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Ex-conselheiro de segurança nacional dos EUA promoverá a agenda MAGA na ONU

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O ex-conselheiro de segurança nacional Mike Waltz aguarda o início de sua audiência de confirmação perante o Comitê de Relações Exteriores do Senado para ser embaixador na Organização das Nações Unidas (ONU). EPA/JIM LO SCALZO

Mike Waltz deverá ser o novo embaixador dos EUA na ONU. Sua agenda: pressionar os Estados-membros a se alinharem com a política externa dos EUA e combater a China.

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Se confirmado, Mike Waltz, indicado pelo presidente dos Estados Unidos, Trump, para embaixador nas Nações Unidas, prometeu promover grandes mudanças em Nova York. Utilizando uma abordagem de “bloquear e atacar”, ele pretende conter a influência da China e, ao mesmo tempo, trabalhar para reformar a ONU, um órgão multilateral com “potencial” que, após 80 anos, tornou-se burocraticamente “inchado” e “se afastou de sua missão principal de pacificação”.

“Estou confiante de que podemos tornar a ONU grande novamente”, disse Waltz durante sua audiência, fazendo referência ao lema de Trump “Make America Great Again” (“Tornar a América Grande Novamente, em tradução livre). “Há coisas boas a serem feitas”, acrescentou Waltz.

Em 15 de julho, Waltz, de 51 anos, um exímio Boina Verde do Exército dos EUA, ex-assessor de políticas do governo Bush e eleito deputado federal pela Flórida, apresentou-se perante o Comitê de Relações Exteriores do Senado em busca de confirmação. O comitê é um grupo do governo dos EUA que supervisiona questões de política externa.

O presidente Trump anunciou sua indicação para o cargo de embaixador em 1º de maio, após Waltz, que também foi assessor de segurança nacional de Trump por um breve período, aparecer nas manchetes por ter adicionado acidentalmente um jornalista a um bate-papo em grupo no aplicativo de mensagens Signal, que incluía detalhes altamente confidenciais sobre um ataque militar no Iêmen. A autodenominada fiel da “ultra-MAGA”, Elise Stefanik – uma republicana da zona rural do estado de Nova York –, era a escolha inicial de Trump para o cargo de embaixador, mas ele retirou sua indicação para abrir espaço para Waltz.

Durante sua audiência, Waltz foi confrontado por membros do comitê sobre o polêmico bate-papo. Tim Kaine, um senador democrata do estado americano da Virgínia, classificou o deslize como “amadorismo”.

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É provável que Waltz, que “parece um pouco mais maleável aos desejos de Trump”, faça as “vontades” do presidente na ONU, disse Rasmus Sondergaard, pesquisador do Instituto Dinamarquês de Estudos Internacionais em Copenhague, na Dinamarca. Embora Waltz tenha sido conselheiro de segurança nacional de Trump por um breve período, “acho que ele não é alguém que tem muito a oferecer nessa função”, acrescentou Sondergaard, “mas ele diz todas as coisas que Trump gosta de ouvir”.

Evidentemente transacional

Ao mesmo tempo que o governo Trump continua avaliando se cada dólar do contribuinte americano destinado à ONU serve aos interesses dos Estados Unidos, Waltz causou surpresa durante sua audiência ao concordar com um senador republicano que sugeriu tornar a ajuda externa dos EUA condicionada aos padrões de votação na ONU.

“Com certeza deveria ser”, disse Waltz, referindo-se à ajuda direcionada a países africanos por meio da ONU como exemplo. “Vi que mais de 100 bilhões de dólares foram destinados à África por meio de entidades da ONU, e estamos observando uma taxa de coincidência de votos entre 29 e 32%” afirmou, sem citar fontes.

Uma taxa de coincidência de voto refere-se à probabilidade de um Estado-membro votar de uma determinada maneira; nesse contexto, ela se aplica aos Estados-membros que votam a favor ou contra os EUA.

“Então, na verdade, o continente que mais recebe dinheiro dos trabalhadores americanos é, de longe, o que menos nos apoia”. Waltz prometeu usar esse poder de barganha, condicionando o envio de recursos à forma como os países votam, com o objetivo de reverter essa tendência.

“A partir da audiência, ficou bastante claro que [Waltz] vai tratar a ONU de forma muito transacional, assim como seu chefe”, disse Sondergaard à Swissinfo. “Esperar que haja uma correlação direta entre os países receberem ajuda externa dos EUA e depois votarem com os Estados Unidos em uma série de questões é claramente transacional”.

