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A campanha mais cara de todos os tempos

Apesar de numerosos, os cartazes ocupam lugares reservados para esse fim. Keystone

A campanha para as eleições legislativas do próximo domingo custou muito dinheiro aos partidos e aos candidadatos. As estimativas são de pelo menos 50 milhões de francos suíços.

O que é novo é que esses custos tornaram-se um argumento político. Essa inflação preocupa os analistas da política suíça.

Só se vê retratos dos políticos por todos os lados. Nos espaços reservados nas ruas e nos jornais, todos interpelam os cidadãos para as eleições legislativas federais do próximo domingo, 21 de outubro. De Genebra ao Lado de Constância, de Basiléia a Chiasso, eles estão por toda a parte.

Os observadores da política suíça são unânimes: jamais se investiu tanto dinheiro em uma campanha eleitoral. As estimativas dos especialistas são de pelo menos 50 milhões de francos suíços mas eles próprios admitem que pode ser muito mais. Como não há lei sobre o financiamento dos partidos, o sistema é opaco e os números não passam de estimativas.

No entanto, só em anúncios de jornais e revistas foram gastos mais de 20 milhões de francos, segundo a agência Publicitas, gigante do setor. É um terço a mais do que na campanha eleitoral de 2003.

Também entrou muito dinheiro no caixa da SGA, empresa que detém praticamente o monopólio da gestão de cartazes em lugares lugares públicos, embora seus números sejam mantidos em sigilo.

A UDC lidera

O partido que lidera os gastou é, sem dúvida, a União Democrática do Centro (direita nacionalista). Seus candidatos dispõem dos maiores cartazes e de 40% da publicidade nos jornais e revistas.

Segundo o presidente da UDC, Ueli Maurer, o orçamento da campanha era de apenas 5 milhões de francos. Mesmo considerando esse dado oficial, a UDC está bem além do que anunciam os outros partidos.

O Partido Socialista (PS) anuncia orçamento de 1,2 milhão, o Partido Democrata Cristão (PDC, direita) 1,5 milhão e o Partido Radical Democrático (PRD, direita) 1,6 milhão. O Partido Verde é o mais modesto, com 70 mil francos, segundo o secretário geral Hubert Zurkinden.

Seções cantonas mais ricas

No entanto, o exemplo dos Verdes montra que o impacto publicitário nacional é relativo. De fato, o Partido Verde do cantão (estado) de Vaud tem um orçamento eleitoral de 200 mil francos.

Há exemplos similares em outros partidos. O Partido Socialista do cantão de Zurique investiu 900 mil francos, quase a mesma soma do PS national.

Em estudo feito em 2001, os cientistas políticos Andreas Ladner e Michael Brändle estimavam que os 120 partidos cantonais dispunham de um orçamento global de 27,7 milhões de francos durante um ano eleitoral. Esse montante certamente aumentou. Como os candidatos são eleitos pelos cantões (estados), o orçamento cantonal é mais determinante do que em escala nacional.

Aos orçamentos dos partidos, é preciso adicionar os investimentos dos próprios candidatos e de seus comitês de apoio. Aí então as estimativas são ainda mais difíceis mas poderiam situar-se em torno de 300 mil francos, ou seja, 3 mil francos por candidato.

Tema de campanha

“Mais interessante que os números em si, é o fato que os custos e a origem dos recursos tornaram-se um tema do embate eleitoral”, afirma o cientista político Oscar Mazzoleni.

Por exemplo, o Partido Socialista publicou que o orçamento da UDC nacional é de pelo menos 15 milhões de francos. O presidente da UDC, Ueli Maurer retrucou que os socialistas não sabem fazer contas.

O PS, que defende o financiamento público dos partidos, acrescenta que a UDC é patrocinada por doadores milionários, entre eles o ministro da Justiça e Polícia e líder do partido, Christopph Blocher. “É bobagem”, responde o porta-voz da UDC, Roman Jäggi. De acordo com ele, 90% das doações provêm de pequenas e médias empresas que querem manter Blocher no governo.

Uma tendência inquietante

O forte aumento dos custos da campanha preocupa Tiziano Balmelli, professor na Universidade de Fribourg e especialistas do financiamento dos partidos e das campanhas eleitorais. “As verbas estão cada vez mais desequilibradas; a pressão para encontrar doadores aumenta e é um perigo para a democracia”, afirma.

Freqüentemente pede-se mais transparência no financiamento de partidos e campanhas mas Balmelli não acredita muito. Ele lembra que em países como a Alemanha e os Estados Unidos existem escândalos ligados ao orçamento dos partidos, apesar de terem regulamentações rígidas.

Ele defende há vários anos uma limitação dos recursos financeiros. O parlamento do cantão de Vaud (oeste) adotou recentemente uma moção nesse sentido. Tiziano Balmelli, contudo, não tem ilusões com sua proposta: “não há lóbi para apoiar a limitação dos custos de campanha”, conclui.

swissinfo, Gerhard Lob

Na Suíça, os partidos não são financiados pelo Estado. Grande parte dos recursos provém dos membros e doadores.

Os maiores partidos de direita mantêm os nomes dos doadores em sigilo. “Se os nomes forem revelados, muitos doadores deixariam de pagar”, declara o porta-voz da UDC (direita nacionalista), Roman Jäggi.

Os partidos também são financiados pelos seus eleitos. A idéia é que eles devem sua eleição ao partido e devem devolver parte do que ganham pela presença nas sessões parlamentares, embora não tenham salário como parlamentares.

Por exemplo, os dois ministros socialistas do governo (o Executivo é remunerado) pagam “entre 15 a 20 mil francos por ano”, segundo o secretário geral do PS, Thomas Christen. A ministra da Economia, Doris Leuthard, paga ao Partido Democrata Cristão 12 mil francos por ano.

Os meios econômicos fazem doações aos partidos mas à pergunta quem doa quanto a quem, o silêncio é similar ao do sigilo bancário. Mas há algumas exceções. A seguradora Mobilière informa ter doado 10 mil francos suíços a cada um dos quatro partidos governamentais. A justificativa é reforças as instituições políticas suíças.

Manter o sistema de milícia na política suíça é o argumento do UBS, maior banco do país, e de outras grandes empresas que fazem doações aos partidos. Mas o banco não fornece números.

Economiasuíça, entidade representativa do empresariado, também mantém a discrição mas diz que o apoio aos partidos é marginal. “Nos organizamos por setor mas apoiamos os partidos de direita, sobretudo através de cursos de comunicação aos candidatos”, afirma o porta-vou Roberto Colonello.

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