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Grupos protestam contra consumo de pernas de rãs

Barack Obama devora uma perna de rã durante a campanha presidencial em 2008. AFP

Matar uma rã somente para comer suas pernas é tão absurdo como massacrar um elefante pelo seu marfim. É o que afirma uma organização suíça de proteção aos animais.

A cada ano os suíços devoram 120 toneladas de pernas de rã, das quais 90% são importadas da Indonésia.

Depois das campanhas contra casacos de pele e os fígados de ganso (“foie gras”), a Sociedade de Proteção aos Animais do cantão de Vaud, oeste da Suíça, (SVPA, na sigla em francês) lança uma nova campanha, conclamando os gourmets a boicotar essa iguaria animal.

Para os defensores, o comércio do anfíbio é considerado inaceitável. Ela afirma que comer pernas de rãs é cruel, danoso ao meio ambiente e encoraja o desperdício “chocante”.

“Uma rã pesa 125 gramas. Você tira as duas coisas que representam 20 por centro e joga fora o resto”, declara o presidente da SVPA, Samuel Debrot, à swissinfo.ch.

“Com a carne de vaca (50 por centro) e porco (40 por cento) também ocorre um grande desperdício da carcaça do animal, mas não tanto como nas rãs”, acrescenta.

A SVPA também afirma que o comércio mundial de rãs é um absurdo “ecológico e social”.

Na Indonésia, o maior exportador do mundo (cinco mil toneladas), as rãs são capturadas e vendidas pelos agricultores como uma forma de complementar seus rendimentos.

“Mas um número de rãs reduzido também significa a propagação de mais insetos e mosquitos”, ressalta Debrot.

Como resultado, os agricultores indonésios são forçados a adquirir uma grande quantidade de pesticidas danosos para proteger suas colheitas. Por razões semelhantes, a Índia baniu a exportação de rãs.

Ponto de ruptura?


Pernas de rã estão no cardápio em todas as partes do mundo: de cantinas escolares até restaurantes finos na Europa, nas feiras e mesas através da Ásia e América do Sul.

Especialistas afirmam que um bilhão de rãs são capturadas na natureza para o consumo humano a cada ano. A França e os Estados Unidos são os dois maiores importadores.

Cerca de cinco milhões são preparadas para as refeições suíças – principalmente na região de expressão francesa – depois de importadas como peças congeladas da Indonésia e Turquia.

As rãs são estritamente protegidas na Suíça, onde é proibido matar, capturar ou criá-las.

Com um terço da população de anfíbios é considerada hoje em dia ameaçada devido à destruição do seu habitat, mudanças do clima, poluição e doenças, o crescente comércio das pernas de rãs para o consumo humano pode levar facilmente algumas das espécies à extinção.

Os cientistas temem que o comércio de rãs possa tomar as mesmas dimensões do problema da pesca mundial.

“A questão é que esse não é um processo gradual”, afirma Corey Bradshaw, professor do Instituto de Meio Ambiente da Universidade de Adelaide, ao jornal inglês The Guardian.

“Há um ponto de inflexão. É exatamente o que aconteceu com a superexploração do bacalhau no Atlântico Norte. E com as rãs não existem dados, controles ou gestão de população. Realmente deveríamos ter aprendido a lição com os peixes, mas parece que não.”

Prejuízos


Sylejman Gjocaj, dono do restaurante Cheval-Blanc em Payerne, Suíça, especializado no preparo de pernas de rãs, depois da recente proibição do fumo, se sente atingido pela nova campanha.

“Se parar de cozinhar pernas de rã, talvez tenha até que fechar meu restaurante”, afirma à swissinfo.ch.

Oito entre dez clientes vem à procura das suas famosas pernas de rã na manteiga, salsinha e cebolinha, acompanhadas por batatas fritas, um prato que já prepara há quinze anos.

Mas Gjocaj diz compreender o argumento sobre o desperdício. Ele acredita que a criação profissional de rãs poderia ser uma solução ao problema.

A SVPA também critica o fato de, entre a lagoa e a panela, as rãs vivem “um sofrimento injustificável”.

Caçadas à noite com lâmpadas por equipes de agricultores utilizando redes e anzóis, as rãs são capturadas e colocadas em sacos com até 300 membros da sua espécie, antes de serem transportadas a longas distâncias e muitas morrem durante o trajeto. As rãs vivas têm então o pescoço cortado, suas vísceras removidas e são cortadas em dois.

A SVPA declara que, na maioria dos casos, as rãs agonizavam por vários minutos.

Impacto incerto


“Mas não é menos cruel do que cortar barbatanas de tubarão antes de atirá-los de volta ao mar”, lembra Pierre Meylan, proprietário do restaurante Tramway em Lausanne, no jornal 24 horas.

As pernas de rã servidas no estabelecimento de Meylan são importadas da Turquia pela empresa Les Escargots du Mont-d’Or em Vallorbe, também na Suíça.

“A Turquia protege as rãs por três meses durante o período de acasalamento, o que traz resultados mais ecológicos”, explica seu diretor, Bernard Fivaz. E no país as rãs são congeladas antes de serem abatidas.

No momento ainda não é possível avaliar o impacto da campanha. De acordo com uma pequena pesquisa do jornal gratuito 20 Minutos, 56% das pessoas questionadas afirmaram não ser cruel matar rãs para comê-las.

Na França vizinha, grupos de proteção aos animais tentaram no passado persuadir seus compatriotas a boicotar o que é considerado como uma das mais conhecidas iguarias da cozinha nacional, mas suas campanhas tiveram pouco sucesso.

Simon Bradley, swissinfo.ch
(Adaptação: Alexander Thoele)

A França é na Europa o maior consumidor de pernas de rã. Ela importa de três a quatro mil toneladas por ano. Essa especialidade também é popular na Ásia, em países como China, Indonésia, Tailândia e Vietnã. Elas também são apreciadas em várias regiões do sul dos Estados Unidos como Louisiana, Arkansas e Texas, assim como na América do Sul e no Caribe.

De acordo com a Secretaria Federal da Receita na Suíça, o país importou 119 toneladas de pernas de rã em 2005.

A Indonésia é hoje o maior exportador de pernas de rã, com 5 mil toneladas por ano.

A maioria das rãs que terminam na chapa é capturada na natureza.

De acordo com uma pesquisa publicada na revista científica Conservation Biology em janeiro de 2009, o comércio mundial de rãs selvagens foi subestimado no passado. Segundo o estudo, mais de um bilhão de rãs são capturadas na natureza para o consumo a cada ano.

Estima-se que, pelo menos, um terço das seis mil espécies de anfíbios – sapos, rãs, salamandras, tritãos ou apodas – estão sob risco de extinção.

Os anfíbios são protegidos na Suíça desde 1967 e estão dentre os animais mais ameaçados de extinção no país.

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