Até agora, a abordagem transacional de Trump das relações exteriores, seja dentro ou fora dos corredores da ONU, complementa seu desprezo geral por organizações multilaterais ou ideias de cooperação global que não atendam à sua agenda “América Primeiro”. Em seu discurso de 2018Link externo na Assembleia Geral da ONU, durante seu primeiro mandato, Trump fez referência a “nações responsáveis” que devem defender sua soberania frente à “governança global”. Ele acrescentou: “Jamais entregaremos a soberania dos Estados Unidos a uma burocracia global que não foi eleita e não presta contas”.

Os EUA são, de longe, o maior financiador da ONU, contribuindo com 22% do orçamento regular por meio de contribuições obrigatórias, de acordo com o site Congress.govLink externo. Essas contribuições são pagamentos compulsórios feitos pelos Estados-membros, calculados com base em sua renda nacional bruta e outros fatores. O restante do financiamento da ONU consiste em contribuições voluntárias.

Bloquear e atacar

Provavelmente usando uma referência ao futebol americano, Waltz disse que adotaria uma abordagem de “bloquear e atacar” para conter a influência do Partido Comunista Chinês na ONU, uma preocupação levantada tanto por republicanos quanto por democratas durante a audiência. O governo Trump já reduziu o financiamento da ONU, retirou-seLink externo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e interrompeu sua participação no Conselho de Direitos Humanos e na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

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Courtney J. Fung, professora de estudos de segurança na Universidade Macquarie, em Sydney, na Austrália, disse por e-mail à Swissinfo que, embora Waltz tenha deixado claro seu foco em conter a crescente influência da China no sistema das Nações Unidas, “ele terá muito trabalho pela frente”, já que “a saída de Trump e o corte de financiamento das principais agências da ONU reduzem a influência dos EUA, literalmente prejudicando as oportunidades de exercer poder de barganha”.

A maioria dos senadores expressou a preocupação de que a influência da China esteja crescendo em algumas agências especializadas da ONU, incluindo a União Internacional de TelecomunicaçõesLink externo (UIT), responsável por questões relacionadas a tecnologias da informação e comunicação, e a Organização Mundial da Propriedade IntelectualLink externo (OMPI), um fórum global que protege e promove a propriedade intelectual.

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Em suas declarações, os senadores preocupados não apresentaram provas nem explicações detalhadas sobre o suposto aumento da influência da China na UIT ou na OMPI.

No entanto, Chris Coons, senador pelo estado de Delaware, mencionou o fato de os chineses terem enviado “sua maior delegação” a uma reunião da OMS após a saída dos EUA da agência, e afirmou – sem evidências – que a China é agora a maior financiadora da Organização Mundial da Saúde.

Além disso, a senadora democrata Jeanne Shaheen, de New Hampshire, um estado no nordeste dos EUA, fez referência a um relatório geral sobre a crescente influência da China em detrimento dos Estados Unidos, publicado pela minoria do Comitê de Relações Exteriores do Senado, mas não forneceu detalhes.

Em seus comentários, Waltz classificou o comportamento do Partido Comunista Chinês como “malicioso”, embora também tenha indicado que a relação entre os Estados Unidos e a China possui potencial.

Em relação a Israel, Waltz adotou uma postura menos agressiva do que a indicada anterior, Elise Stefanik, mas destacou a preocupação do governo dos Estados Unidos com o que classificou como um antissemitismo “generalizado” e um viés anti-Israel na ONU.

Waltz também mencionou a iniciativa “ONU 80” do secretário-geral, António Guterres – um plano para reformar e melhorar a eficiência da ONU. “Não acho que o secretário-geral Guterres teria colocado seu plano ONU80 na mesa se não levasse o presidente Trump muito a sério”, afirmou.

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O chefe da ONU: António Guterres.

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Detalhes

Sobre a indicação de Waltz, Judith Vorrath, pesquisadora do Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança, com sede em Berlim, na Alemanha, sugere que ainda há desdobramentos por vir no contexto da retirada de financiamento e da suspensão da participação dos Estados Unidos em determinadas entidades da ONU que não se alinham à agenda “América Primeiro” do presidente Trump. Vorrath sugere que o relacionamento provavelmente dependerá de como o governo abordará seu papel nas Nações Unidas.

Em relação ao impacto de Waltz na ONU, Vorrath disse à Swissinfo que isso dependerá de “quão longa será a rédea de Washington até Nova York” – ou seja, do grau de autonomia que ele terá – e de como ele interagirá com a equipe “experiente” já lotada na missão americana.

“Ele vai ouvi-los? Vai utilizá-los? Ou ele simplesmente dirá que, independentemente do que fizerem, não faz muita diferença se envolverem profundamente nos assuntos da ONU, porque isso é o tipo de detalhe que não importa”, acrescentou Vorrath. “Nós só nos importamos com os grandes temas e questões”.

Edição: Virginie Mangin/fh
Adaptação: Clarice Dominguez

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