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Bolsonaro será preso?

Homem falando a uma multidão frente à microfones
O ex-presidente do Brasil Jair Bolsonaro fala à imprensa no Congresso em Brasília, Brasil, quarta-feira, 26 de março de 2025, depois que um painel de juízes do Supremo Tribunal Federal aceitou acusações contra ele por uma suposta tentativa de golpe. Copyright 2025 The Associated Press. All Rights Reserved

O tema de destaque da semana nos jornais e revistas helvéticas: a Justiça brasileira julgará o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe após as eleições de 2022. E, dentre outros, um jornal regional tratou do passado colonial da Suíça.

De 22 a 28 de março de 2025, vasculhamos a imprensa suíça para dar uma visão geral das notícias mais importantes relacionadas ao Brasil, Portugal ou África lusófona.

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Bolsonaro deve ser julgado – por suposta tentativa de golpe

O artigo, publicado no canal de televisão e rádio SRF e também repercutido em diversas outras mídias suíças, destaca que o ex-presidente Jair Bolsonaro será julgado pela Suprema Corte do Brasil por suposta tentativa de impedir a posse do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após as eleições de 2022.

A Justiça encontrou provas suficientes de que Bolsonaro e aliados planejavam um golpe de Estado para mantê-lo no poder, o que culminou na invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília, em 8 de janeiro de 2023, por seus apoiadores.

Bolsonaro nega as acusações e alega perseguição política, afirmando que sempre defendeu manifestações pacíficas. No entanto, segundo a jornalista Sandra Weiss, embora ele não tenha participado diretamente de reuniões, há depoimentos e provas contra ele, incluindo o testemunho de seu ex-secretário Mauro Cesar Barbosa, que o incrimina diretamente.

Além de Bolsonaro, outros ex-integrantes de seu governo também serão julgados. Eles podem pegar até 12 anos de prisão e já não têm direito a recorrer da decisão da Suprema Corte. Bolsonaro, que já está inelegível até 2030, também enfrenta outros processos por corrupção e fraude, como o caso das joias sauditas e dos passaportes de vacinação falsificados.

Fonte: srf.ch, 27.03.2025Link externo (em alemão)

Jürgen Habermas: a desintegração do Ocidente

O jornal suíço Tagblatt publicou um artigo para discutir o novo ensaio do filósofo alemão Jürgen Habermas, publicado originalmente no jornal alemão Süddeutsche Zeitung.

No texto, Habermas, aos 95 anos, analisa a atual reconfiguração geopolítica mundial, que ele descreve como uma “ruptura epocal”, especialmente diante do possível retorno de Donald Trump à presidência dos EUA.

Para o filósofo, a aliança ocidental está em colapso, o que ameaça não só a Ucrânia, mas toda a Europa, que não pode mais contar com os Estados Unidos como potência estabilizadora. Habermas identifica uma mudança de sistema” nos EUA, onde o trumpismo aliado a figuras como Elon Musk e think tanks ultraconservadores está empurrando o país rumo a um modelo tecnocrático-autoritário, com o desmonte do Estado e o abandono do debate democrático.

No plano geopolítico, Habermas vê os EUA como uma superpotência em declínio, alinhando-se à também decadente Rússia contra uma China em ascensão. Nesse cenário, ele destaca a emergência das reivindicações geopolíticas de potências médias como o Brasil, a Índia, a África do Sul e a Arábia Saudita, que contribuem para o enfraquecimento da influência do Ocidente.

Habermas critica duramente a dependência da Europa em relação aos EUA e cobra uma postura mais autônoma da União Europeia, inclusive no campo militar. Embora defenda o rearmamento europeu diante da nova realidade, alerta contra excessos e propõe uma política comum de defesa que evite o predomínio militar da Alemanha sobre os vizinhos.

Por fim, embora reconheça que a ajuda militar à Ucrânia foi necessária, Habermas insiste na importância de manter aberta a via diplomática com a Rússi, ainda que ele próprio reconheça que Putin não tenha demonstrado interesse em negociar.

Fonte: tagblatt.ch, 25.03.2025Link externo (em alemão)

Café brasileiro deveria ser mais caro

O jornal suíço Blick, o de maior circulação na Suíça, publicou um artigo destacando o impacto do aumento do preço do café, um tema diretamente relacionado ao Brasil, maior produtor mundial da commodity.

A reportagem foca na torrefação Kolanda-Regina, localizada em Burgdorf, no cantão de Berna. O proprietário Reto Burri alerta que, para cobrir os custos de produção, o preço do quilo de café no varejo suíço deveria estar entre 20 e 30 francos. Segundo ele, desde novembro, o preço do café arábica na bolsa norte-americana quase dobrou, passando de cerca de 2,40 para mais de 4,30 dólares por libra.

Entre os fatores citados para essa alta estão as mudanças climáticas – como a escassez de chuvas no Brasil – o aumento da demanda global (especialmente na Ásia) e as incertezas geopolíticas, que têm elevado os preços nas bolsas de commodities desde a eleição de Donald Trump.

Burri, que comanda a torrefação desde 2018, destaca que não adota práticas como a adição de água durante o resfriamento do café, apesar de isso reduzir custos, por considerar que prejudica a qualidade do produto. Ele também defende um novo olhar dos consumidores: “O café é um item de luxo e deve ser apreciado com respeito”, afirmou.

O artigo do Blick mostra como decisões e condições climáticas no Brasil têm efeitos diretos sobre o mercado suíço, reforçando a interdependência global no comércio de alimentos.

