Bolsonaro será preso?

O tema de destaque da semana nos jornais e revistas helvéticas: a Justiça brasileira julgará o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe após as eleições de 2022. E, dentre outros, um jornal regional tratou do passado colonial da Suíça.
De 22 a 28 de março de 2025, vasculhamos a imprensa suíça para dar uma visão geral das notícias mais importantes relacionadas ao Brasil, Portugal ou África lusófona.

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Bolsonaro deve ser julgado – por suposta tentativa de golpe
O artigo, publicado no canal de televisão e rádio SRF e também repercutido em diversas outras mídias suíças, destaca que o ex-presidente Jair Bolsonaro será julgado pela Suprema Corte do Brasil por suposta tentativa de impedir a posse do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após as eleições de 2022.
A Justiça encontrou provas suficientes de que Bolsonaro e aliados planejavam um golpe de Estado para mantê-lo no poder, o que culminou na invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília, em 8 de janeiro de 2023, por seus apoiadores.
Bolsonaro nega as acusações e alega perseguição política, afirmando que sempre defendeu manifestações pacíficas. No entanto, segundo a jornalista Sandra Weiss, embora ele não tenha participado diretamente de reuniões, há depoimentos e provas contra ele, incluindo o testemunho de seu ex-secretário Mauro Cesar Barbosa, que o incrimina diretamente.
Além de Bolsonaro, outros ex-integrantes de seu governo também serão julgados. Eles podem pegar até 12 anos de prisão e já não têm direito a recorrer da decisão da Suprema Corte. Bolsonaro, que já está inelegível até 2030, também enfrenta outros processos por corrupção e fraude, como o caso das joias sauditas e dos passaportes de vacinação falsificados.
Fonte: srf.ch, 27.03.2025Link externo (em alemão)
Jürgen Habermas: a desintegração do Ocidente
O jornal suíço Tagblatt publicou um artigo para discutir o novo ensaio do filósofo alemão Jürgen Habermas, publicado originalmente no jornal alemão Süddeutsche Zeitung.
No texto, Habermas, aos 95 anos, analisa a atual reconfiguração geopolítica mundial, que ele descreve como uma “ruptura epocal”, especialmente diante do possível retorno de Donald Trump à presidência dos EUA.
Para o filósofo, a aliança ocidental está em colapso, o que ameaça não só a Ucrânia, mas toda a Europa, que não pode mais contar com os Estados Unidos como potência estabilizadora. Habermas identifica uma “mudança de sistema” nos EUA, onde o trumpismo aliado a figuras como Elon Musk e think tanks ultraconservadores está empurrando o país rumo a um modelo tecnocrático-autoritário, com o desmonte do Estado e o abandono do debate democrático.
No plano geopolítico, Habermas vê os EUA como uma superpotência em declínio, alinhando-se à também decadente Rússia contra uma China em ascensão. Nesse cenário, ele destaca a emergência das reivindicações geopolíticas de potências médias como o Brasil, a Índia, a África do Sul e a Arábia Saudita, que contribuem para o enfraquecimento da influência do Ocidente.
Habermas critica duramente a dependência da Europa em relação aos EUA e cobra uma postura mais autônoma da União Europeia, inclusive no campo militar. Embora defenda o rearmamento europeu diante da nova realidade, alerta contra excessos e propõe uma política comum de defesa que evite o predomínio militar da Alemanha sobre os vizinhos.
Por fim, embora reconheça que a ajuda militar à Ucrânia foi necessária, Habermas insiste na importância de manter aberta a via diplomática com a Rússi, ainda que ele próprio reconheça que Putin não tenha demonstrado interesse em negociar.
Fonte: tagblatt.ch, 25.03.2025Link externo (em alemão)
Café brasileiro deveria ser mais caro
O jornal suíço Blick, o de maior circulação na Suíça, publicou um artigo destacando o impacto do aumento do preço do café, um tema diretamente relacionado ao Brasil, maior produtor mundial da commodity.
A reportagem foca na torrefação Kolanda-Regina, localizada em Burgdorf, no cantão de Berna. O proprietário Reto Burri alerta que, para cobrir os custos de produção, o preço do quilo de café no varejo suíço deveria estar entre 20 e 30 francos. Segundo ele, desde novembro, o preço do café arábica na bolsa norte-americana quase dobrou, passando de cerca de 2,40 para mais de 4,30 dólares por libra.
Entre os fatores citados para essa alta estão as mudanças climáticas – como a escassez de chuvas no Brasil – o aumento da demanda global (especialmente na Ásia) e as incertezas geopolíticas, que têm elevado os preços nas bolsas de commodities desde a eleição de Donald Trump.
Burri, que comanda a torrefação desde 2018, destaca que não adota práticas como a adição de água durante o resfriamento do café, apesar de isso reduzir custos, por considerar que prejudica a qualidade do produto. Ele também defende um novo olhar dos consumidores: “O café é um item de luxo e deve ser apreciado com respeito”, afirmou.
O artigo do Blick mostra como decisões e condições climáticas no Brasil têm efeitos diretos sobre o mercado suíço, reforçando a interdependência global no comércio de alimentos.
Fonte: blick.ch, 25.03.2025Link externo (em alemão)
Cada vez mais suíços têm casa em Portugal
O jornal zuriquense Tagesanzeiger publicou um artigo que discute a expansão do mercado imobiliário em países como Portugal, Espanha e França impulsionada pela emigração suíça. Diante da realidade de que apenas 15% da população da Suíça pode comprar um imóvel em seu próprio país, cada vez mais suíços buscam propriedades no exterior como investimento, residência principal ou casa de férias, aproveitando o alto poder aquisitivo proporcionado pelo franco forte, salários elevados e aposentadorias generosas.
O artigo mostra que, com orçamentos entre 100 mil e 250 mil francos, é possível adquirir imóveis de boa qualidade à beira-mar na Espanha, opção impensável na Suíça. Especialistas destacam que essa tendência não é apenas motivada por razões econômicas, mas também pelo desejo de uma vida mais leve, em climas agradáveis, sobretudo após a pandemia.
Portugal, em especial, vem se destacando. Entre 2022 e 2023, o país registrou o maior aumento proporcional de emigrantes suíços na Europa (13,9%), refletindo uma nova atratividade como destino para aposentadoria ou mudança definitiva. A matéria destaca ainda que investidores, aposentados e famílias em transição compõem o novo perfil dos compradores, que visam desde renda com aluguel até uma futura residência permanente.
A reportagem mostra que a emigração suíça está impactando diretamente o aquecimento do mercado imobiliário estrangeiro, com destaque para regiões costeiras da Espanha e para o sul de França, onde suíços já representam uma parcela significativa dos compradores estrangeiros.
Fonte: tagesanzeiger.ch, 25.03.2025Link externo (em alemão)

