para bilhetes de trens, patrocínio de festas populares como a “slowUp” – a conhecida volta de bicicleta ao redor do lago de Murten – e até mesmo o concurso para reinterpretar a conhecida canção popular helvética “S’Ramseiers wei go graase”. (Os Ramseiers vão cortar a grama).

Origens históricas

A música não tem nada a ver com a bebida, mas lembra suas origens históricas em Ramsei, vilarejo na região do Emmental, ao leste da capital Berna. Foi em 19 de janeiro de 1910 que agricultores da região fundaram uma cooperativa para produzir bebidas alcoólicas com base em frutas. Dois anos depois, eles começaram a produzir o “Süssmost”, que no espaço de tempo das duas grandes guerras mundiais no século passado se tornou popular entre os suíços, sobretudo depois que passou a fazer parte da ração alimentar das forças armadas.

Em cem anos, Ramseier mudou várias vezes de nome (ler coluna da direita) até retornar finalmente à marca original. Hoje ela faz parte do portfólio de aproximadamente quarenta empresas da Fenaco, um conglomerado controlado por cooperativas, das quais fazem parte 80% de agricultores ativos na Suíça. Os trezentos funcionários da Ramseier trabalham em quatro fábricas e quatro prensadoras de frutos espalhadas nas regiões do país onde se concentram a produção agrícola.

Só maçãs indigeríveis

A demanda por maçãs é grande. Anualmente, a empresa processa 50 mil toneladas de frutas, o que a torna o maior produtor de sucos da Suíça. “Só compramos maçãs colhidas aqui”, assegura Gehri, explicando que a fruta para sucos não é aquela que as pessoas estão acostumadas a comer como a Grannysmith ou Fuji. “O tipo ideal de maçã tem geralmente uma casca espessa e é bastante ácida, o que a torna praticamente indigerível. Ao ser prensada, graças ao seu grau de acidez, ela desenvolve um buquê refrescante”.

Além da acidez, fatores como a quantidade de açúcar – quanto mais, melhor – e a compressibilidade da maçã são determinantes. “Por isso é que utilizamos várias espécies”, explica o executivo. Porém Ramseier também aceita as maças de mesa, pagando um preço mais reduzido ao produtor.

Após a colheita em outono, os frutos são limpos e triturados. Depois são prensados para se transformar em uma espécie de musse, que é armazenado em gigantescos recipientes de aço inoxidável em baixas temperaturas. Os aromas são extraídos separadamente. Como na produção da cerveja, fabricar um bom suco de maçã exige conhecimento. “Nossos técnicos precisam misturar o musse e os aromas para chegar ao sabor tradicional, pois senão haveria variação segundo o tipo de maçã e a sua maturidade”, explica Jürg Emmeneger, chefe de marca.

Finalmente o Süssmost recebe 10% de suco de pera. Por que pera? “Como a maçã é geralmente ácida, a pera é mais doce e dá o equilíbrio final à bebida”, revela Gehri. O último toque é a gaseificação, um processo que só ocorre na Suíça. Em países vizinhos como a Alemanha, suco de maçã é servido sem gás. Depois o produto é vendido nas grandes redes de supermercados e também na gastronomia.

Novas misturas

Apesar do público fiel, Ramseier também sofre com a concorrência. Além da tradicional Coca-Cola, bebidas energéticas ou isotônicas têm caído cada vez mais no gosto popular, sobretudo dos jovens suíços. O executivo reconhece que existe uma certa estagnação no consumo de Süssmost, mas não se incomoda. “As vendas de Schorle (suco de maçã misturado com água mineral) têm crescido bastante, o que mostra a tendência das pessoas quererem bebidas leves e naturais”, afirma Gehri. Nos últimos anos, o fabricante suíço lançou inclusive misturas com figo-da-índia e suco de laranja. “E nosso último lançamento é um schorle com cranberry (amora).”

Enquanto as garrafinhas de Ramseier podem ser encontradas até no mais distante dos chalés de montanhas, elas não existem praticamente fora da Suíça. Jann Gehri se encolhe na cadeira. “Nossa exportação é zero”. Além das limitações da produção de maçãs, o custo mais elevado da agricultura suíça dificulta a venda no exterior. A possível queda das barreiras alfandegárias – debatidas atualmente entre a Suíça e a União Europeia – não causa, porém, medo. O principal argumento de vendas está no fato de o produto ser 100% feito na Suíça. “As pessoas podem dormir em camas feitas com madeira da polônia, mas o que elas colocam na barriga, continua sendo muito importante.”

Alexander Thoele, swissinfo.ch

Ramseier foi inaugurada 19 de janeiro de 1910 como uma cooperativa de agricultores em Ramsei, povoado na região do Emmental, ao leste de Berna. Inicialmente o objetivo era a produção de bebidas alcoólicas com base em frutas.

A partir de 1912 começou a produzir o chamado “Süssmost”, que na Suíça é a mistura de suco de maçã e pera.

Na 1° Guerra Mundial, Ramseier se tornou conhecida ao entrar na lista de suprimentos do Exército helvético. O produto teve bastante sucesso durante a 2° Guerra Mundial, quando sua produção aumentou de 400 mil litros (1935) para 2.200.000 (1945).

Depois do conflito, a empresa passou a sofrer forte concorrência dos refrescos americanos. Em três décadas, 800 beneficiadores de frutos passam a ser 80. Frente à forte concorrência, Ramseier se uniu a três outros três beneficiadores de maçãs do cantão de Berna e passou a se chamar Pomdor AG.

Em 2005, Pomdor se uniu ao produtor de sucos Granador, sendo rebatizada de Unidrink AG. A empresa deixa de ser beneficiadora de frutos para se tornar fabricante de bebidas, incluinda cidra e outras bebidas gaseificadas à base de frutas.

Em 2008, a empresa voltou a se chamar Ramseier Suisse AG.

Número de funcionários: 300

Ela pertence à Fenaco, um conglomerado controlado por agricultores e cooperativas agrícolas suíças. Em 2008, o faturamento foi de 5,788 bilhões de francos.

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