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Gigantes suíças do setor farmacêutico apostam no Brasil

A então ministra da Economia, Doris Leuthard, em visita ao Brasil, em 2007. Keystone

Um dos setores da economia brasileira que mais se expandiu em 2010 foi o farmacêutico. De acordo com entidades representativas do setor, como o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos do Estado de São Paulo (Sindusfarma), cerca de R$ 5 bilhões em investimentos, negócios e aquisições agitaram o mercado brasileiro de medicamentos no ano passado.

As maiores empresas de origem suíça do setor que atuam no Brasil, como a Novartis/Sandoz ou a Roche, acompanharam a movimentação de um mercado que parece já nem mais se lembrar da recente crise econômica global.

Os números oficiais de desempenho do mercado de medicamentos no Brasil em 2010, divulgados no início de fevereiro pelo Sindusfarma, apontam para um crescimento no faturamento do setor de R$ 30,1 bilhões para R$ 36,2 bilhões, o que representa um crescimento de 20,13% em relação a 2009.

Se levadas em conta as vendas em dólar, o crescimento em 2010 é ainda mais impressionante (33,96%), saltando de US$ 15,4 bilhões para US$ 20,6 bilhões. Também foi quebrado em 2010 o recorde de 1,8 bilhão de caixas de remédio vendidas no Brasil em 1997. No ano passado, os brasileiros compraram 2,06 bilhões de caixas de remédio.

Presidente do grupo Novartis no Brasil, Alexander Triebnigg afirma com exclusividade à swissinfo.ch que a empresa vivenciou a realidade do crescimento no mercado brasileiro, investiu e pretende investir ainda mais: “Segundo dados da Consultoria IMS Health, que faz auditorias no setor, o negócio farmacêutico da Novartis cresceu 12,3% no ano passado. Com isso, a empresa manteve sua liderança entre as multinacionais presentes no país. A empresa concluiu 2010 com 5,17% do mercado”, afirma.

Segundo Triebnigg, o principal investimento no Brasil é a construção da primeira planta fabril de vacinas da Novartis na América Latina, a ser realizada no Estado de Pernambuco: “Serão investidos cerca de US$ 300 milhões. Além de abastecer o mercado interno de acordo com necessidades de saúde pública, a fábrica será uma plataforma de exportação para a região e, futuramente, outros mercados”, afirma.

A direção da Roche no Brasil, por sua vez, não dá maiores detalhes dos investimentos que pretende fazer no país e informa apenas que “o Grupo Roche investe cerca de 20% de seu faturamento global em pesquisa e desenvolvimento”. Em entrevista concedida ao jornal Brasil Econômico, o presidente da Roche Farma Brasil, Adriano Treve, afirmou que a empresa poderá investir em 2011 recursos no desenvolvimento e na fabricação de medicamentos biológicos (produzidos a partir de células vivas) no país.

Emergentes

Os estudos divulgados nos últimos meses pela IMS Health também mostram que, apesar do considerável crescimento do mercado consumidor de medicamentos e produtos farmacêuticos nos países emergentes, as 15 maiores empresas mundiais do setor têm atualmente menos de 10% de seus negócios nesses países. Para continuarem crescendo, as grandes empresas têm de mudar essa realidade, sobretudo, nos países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).

Em 2011, segundo a empresa de consultoria, o mercado de medicamentos do Brasil deve ultrapassar o da Inglaterra. A Novartis está atenta a isso: “O Brasil está entre os países prioritários para a Novartis globalmente, considerando seu potencial de crescimento. Além do investimento na planta de vacinas, a empresa está buscando criar parcerias na área de pesquisa em doenças tropicais, especialmente em Chagas e dengue”, diz Triebnigg.

Segundo o presidente do grupo no Brasil, também há interesse em ampliar as parcerias com o governo brasileiro em ações que visem desenvolver a saúde no país: “Em dezembro passado, por exemplo, a Novartis e o Ministério da Saúde anunciaram acordo que inclui a transferência de tecnologia do ingrediente ativo da clofazimina, um dos componentes do tratamento da hanseníase. O acordo visa combater, juntos, a doença no país”.

A direção da Roche, mesmo seguindo a linha de não revelar detalhes de seu planejamento, também afirma que dará atenção especial ao mercado brasileiro: “O Brasil é um mercado estratégico para o grupo, pelo potencial de crescimento da economia e pela solidez demonstrada durante a crise financeira mundial. Existe também a perspectiva de melhorias no sistema de saúde, que poderá facilitar o acesso da população às soluções terapêuticas desenvolvidas”, afirma a direção da empresa. 

Genéricos

O aquecimento do setor farmacêutico no Brasil deve se acentuar em 2011 graças à perspectiva trazida pela proximidade da data da quebra da patente de diversos medicamentos. Ao longo do ano e até o fim de 2012, cerca de 30 medicamentos com bons índices de vendas terão suas patentes quebradas, fato que deve impulsionar a fabricação de medicamentos genéricos no país.

A direção da Novartis não está alheia à revolução que se inicia no setor de medicamentos genéricos no Brasil: “A Novartis é pioneira na estratégia de estabelecer posições de liderança em ambos os segmentos: protegidos por patentes e genéricos. A Sandoz, divisão de medicamentos genéricos do grupo Novartis, está focada no aumento do acesso pelos pacientes às soluções de cuidados com a saúde, por meio do desenvolvimento, produção e comercialização de um vasto portfólio de remédios farmacêuticos e biotecnológicos não protegidos por patentes de alta qualidade e preços inferiores”, afirma Triebnigg.

Alexander Triebnigg assegura que a Sandoz também está presente de forma atuante no Brasil: “A empresa tem uma fábrica state-of-the-art em Cambé, no estado do Paraná, dedicada exclusivamente à produção de seus medicamentos. Em relação à aquisições locais, a empresa está sempre aberta a analisar oportunidades de negócios”, afirma.

A Roche, por sua vez, não pretende priorizar o mercado de genéricos no Brasil: “O Grupo Roche tem foco no desenvolvimento de novas soluções em saúde, dentro do conceito de medicina personalizada. Por isso, não há previsão de investimentos na área de medicamentos genéricos”, afirma a direção da empresa.

De acordo com a previsão do Sindusfarma, o setor de medicamentos genéricos no Brasil deve passar a movimentar até R$ 900 bilhões extras até 2012.

No ano passado, cerca de R$ 5 bilhões foram investidos em aquisições no setor, com destaque para a transnacional Hypermarcas, que comprou a empresa brasileira Mantercorp por R$ 2,5 bilhões.

Em segundo lugar no ranking das aquisições, surge a empresa norte-americana Pfizer, que perdeu em 2010 no Brasil a patente do campeão de vendas Viagra.

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