Moçambique: o maior caso de corrupção do CS?
O artigo publicado no portal suíço de jornalismo investigativo insideparadeplatz.ch aborda aquele que é considerado um dos maiores casos de corrupção envolvendo o extinto banco Credit Suisse (CS), à época, o segundo maior da Suíça. O foco é a responsabilização de executivos do banco no escândalo financeiro ligado a empréstimos fraudulentos concedidos a Moçambique, conhecido como o “Caso CS-Moçambique”.
Recentemente, Lara Warner, ex-chefe de risco e conformidade do CS, foi multada em 100 mil francos pelo Ministério suíço das Finanças por não ter reportado uma transferência suspeita de US$ 7,9 milhões à empresa Palomar Advisors, envolvida no escândalo. Warner não alertou o Depto. Federal de Combate à Lavagem de Dinheiro (MROSLink externo, na sigla em alemão), apesar de e-mails internos indicarem sinais claros de fraude. Ela agora recorre da multa no Tribunal Penal Federal, enquanto o Ministério Público suíço também a investiga.
O escândalo envolveu empréstimos ocultos feitos com aval do governo moçambicano para empresas-fantasma, resultando em desvio de centenas de milhões de dólares. Andrew Pearse, ex-banqueiro do CS em Londres e fundador da Palomar, admitiu ter recebido US$ 45 milhões em propinas. Ele foi condenado nos EUA, cooperou com as investigações e pagará multas e perdas patrimoniais.
Enquanto decisões judiciais já foram tomadas nos EUA, Reino Unido e Moçambique, a Suíça só agora começa a responsabilizar executivos do CS. O país africano ainda sofre duras consequências sociais e econômicas do escândalo, com dívidas impagáveis, instabilidade política, pobreza crescente e projetos de exploração de gás natural paralisados por conflitos armados na província de Cabo Delgado.
O artigo ressalta como a lentidão da justiça suíça contrasta com a atuação mais célere de outros países, e destaca o impacto duradouro do escândalo para Moçambique, onde a crise financeira se entrelaça com corrupção sistêmica, desastres naturais e violência armada.
Fonte: insideparadeplatz.ch, 24.03.2025Link externo (em alemão)
Historiador mostra o colonialismo suíço no Brasil
O jornal Badenertagblatt, do centro da Suíça, publicou um artigo destacando uma iniciativa do historiador suíço Hans Fässler, que organiza passeios urbanos para revelar o passado colonialista da Suíça, inclusive em cidades como Baden, mesmo o país nunca tendo possuído colônias oficialmente.
Durante uma caminhada guiada pela cidade, Fässler expôs como a Suíça participou ativamente de estruturas coloniais e racistas, por meio de figuras históricas como Alfred Escher e Getulius Kellersberger, além de empresas suíças como a BBC (Brown, Boveri & Cie), que atuaram em regiões colonizadas como Índia e Moçambique. Um dos exemplos mencionados foi a represa de Cabora Bassa, construída em Moçambique com envolvimento da BBC e da sueca ASEA (hoje ABB), que beneficiou diretamente o regime do apartheid na África do Sul.
Fässler também relembrou episódios de shows folclóricos racistas realizados em Baden entre 1858 e 1957, nos quais pessoas de outros continentes eram exibidas como atrações exóticas, o que servia para reforçar uma ideia de superioridade branca.
O passeio, parte da Semana de Ação contra o RacismoLink externo, causou impacto nos participantes, que expressaram surpresa e indignação com o apagamento desse passado na história oficial da cidade. Um morador de Baden resumiu o sentimento geral ao dizer: “É absurdo que um historiador de St. Gallen tenha que explicar a história de nossa cidade para nós.”
Fonte: badenertagblatt.ch, 23.03.2025Link externo (em alemão)
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Publicaremos nossa próxima revista da imprensa suíça em 4 de abril. Enquanto isso, tenha um bom fim de semana e boa leitura!
Até a próxima semana!

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