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A herança de Sharon (QUANDO SHARON MORRER)

Sharon de 2001 quando visitava o Muro das Lamentações em Jerusalém. Keystone

Enquanto Israel decreta luto pelo falecimento de Ariel Sharon, um especialista suíço conta à swissinfo porque o líder será mais lembrado pelo confisco de terras do que como pacificador.

Ariel Sharon faleceu num hospital de Tel Aviv em….

Para o jornalista Arnold Hottinger, o legado de Ariel Sharon ficará mais marcado pela experiência militar do que pela encarnação posterior como pacificador.

Sharon chegou ao poder como oficial decorado do exército israelense e depois como um dos arquitetos do partido de direita Likud. Como ministro da Defesa, ele dirigiu a fracassada invasão do Líbano em 1982.

Sharon tornou-se primeiro-ministro em 2001, quando eclodiu a segunda intifada palestina. Quatro anos depois, ele reverteu seu apoio de longa data à política de assentamentos e, com ajuda de tropas israelenses, retirou os colonos do território de Gaza.

De acordo com Hottinger, Sharon rachou com o Likud há um ano para criar um novo partido centrista, o Kadima, cujo principal objetivo era encontrar um caminho de consenso nas negociações com os palestinos.

Como Ariel Sharon deve ser lembrado?

Arnold Hottinger: como alguém que teve uma visão que chegou a convencer algumas pessoas, mas que colocou muitas outras na oposição. Existem algumas delas – e eu estou pensando aqui nos partidários do Likud – que são mais extremistas do que ele o era e que são capazes de dizer que querem todo o território para Israel e não se importam com os palestinos. Porém existem outras – a maior parte dentro do Partido Trabalhista – que dizem não importar com o território, mas sim com a paz.

O novo partido de Ariel Sharon estava no meio dessas duas posições. Ele queria quanto mais território possível e tinha o objetivo de deixar os palestinos concentrados em áreas reduzidas, para que eles não ficassem no caminho. Essa posição tinha o apoio da maioria da população, que via em Sharon uma força política de credibilidade, no senso de que ele seria capaz de cumprir esse plano.

Mas agora está claro quem irá defender esse caminho do meio. Essa pessoa terá que ter a mesma credibilidade com os eleitores para chegar a um objetivo, uma certa estabilidade e o máximo possível de territórios para os israelenses. O caminho do meio – o máximo de território para Israel e o mínimo de espaço para os palestinos – foi uma das invenções e estratégias mais caracterizadas de Sharon.

Até que ponto a política de Sharon, em particular sua estratégia de negociação com os palestinos, modificou-se com o passar dos anos?

A.H.: Eu não acredito que Sharon tenha se modificado muito. No início, sua política era de amealhar o máximo possível de território. Quando ele criou seu novo partido, ele se distanciou da posição do Likud de “todos os territórios para nós” – uma atitude que não tem mais credibilidade to ponto de vista da política prática.

Sharon pensava no que os americanos iriam dizer se Israel tomasse todos os territórios e sobre as conseqüências humanitárias se os palestinos terminassem sem direitos às suas terras.

swissinfo: Como o sr. caracteriza a transformação de Sharon de um general para político?

A.H.: Ele foi um general, um combatente – sua autobiografia chama-se “The Fighter” (O Lutador). Porém, quando ele se transformou em político, ele foi inteligente o suficiente para ver que teria de atuar de uma forma diferente. Não é possível abrir seu caminho como um trator. É necessário manobrar, administrar diferentes opiniões, procurar o consenso. Porém seu principal objetivo era o mesmo: amealhar o máximo possível de territórios para Israel.

swissinfo: É justo dizer que ele quis entrar para a história e, nesse sentido, as negociações com os palestinos eram apenas um instrumento para isso?

A.H.: Não, eu não acredito nisso. Como um político e general, ele queria o máximo possível de território. Mas como um político, ele só poderia alcançar esse objetivo fazendo concessões aos palestinos. O problema é que a perda de território não é aceita pelos palestinos e continua sendo um impedimento para a paz. Sharon não era um pacifista, mas sim um coletor de terras.

Entrevista swissinfo: Ramsey Zarifeh

Arnold Hottinger foi jornalista e um dos mais conceituados especialistas suíços em questões do Oriente Médio.

Durante mais de meio século, Hottinger escreveu sobre a região, seus embates políticos e o povo. Ele ficou mais conhecido como correspondente para o Oriente Médio do jornal Neue Zürcher Zeitung.

Nascido em 1926, Arnold Hottinger está aposentado e vive em Madrid, Espanha.

26 de janeiro de 1928: Ariel Scheinermann nasce em um assentamento israelense na então Palestina Britânica.
1948: Sharon torna-se comandante das tropas da Brigada Alexandroni
1949: É promovido a comandante da companhia
1951: Vira oficial de inteligência.
1973: Contra as ordens, ele atravessa com tanques o Canal de Suez, o que acaba sendo a manobra vital para a derrota do exército egípcio. Sharon é eleito para a Knesset (Parlamento), mas um ano depois, cansado da vida política, renuncia.
1977-1981: ministro da Agricultura no governo de Menahem Begin.
1981: Indicado ministro da Defesa.
1982: Lidera a invasão ao sul do Líbano, condenada internacionalmente.
1983: Forçado a sair do cargo por ter falhado ao antecipar e prevenir os massacres de Sabra e Shatila.
2001: Sharon é eleito Primeiro-Ministro de Israel.
2005: Dá ordens para a retirada incondicional de Gaza. Em 21 de novembro de 2005, Ariel Sharon renuncia ao cargo de presidente do Likud e dissolve o parlamento para formar um novo partido de centro chamando Kadima (Avante).
December 2005: primeiro derrame.
January 2006: segundo derrame.
April: Ehud Olmert é eleito sucessor de Ariel Sharon.

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