Fonte: blick.ch, 25.03.2025Link externo (em alemão)

Cada vez mais suíços têm casa em Portugal

O jornal zuriquense Tagesanzeiger publicou um artigo que discute a expansão do mercado imobiliário em países como Portugal, Espanha e França impulsionada pela emigração suíça. Diante da realidade de que apenas 15% da população da Suíça pode comprar um imóvel em seu próprio país, cada vez mais suíços buscam propriedades no exterior como investimento, residência principal ou casa de férias, aproveitando o alto poder aquisitivo proporcionado pelo franco forte, salários elevados e aposentadorias generosas.

O artigo mostra que, com orçamentos entre 100 mil e 250 mil francos, é possível adquirir imóveis de boa qualidade à beira-mar na Espanha, opção impensável na Suíça. Especialistas destacam que essa tendência não é apenas motivada por razões econômicas, mas também pelo desejo de uma vida mais leve, em climas agradáveis, sobretudo após a pandemia.

Portugal, em especial, vem se destacando. Entre 2022 e 2023, o país registrou o maior aumento proporcional de emigrantes suíços na Europa (13,9%), refletindo uma nova atratividade como destino para aposentadoria ou mudança definitiva. A matéria destaca ainda que investidores, aposentados e famílias em transição compõem o novo perfil dos compradores, que visam desde renda com aluguel até uma futura residência permanente.

A reportagem mostra que a emigração suíça está impactando diretamente o aquecimento do mercado imobiliário estrangeiro, com destaque para regiões costeiras da Espanha e para o sul de França, onde suíços já representam uma parcela significativa dos compradores estrangeiros.

Fonte: tagesanzeiger.ch, 25.03.2025Link externo (em alemão)

Logotipos de empresas nas fachadas de edifícios
Os logotipos dos bancos suíços UBS e Credit Suisse ainda eram exibidos em vários edifícios em Genebra, na quarta-feira, 18 de dezembro de 2024. Keystone / Martial Trezzini

Moçambique: o maior caso de corrupção do CS?

O artigo publicado no portal suíço de jornalismo investigativo insideparadeplatz.ch aborda aquele que é considerado um dos maiores casos de corrupção envolvendo o extinto banco Credit Suisse (CS), à época, o segundo maior da Suíça. O foco é a responsabilização de executivos do banco no escândalo financeiro ligado a empréstimos fraudulentos concedidos a Moçambique, conhecido como o “Caso CS-Moçambique”.

Recentemente, Lara Warner, ex-chefe de risco e conformidade do CS, foi multada em 100 mil francos pelo Ministério suíço das Finanças por não ter reportado uma transferência suspeita de US$ 7,9 milhões à empresa Palomar Advisors, envolvida no escândalo. Warner não alertou o Depto. Federal de Combate à Lavagem de Dinheiro (MROSLink externo, na sigla em alemão), apesar de e-mails internos indicarem sinais claros de fraude. Ela agora recorre da multa no Tribunal Penal Federal, enquanto o Ministério Público suíço também a investiga.

O escândalo envolveu empréstimos ocultos feitos com aval do governo moçambicano para empresas-fantasma, resultando em desvio de centenas de milhões de dólares. Andrew Pearse, ex-banqueiro do CS em Londres e fundador da Palomar, admitiu ter recebido US$ 45 milhões em propinas. Ele foi condenado nos EUA, cooperou com as investigações e pagará multas e perdas patrimoniais.

Enquanto decisões judiciais já foram tomadas nos EUA, Reino Unido e Moçambique, a Suíça só agora começa a responsabilizar executivos do CS. O país africano ainda sofre duras consequências sociais e econômicas do escândalo, com dívidas impagáveis, instabilidade política, pobreza crescente e projetos de exploração de gás natural paralisados por conflitos armados na província de Cabo Delgado.

O artigo ressalta como a lentidão da justiça suíça contrasta com a atuação mais célere de outros países, e destaca o impacto duradouro do escândalo para Moçambique, onde a crise financeira se entrelaça com corrupção sistêmica, desastres naturais e violência armada.

Fonte: insideparadeplatz.ch, 24.03.2025Link externo (em alemão)

Historiador mostra o colonialismo suíço no Brasil

O jornal Badenertagblatt, do centro da Suíça, publicou um artigo destacando uma iniciativa do historiador suíço Hans Fässler, que organiza passeios urbanos para revelar o passado colonialista da Suíça, inclusive em cidades como Baden, mesmo o país nunca tendo possuído colônias oficialmente.

Durante uma caminhada guiada pela cidade, Fässler expôs como a Suíça participou ativamente de estruturas coloniais e racistas, por meio de figuras históricas como Alfred Escher e Getulius Kellersberger, além de empresas suíças como a BBC (Brown, Boveri & Cie), que atuaram em regiões colonizadas como Índia e Moçambique. Um dos exemplos mencionados foi a represa de Cabora Bassa, construída em Moçambique com envolvimento da BBC e da sueca ASEA (hoje ABB), que beneficiou diretamente o regime do apartheid na África do Sul.

Fässler também relembrou episódios de shows folclóricos racistas realizados em Baden entre 1858 e 1957, nos quais pessoas de outros continentes eram exibidas como atrações exóticas, o que servia para reforçar uma ideia de superioridade branca.

O passeio, parte da Semana de Ação contra o RacismoLink externo, causou impacto nos participantes, que expressaram surpresa e indignação com o apagamento desse passado na história oficial da cidade. Um morador de Baden resumiu o sentimento geral ao dizer: “É absurdo que um historiador de St. Gallen tenha que explicar a história de nossa cidade para nós.”

Fonte: badenertagblatt.ch, 23.03.2025Link externo (em alemão)

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Debate
Moderador: Domhnall O’Sullivan

Qual é o impacto das mídia sociais no debate democrático?

As redes sociais moldam o debate democrático, mas até que ponto garantem um espaço realmente livre? Com moderação flexível e algoritmos guiados pelo lucro, o discurso se polariza. Como isso afeta você?

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