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Os magos que viraram reis

Ilustração histórica representandos os Reis Magos.
Os Reis Magos trazem presentes valiosos para o Menino Jesus. Representação retirada do Códice de Ouro do Escorial, por volta de 1220. Badische Landesbibliothek

Os Reis Magos, que não podem faltar em nenhum presépio, são o ponto de partida de muitos costumes e tradições. Conheça a história dos três visitantes que vieram prestar homenagem a Jesus no berço.

Swissinfo.ch publica regularmente artigos provenientes do blogLink externo do Museu Nacional da Suíça, dedicados a assuntos históricos. Esses artigos estão sempre disponíveis em alemão e, geralmente, também em francês e inglês.

Três personagens fazem sempre sua aparição por último nos presépios de Natal: os Reis Magos Gaspar, Melquior e Baltazar. Guiados pela Estrela de Belém, eles levam a Jesus seus presentes, a saber, ouro, mirra e incenso. Só chegam ao destino no dia 6 de janeiro, isto é, no final das festas de Natal.

A identidade e a história desses três visitantes ilustres, que nem sempre foram designados como reis, mas também chamados de simples magos, mágicos ou ainda sábios, merecem ser examinadas mais de perto. Sua representação também evoluiu ao longo dos séculos, refletindo a época em que se inseria, até os dias de hoje.

A primeira menção aos Reis Magos na Bíblia encontra-se numa passagem do Evangelho de São Mateus. Nela, fala-se de magos que vieram prestar homenagem ao “rei dos Judeus” por ocasião de seu nascimento.

“Jesus nasceu em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, o Grande. Eis que uns magos vindos do Oriente chegaram a Jerusalém e perguntaram: Onde está o rei dos Judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.” (Mateus 2, 1-2)

O texto grego original utiliza o termo magoi (magoy), que se pode traduzir por “magos”. Era a palavra usada na época para designar os sacerdotes persas, que se consideravam capazes de interpretar sonhos e presságios, bem como de ler o futuro nas constelações estelares. Essa designação original permanece, por exemplo, em italiano (Re Magi).

Outro elemento central são os presentes que os magos vêm oferecer ao Menino Jesus. Mais uma vez uma passagem do Evangelho de São Mateus nos ensina:

“Entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram. Abriram então seus tesouros e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra.” (Mateus 2, 11)

Adoração dos Reis Magos num mosaico
Este mosaico da Basílica de Santo Apolinário do Novo, em Ravena, mostra três reis magos envergando o traje real iraniano tradicional, reconhecível pelos seus tecidos de brocado e pelas suas calças rendadas. Carregados com os seus presentes, apressam-se a dirigir-se para Jerusalém, onde os espera o “Rei dos Judeus”. Wikimedia / Ruge

A lenda encontra suas origens no século 4 d.C. Mas como se passou de simples magos a reis magos? Essa evolução explica-se em parte pela natureza de seus presentes. Como o ouro e o incenso são descritos em outras passagens da Bíblia como dádivas reais, os magos passaram rapidamente a ser considerados reis.

O número três também é crucial. Em primeiro lugar, Mateus evoca três presentes; assim, os magos são representados em número de três, cada um portando um objeto. Além disso, se o número três simboliza, naturalmente, a Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Ele representa também as três virtudes cristãs: a fé, a esperança e a caridade.

Outras dimensões simbólicas foram posteriormente atribuídas aos Reis Magos, sobretudo no que diz respeito à sua origem. Assim, suas vestes, a cor da pele e a idade fazem deles representantes dos três continentes então conhecidos: África, Ásia e Europa. Desde a virada do século 16, o cristianismo passou a interpretar a presença desses homens, que encarnavam a humanidade como um todo, como a expressão da vontade do mundo inteiro de vir prostrar-se diante de Jesus.

Adoração dos Reis Magos num quadro
O mais velho dos três Reis Magos entrega uma caixa cheia de ouro ao Menino Jesus, com a sua coroa colocada aos pés do recém-nascido. Neste retábulo de 1493 da igreja de São Pedro e São Paulo em Oberägeri, os três Reis Magos representam os três continentes: África, Ásia e Europa. Esta representação encontra-se também na encenação da Natividade. Musée national suisse

Na Idade Média, os Reis Magos não deram origem apenas a um verdadeiro culto, sustentado por relíquias, mas também a numerosos costumes que, em alguns casos, subsistiram até os dias de hoje. Entre eles, encontram-se os Cantores da Estrela, que, no dia da Epifania (celebrada sobretudo nas regiões católicas), vão de casa em casa para inscrever uma bênção em cada porta.

Crianças representando os Três Reis Magos em frente a uma porta numa rua
Crianças representando os Reis Magos e visitando casas em 1975. ETH-Bibliothek Zürich

O antigo costume de preparar uma galette (torta folhada) que escondia uma fava com a efígie de um rei havia praticamente caído em esquecimento na Suíça, antes de conhecer um renascimento nos anos 1950, graças a uma ampla campanha publicitária da Associação dos artesãos padeiros, confeiteiros e doceiros. Se no século 16 a fava ainda era um simples feijão, hoje as galettes escondem uma pequena figurinha de rei em plástico, fazendo de quem a encontra o rei ou a rainha por um dia.

Atualmente, a chegada tardia dos Reis Magos ao presépio é aguardada por todos. Foi no século 18 que as cenas da Natividade começaram a instalar-se nos lares da burguesia. Desde então, os Reis Magos quase sempre fazem parte dessas representações, com aparência e estilo variando de região para região.

Alexander Rechsteiner estudou inglês e ciências políticas e dirige o departamento de Marketing e Comunicação do Museu Nacional Suíço.

Link para o artigo original no blog do Museu Nacional SuíçoLink externo

Adaptação: Karleno Bocarro

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