Perspectivas suíças em 10 idiomas

O jogador brasileiro que entrou para a história do FC Lugano

Paulinho Andrioli na época em que jogava no FC Lugano. cortesia

A emoção e um tom de felicidade tomam conta da voz do gaúcho Paulinho Andrioli, 43, ex-jogador do Grêmio, Fluminense do Rio de Janeiro e da Seleção Brasileira nos anos 80 e 90 ao lembrar-se de sua passagem pela Suíça.

Em Lugano, onde brilhou por quatro anos e fez mais de 40 gols, foi o camisa 10 campeão da Copa da Suíça de 1993.

Depois, também envergou a camiseta do Saint Gallen. A saudade da Suíça, do FC Lugano e dos amigos fez Paulinho Andrioli vibrar com a chance de falar à swissinfo.ch sobre os momentos vividos em terras helvéticas. Cruciais, segundo ele, na sua formação como cidadão e atleta.

Poliglota (fala fluentemente cinco idiomas), o hoje empresário Paulinho Andrioli mora em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, região considerada a Califórnia brasileira. É proprietário de um centro de formação de atletas.

O eterno ídolo do Lugano diz que acompanha o futebol suíço e vibra com a campanha do FC Basel na UEFA Champions League. Confessa que a timidez o impediu com o passar dos anos de saber mais dos ex-colegas e amigos suíços. “Creio que essa entrevista possa ser uma nova ponte minha com o país, com torcedores e amigos daquela época, da qual sinto muito saudade e me orgulho”, revela ele, que no próximo dia 23 completa 44 anos. Abaixo, a entrevista completa.

swissinfo.ch: Como surgiu a proposta de jogar no futebol suíço? Quem te levou? 

Paulinho Andrioli: Um jornalista suíço chamado Mauro Antonini estava no Brasil na época e soube que o Lugano procurava um camisa 10. Então veio me procurar. Só aceitei o convite depois de ter falado com Mauro Galvão, que já estava na Suíça e era para mim uma referência de caráter e profissionalismo.

swissinfo.ch: O que te atraiu em uma praça futebolística com menor visibilidade que a brasileira? 

P.A.: O que me moveu foi o fato da Suíça na época ser um trampolim para os grandes times da Europa, mais a infraestrutura do país.

swissinfo.ch: E como foi a tua adaptação à Suíça?  

P.A.: Vontade de voltar ao Brasil eu não tive em nenhum momento. Mas, tive dúvidas sobre a minha adaptação ao futebol suíço e à língua. Porém, em três meses eu já falava o idioma e estava totalmente adaptado. E é importante salientar que penso que não é o país que deve se moldar ao atleta, mas o atleta, o estrangeiro, ao país.

swissinfo.ch: O que conhecias do Lugano, da estrutura do clube e mesmo da torcida? 

P.A.: Quase nada, mas o desafio estava lançado.

swissinfo.ch: Quem eram teus companheiros de clube e como transpuseste as dificuldades com a língua?  

P.A.: Meus companheiros de time foram Mauro Galvão, que jogou no Internacional de Porto Alegre e na Seleção Brasileira, na Copa do Mundo de 1990, e após um ano o jogador argentino Nestor Subiat, que tinha passaporte francês. Quando fui para a Suíça eu tinha uma ótima base de língua alemã, mas nada da italiana. Hoje, por exemplo, o italiano é falado normalmente na minha casa, com a minha família.

swissinfo.ch: Inicialmente, como foi a temporada 1992 no Lugano? Gols, lesões, o clube e qual a relação com a torcida? 

P.A.: Fiz muitos gols e consegui um ótimo destaque no time titular. Devo dizer que tive muito apoio da torcida e o resultado do bom momento foi que chegamos à final da Copa Suíça após 25 anos.

swissinfo.ch: E como foi a temporada 1993, quando foste campeão?  

P.A.: Fizemos um ótimo campeonato suíço, o que nos levou a conseguirmos chegar ao êxito de outra final contra o Grasshopper, que era o grande time da Suíça naquele período. A maior emoção foi vencer a partida por 4 a 1, com o primeiro gol do jogo tendo sido feito por mim.

swissinfo.ch: E o convívio com os colegas e mesmo os torcedores e moradores da cidade?  

P.A.: Nunca tive convívio com brasileiros ou suíços, exceto raras reuniões do clube. Eu era muito reservado. Tínhamos ótimas relações com torcedores somente em dias de jogo. Minha vida foi muito pacata na Suíça. Em passeios gostava muito de ir à Como com o Mauro Antonini, comer pizza. Mas tu falaste algo que me trouxe saudade do Hotel Kadro Panoramica, onde morei no meu período de Lugano. Sinto saudade dos porteiros, cozinheiros, das camareiras e de todos que lá trabalhavam. Eu era um jovem de 23 anos e eles me apoiavam integralmente. Era, junto com os colegas de clube, a minha família fora de campo. Ficaram muito tristes quando da minha saída. Essas pessoas me acolheram de um jeito carinhoso que jamais esquecerei, está gravado no coração. 

swissinfo.ch: E qual o total de gols que fizeste no Lugano? 

P.A.: Não lembro com exatidão, mas devo ter feito no Lugano de 35 a 40 gols. O que me ajudou muito para esse desempenho o fato de ter tido poucas lesões, quase nada grave.

swissinfo.ch: E a tua ida para o St. Gallen, aconteceu em que circunstâncias?  

P.A.: A minha saída do Lugano ocorreu porque não consegui mais aceitar o trabalho do técnico Roberto Morinini, o que me levou a pedir para ser negociado. O St. Gallen tinha uma boa estrutura, torcedores apaixonados e uma média de 12 mil a 13 mil torcedores por jogo. Os principais jogadores eram o volante brasileiro Milton e o goleiro suíço Pedat. Infelizmente, joguei apenas seis partidas, não fiz gols e precisei fazer uma cirurgia que me rendeu uma infecção generalizada e me fez parar por nove meses. Considero esse o pior momento de minha vida profissional.

swissinfo.ch: O que mais te marcou na Suíça, tanto no aspecto profissional quanto no pessoal? 

P.A.: No pessoal, ter aprendido os três idiomas oficiais do país. Hoje, além deles, falo o grego e o inglês. Considero o legado imenso. Profissionalmente, ter feito sucesso mesmo com todas as dificuldades que tive que enfrentar. Minha mulher, Roberta, a cada vez que falo da Suíça, vibra. Para teres uma ideia o meu filho Luca, de sete anos, foi batizado com este nome por causa de um grande amigo suíço, o jornalista Luca Charini. Na minha casa escolhi o italiano como língua para falar com o Luca, o caçula, e a Anne, minha filha de 11 anos.

O Associazione Calcio Lugano é um clube de futebol suíço. Sua sede fica na cidade de Lugano.

Títulos:

Swiss Super League – 1938, 1941, 1949

Swiss Cup – 1931, 1968, 1993

Paulo Henrique Andrioli (23.02.1968), ou “Paulinho Andrioli”, meia-atacante

Clubes na Suíça: FC Lugano e do Saint Gallen

Títulos na Suíça: Campeão da Copa Suíça 1993

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